Vestido de forma sóbria, um grupo de homossexuais vai participar da 4ª Parada da Diversidade de Bauru sem carregar os tradicionais adereços coloridos. Nas mãos, estarão panfletos religiosos que têm o objetivo de evangelizar os participantes do evento.
Eles formam a primeira comunidade religiosa gay da cidade. Organizam o que pode se transformar numa inovadora igreja aberta aos homens e mulheres homoafetivos, hoje discriminados por católicos e evangélicos conservadores. Não acreditamos que o homossexualismo seja pecado e afirmamos que a Bíblia não o condena, afirma o Missionário Junior, um dos líderes do grupo. A presença dos gays é o próximo paradigma a ser quebrado.
Ex-seminarista, Junior, 27 anos, tem uma história de 15 anos dedicados à Igreja Católica. A religiosidade foi despertada justamente porque, na adolescência, numa época em que confundia sua sexualidade com uma doença, chegou a acreditar que poderia ser curado na igreja. Depois, percebeu que não era nada disso. E descobriu a teologia inclusiva, um segmento em crescimento no mundo todo.
Agora, o missionário juntou seu projeto Presença de Deus à comunidade Deus é Mais, criada a partir de conversas entre amigos religiosos e gays. Eles se sentiam excluídos nas igrejas que frequentavam e começaram a se reunir para orar. Evangélico desde os 11 anos, Alexandre, 36, é o fundador da comunidade, ao lado do namorado, Renato, 22.
Frequentador de igrejas evangélicas tradicionais, Alexandre já sofreu bastante por se sentir pressionado a esconder sua condição. Quando estavam perto de descobrir que era gay, não voltava mais aos cultos e reuniões. Sempre fui meio quiabo, brinca, sobre essa fase. Na comunidade que criou, a liberdade de expressão é a maior conquista.
As reuniões são realizadas numa antiga loja, ainda a portas fechadas. Os interessados em frequentá-las precisam antes entrar em contato com os organizadores. A futura igreja deverá seguir os princípios pentecostais - crença na presença do Espírito Santo por meio de dons como o da cura, visões e línguas.
Alguns heterossexuais também frequentam o grupo, que tem a intenção de promover a restauração de vidas e prega relacionamentos sérios, distantes da promiscuidade, das bebidas e das drogas.
Antes, o preconceito era com as mulheres e com os negros. Esses tabus já foram quebrados. Agora, pela força do nome de Jesus, estaremos com espaço de refúgio para a comunidade LGBT e familiares, hoje excluídos pelas igrejas, reforça o missionário.
Segmento ganha destaque no Brasil Em São Paulo, a Igreja da Comunidade Metropolitana é uma das inclusivas. Fundada na década de 1960 nos EUA, hoje está em mais de 50 países. 10.000 é o número de panfletos evangelizadores que serão distribuídos na Parada, dia 28. Para quem quiser entrar em contato Para ter contato com o Pastor Júnior: [email protected] . O endereço eletrônico da comunidade Deus é Mais é o [email protected]
Evangélico sofreu rejeição ao contar sobre namoro Frequentador de uma igreja evangélica, Marcos, 30, fazia parte do ministério do louvor quando o líder descobriu que é homossexual. Então, começou a perseguição. Marcos percebeu que era mais cobrado a exigência em relação a ele era maior. Um dia, o líder perguntou sobre a aliança usada pelo fiel: Por que é igual a que o seu amigo usa?. Marcos falou a verdade: é porque o amigo, na verdade, era namorado. Então, ouviu as tradicionais reprimendas sobre o amor entre dois homens. Rebateu dizendo que era a sua vida. Chegou ao ponto de os outros integrantes do grupo serem orientados a não conversar mais com o casal. Antes disso, ele mesmo viveu a fase de rejeitar a sexualidade, até tomar consciência de que não cometia nenhum pecado.
O grande preconceito que o homossexual sofre é o dele mesmo, diz agora. Dono de voz que chama a atenção na hora das canções religiosas, Marcos acredita que muitos gays partem para uma vida sem muitas regras por causa da rejeição que sofrem na família, sociedade e nas igrejas. Conta que ele mesmo vivia situações erradas quando chegou à comunidade de orações.
Hoje, compartilha as fraquezas e as virtudes. É enfático ao dizer que o espaço que organizam é para a restauração de vidas. Nós nos identificamos com aqueles que sofrem a discriminação, afirma.
Aberta ao acaso, a Bíblia do grupo deu o fecho necessário para a noite de orações: A pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a mais importante de todas.
Por Pollyanna Mattos Com informações da Rede Bom dia
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