Ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, está de olho no voto dos evangélicos

Ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, está de olho no voto dos evangélicos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:48

Para quem achou que o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), iria ficar quieto no canto dele, assistindo aos ataques que dissidentes do DEM lhe fizeram ao partir da legenda recentemente, uma notícia: o homem está com a corda toda, pilotando a política regional de seu bunker, na Zona Sul, onde se protege do mau olhado com uma coruja engaiolada logo na entrada do escritório. Em entrevista exclusiva a O DIA, o homem que já foi chamado de “Prefeito Maluquinho” deixa claro que está em plena articulação para as eleições de 2012. E está certo de que o jeito de consolidar um bloco de oposição para fazer frente à candidatura à reeleição do prefeito Eduardo Paes (um de seus ex-pupilos, aliás) e sair conquistando prefeituras pelo estado é unir seu partido ao PR de Garotinho – os dois já tiveram uma conversa “sobre conjuntura” – e, se tudo der certo, ao PSDB.

O DIA: Recentemente, três ex-aliados seus (Indio da Costa, Solange Amaral e Paulo Cerri) deixaram o DEM. O que aconteceu?

CESAR MAIA: – Nada. Acontece um movimento na margem — os economistas chamam de “marginal”, mas a palavra tem duplo sentido — de pessoas que sentem riscos futuros se ficarem na oposição e querem ficar no governo. Todos estiveram no poder 16 anos. [O grupo acompanhou Maia durante seus três mandatos e o de Luiz Paulo Conde, seu sucessor na Prefeitura do Rio, que também rompeu com ele, em 1999].

E por que foram feitos ataques ao senhor, descrito como centralizador?

Precisavam de justificativa.

Por que esses ataques só vieram agora?

Nós só perdemos eleição agora. [Maia e os três ex-aliados não foram eleitos em 2010].

O senhor hoje é presidente do diretório municipal do DEM do Rio, cargo que era ocupado por Paulo Cerri. Houve intervenção?

Não. Há um mês, ele disse: “Cesar, eu sou um político que tem uma base de votos em torno de 10 mil. Não vou conseguir me eleger num partido grande. Não vou poder continuar no DEM.” O Cerri era presidente do diretório municipal e eu, vice-presidente. Comuniquei ao Rodrigo [Maia, seu filho], que era presidente do partido, e depois ao José Agripino [Maia, seu primo, atual presidente do DEM]. Eu disse: o presidente está saindo, vou assumir. O José Agripino disse: “Vai lá e assume”. Depois, o Cerri entregou carta de demissão e de desfiliação.

O senhor se coloca como oposição ao prefeito Eduardo Paes, outro ex-aliado seu. Que críticas o senhor faz à sua administração?

Ele comete dois equívocos que vão lhe custar a eleição de 2012. Primeiro, persegue os servidores. São medidas generalizadas e sistemáticas. Está tirando benefícios, reduzindo gratificações mínimas e por aí vai. Estamos falando de 200 mil pessoas — ativas, inativas e pensionistas.

E o segundo “equívoco”?

Ele humilha os pobres. Você tem que ter uma política de lei e ordem, ninguém vai me ensinar isso. Fiz isso em todos os meus governos. Agora, não precisa humilhar a pessoa que tem um barraco que tem que ser retirado por razões de segurança, expor e desmoralizar uma criança chorando. Se pegar estatísticas do que nós fizemos na prefeitura e do que ele está fazendo, não está fazendo mais do que nós. Mas eu nunca humilhei ninguém.

O eleitor percebe isso?

Pergunta ao comércio, pergunta aos servidores. Eu estava numa conversa com o Garotinho na semana passada...

Conversa com Garotinho?

Estávamos conversando sobre conjuntura. Estávamos nós, a Clarissa [Garotinho, filha do ex-governador] e o Rodrigo. Eu perguntei: Garotinho, você sabe por que você teve essa votação na Zona Oeste, em locais onde eu fiz obras ‘barba, cabelo e bigode’? Ele disse que não. Eu sei. Eu sei porque, depois de cada eleição, eu faço pesquisa. Lá, os eleitores pensaram: “Eu preciso de um político que defenda minha família, que evite que meu filho entre nas drogas. Não quero que minha filha faça aborto.” São evangélicos, né?

O que isso quer dizer?

Quer dizer que os valores se sobrepoem às realizações pontuais. Não é um asfalto que vai dar o voto se, junto com esse asfalto, não vier alguém que ele diz “me representa, está comigo”. Ninguém vai tirar o asfalto no dia seguinte. O que o eleitor teme é que venha alguém que não corresponda a seus valores.

Então, o voto evangélico fez a diferença em 2010?

A força do voto evangélico foi a maior na cidade do Rio, na Baixada e em São Gonçalo.

Por isso essa aproximação com Garotinho?

Ninguém vai fechar nada a essa altura. Agora, quais os partidos que hoje fazem oposição no Estado do Rio ao PMDB? O PSDB, o DEM e o PR. Eles estão conversando. Há possibilidade de esses partidos neste município, naquele outro município, estarem juntos? Então, é um mapa onde você bota todos os municípios e cada um vai botando um alfinete. O PR e o DEM começaram esta conversa. Agora, vão ter uma conversa com o PSDB.

Quem concorreria a prefeito: Clarissa ou Rodrigo?

Eu não sei. Não botei termômetro ainda.

E o senhor?

Em política, não tem esse negócio de “não serei...”. Mas eu te digo o seguinte: toda eleição em que participei no Rio, tirando a de 2004, eu tive 20%. Eu devo vir candidato a prefeito com 20% dos votos na capital? Acho que não. Se eu tiver uma capacidade de transferência, que vá o Rodrigo ou um nome qualquer do DEM.  

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