Haddad não é claro sobre aborto e ideologia de gênero, apesar de promessas a evangélicos

As incoerências podem ser encontradas ao comparar uma carta de Haddad aos evangélicos e seu próprio plano de governo.

Fonte: Guiame, com informações da Gazeta do PovoAtualizado: quinta-feira, 25 de outubro de 2018 às 16:09
Fernando Haddad participou de um evento com evangélicos no dia 17 de outubro. (Foto: Fernando Bizerra Jr./EPA)
Fernando Haddad participou de um evento com evangélicos no dia 17 de outubro. (Foto: Fernando Bizerra Jr./EPA)

Uma disparidade entre a chamada “Carta Aberta ao Povo de Deus”, assinada por Fernando Haddad (PT), e o seu próprio plano de governo pode fragilizar a tentativa do candidato em se aproximar do eleitorado evangélico, que tem sido considerado decisivo no segundo turno das eleições.

As incoerências estão relacionadas a questões como “Kit Gay”, ideologia de gênero e legalização do aborto.

No comunicado aos evangélicos, Haddad acusa seus adversários de semearem “mentiras entre o povo cristão contra candidatos do PT”. O petista não mentiu em sua carta, mas omitiu questões importantes da atuação do PT nos 13 anos em que ficou à frente do governo federal.

Aos evangélicos, Haddad afirma que “nenhum dos nossos governos encaminhou ao Congresso leis inexistentes pelas quais nos atacam: a legalização do aborto, o kit gay, a taxação de templos, a proibição de culto público, a escolha de sexo pelas crianças e outras propostas, pelas quais nos acusam desde 1989, nunca foram efetivadas em tantos anos de governo. Também não constam de meu programa de governo”.

No entanto, seu plano de governo deixa uma grande abertura para que compromissos feitos anteriormente pelo PT fossem cumpridos em caso de uma vitória do petista nas urnas e consequente posse de mandato.

Confira as brechas no plano de governo de Fernando Haddad para implantação do Kit Gay e ideologia de gênero, legalização do aborto e das drogas:

Ideologia de gênero e Kit Gay

Ideologia de gênero e Kit GayApesar da declaração dada por Haddad (acima) de que tais propostas não estão em seu plano de governo, a abertura para a instalação delas é citada em três momentos diferentes do documento.

Inicialmente, no quarto parágrafo do item 2.1, o plano fala em “uma perspectiva inclusiva, não-sexista, não-racista e sem discriminação e violência contra LGBTI+ na educação e demais políticas públicas”.

Já o item 2.4 é inteiramente dedicado a “promover a cidadania LGBTI+” e afirma que “fortalecerá o Sistema Nacional LGBTI+ e instituirá a Rede de Enfrentamento à Violência contra LGBTI+, articulando órgãos federais, estaduais e municipais para que implementem políticas de combate à discriminação em função da orientação sexual e identidade de gênero. O governo vai investir na saúde integral LGBTI+ e implementará programas e ações de educação para a diversidade, enfrentamento ao ‘bullying’ e reversão da evasão escolar”.

Por fim, no item 3.1, o plano fala em se “contrapor ao projeto Escola Sem Partido” — que visa combater a doutrinação ideológica nas instituições de ensino — e que “serão massificadas políticas de educação e cultura em Direitos Humanos, a partir de uma perspectiva não-sexista, não-racista e não-LGBTIfóbica".

A proposta aparenta promover respeito à diversidade, porém deixa em aberto se Haddad irá ou não cumprir o compromisso firmado por ele na 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, ocorrida entre 24 e 27 de abril de 2016, em Brasília.

O encontro concluiu que a identidade de gênero seria “uma experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos e outros)".

Entre as propostas aprovadas pela conferência está a inclusão da “perspectiva da diversidade sexual, de gênero e de identidade de gênero” nas diretrizes do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) através de equipes multidisciplinares, incluindo obras científicas, literárias, filmes e outros materiais “que contribuam para a promoção do respeito e do reconhecimento da diversidade de orientação sexual e identidade de gênero para os públicos infanto-juvenil e adulto”.

Legalização do aborto

Quanto à legalização do aborto, Haddad também deixou seu plano de governo neutro.

No quarto parágrafo do item 2.1 (“Promover Políticas para as Mulheres Visando a Igualdade de Gênero”), o candidato destaca: “Fundado no princípio constitucional da laicidade do Estado, promoveremos a saúde integral da mulher para o pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos e fortalecerá uma perspectiva inclusiva, não-sexista, não-racista e sem discriminação e violência contra LGBTI+ na educação e demais políticas públicas”.

A forma como a proposta foi descrita deixa em aberto uma questão: o que o candidato considera como “pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos” da mulher e por que exatamente ele seria garantido pela laicidade do Estado?

Fato curioso é que, em agosto deste ano, o Conselho Federal de Psicologia usou este mesmo termo para justificar seu apoio ao aborto em uma campanha lançada nas redes sociais.

"O Conselho Federal de Psicologia (CFP) se posiciona a favor da descriminalização e legalização do aborto no Brasil, pois entende que a defesa dos Direitos Sexuais e Reprodutivos das mulheres faz parte da defesa dos seus Direitos Humanos. A autonomia das mulheres sobre seus corpos deve ser ampliada para que as mesmas tenham condições de decidir ou não interromper uma gravidez", diz parte do texto publicado pela organização na época.

Efeito nas pesquisas

A tentativa do candidato à presidência Fernando Haddad (PT) em se aproximar do eleitorado evangélico parece não ter consistência, apesar de se tornar cada vez mais frequente nesta reta final do segundo turno.

Sua participação em um evento com líderes evangélicos, gerando uma resposta contrária das denominações; a polêmica com uma Bíblia que ele ganhou de um militante e depois foi achada no chão de uma praça, em Fortaleza; e a citação de uma frase atribuída equivocadamente à Bíblia no programa Roda Viva, só fragilizaram sua relação com os cristãos.

Enquanto as incertezas pairam no ar, a popularidade de Haddad entre evangélicos parece não ser tão satisfatória para o petista. Segundo pesquisa recente do instituto Datafolha, 29% dos evangélicos declaram voto no petista, enquanto 71% apoiam o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Já o Ibope tem mostrado que Bolsonaro tem 57% das intenções de voto, enquanto Haddad tem 43%.

 

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