A Igreja e a Crise na Síria - por Asaph Borba

A Igreja e a Crise na Síria - por Asaph Borba

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:05
SíriaO dia estava escaldante quando nosso carro chegou na Síria, vindo de Amam, Jordânia. A highway larga e asfaltada que entra na cidade, foi construída no imenso vale que liga, desde a antiguidade, Jerusalém a Damasco, a qual é uma das cidades mais antigas do mundo, e um dos berços bíblicos do cristianismo primitivo, e hoje, capital da Síria . Em nossa visita passamos junto ao muro da cidade antiga por onde Paulo de Tarso foi retirado dentro de um cesto, pelos irmãos locais,  fugindo da turba que o queria matar. Nesta viagem estavam comigo o pastor americano Mike Herron, meu companheiro do Brasil, pastor e médico Gerson Ortega e o músico jordaniano Amer Matalka. Nosso objetivo era claro e excitante: realizar o primeiro encontro de adoradores na Síria. Algumas surpresas, porém, nos aguardavam naquela semana de verão. A primeira foi conhecer o grande número de cristãos existentes na antiga nação. Apesar de ser um país islâmico, segundo dados oficiais, cerca de 10% da população de 22,2 milhões de habitantes professam a fé de Cristo. Desses, cerca de 10% são evangélicos, distribuídos nas diversas cidades e nos campos de refugiados iraquianos, que invadiram o país depois das guerras do golfo em 1990 e em 2003. A segunda surpresa foi ver que estes cristãos, assim como no Iraque, convivem bem com a maioria islâmica e têm proteção do governo, apesar deste exercer um estrito controle sobre os irmãos, o que visa mais segurança do que propriamente repressão ou perseguição.
 
Naquela semana mergulhamos na realidade da Igreja Síria e conhecemos também um pouco da vida política e social local. O encontro, realizado no Vale dos Nazarenos, situado ao noroeste do país, um tradicional reduto Cristão, nos surpreendeu. Os irmãos, que a princípio estavam um tanto reticentes por não nos conhecerem, o que é normal no mundo árabe, nos acolheram com muito amor e alegria. Para minha surpresa, naquele antigo vale a bebida tradicional é o chimarrão, feito da erva mate trazida da Argentina no início do século passado por crentes sírios que recolonizaram a região. O encontro reuniu as principais lideranças evangélicas e a grande maioria de músicos oriundos das igrejas sírias. Teve participação também de irmãos vindos do Egito, Líbano, Turquia, Jordânia e muitos Iraquianos. Até um casal da distante Dubai se fez presente. A música, a devoção, o quebrantamento e a busca pela presença de Deus marcaram aqueles dias. A adoração e a alegria tornaram para todos aquele tempo inesquecível. 
 
Quando começaram as rebeliões contra o governo Sírio do presidente Assad, no segundo semestre de 2011, o mundo aplaudiu. Entretanto, para quem conhece a realidade da região as ações trouxeram preocupações, principalmente em função da Igreja. A mídia internacional, vinculou o movimento aos clamores pró democracia da então chamada Primavera Árabe, iniciada na Tunísia em 2010, que teve seu ponto alto com a queda do presidente Mubarak no Egito em 2011. Porém esta “primavera”, logo mostrou-se ser um longo “inverno”, pois trouxe sérios problemas para os cristãos. Em todos os países em que a pseudo abertura instalou-se, a cristandade entrou em colapso.  Segundo reportagem recente da BBC de Londres  (http://www.bbc.co.uk/news/world-middle-east-19064703) existem constantes ataques tanto a indivíduos quanto às igrejas, desde que as manifestações iniciaram em 2011. De acordo com contatos que mantenho com irmãos dentro do país, a situação é insustentável,  o que também declara o Senador americano Rand Paul, que tem conclamado a opinião pública americana para este fato: “ O presidente Bishar AL Assad, até então protegeu a minoria cristã, já os rebeldes, mesmo sem ainda estar no poder os perseguem e matam. Acredito que  se estes ganharem, será muito ruim para a Igreja” declarou o político, em seu pronunciamento no dia 9 de setembro de 2013. (http://www.persecution.org/2013/09/03/senator-paul-we-should-be-concerned-about-protecting-christians-in-syria/ )
 
Com o passar dos dias e com a análise realista dos fatos, ve-se que tudo não passa na verdade de uma tentativa radical de islamização  das nações árabes, orquestrada pela ala ortodoxa muçulmana, que dita de dentro das mesquitas, em todo o Oriente Médio, nada mais do que um retorno à lei islâmica conhecida como Sharia. As potências atraídas com a possibilidade de uma abertura na região, a princípio apoiaram os movimentos, mas, ao verem as barbáries e mentiras por detrás dos acontecimentos, foram ficando com um pé atrás.
 
Na Síria, entretanto, a situação é diferente de outros países da região, pois os perigos se ampliam. Em primeiro lugar, qualquer radicalização vai atingir diretamente esta população cristã, que mantém a fé, desde os tempos de Barnabé Paulo. Em segundo lugar, qualquer ação militar pode ser um estopim que envolva outras nações como Egito, Jordânia, Líbano, Turquia e Irã. Algumas delas, como Irã, Líbano e Egito, poderão aproveitar-se da oportunidade para se voltarem contra Israel, que já sofre internamente com o dilema Palestino. A Síria por outro lado conta ostensivamente com o apoio irrestrito da Rússia que já declarou  que fará frente a qualquer ataque a seu aliado árabe.
 
O que temos que fazer como igreja, é manter a oração pela Síria e toda a região do Oriente Médio. Não é pequena a visão Bíblica e profética, sobre fatos e acontecimentos nesta área onde a fé nasceu, e muitos desses, ainda estão por se cumprir. Acredito que, com o enfraquecimento sociológico e diminuição da influência do islã sobre a população muçulmana, o que sem dúvida é fruto da globalização e do acesso da mesma à informação, os radicais muçulmanos estão jogando suas últimas cartas para tomar o poder político, e mostram assim com clareza seus objetivos satânicos de arrasar com a Igreja na região. Assim aconteceu também no Iraque, infelizmente com a ajuda militar americana e seus aliados. Dos 1,3 milhões de cristãos existentes outrora naquele país restaram apenas não mais de 150 mil, que pagam um alto preço para continuar vivendo ali.
 
Lembro com carinho que no final do congresso na Síria, voltamos à Damasco. Fomos então visitar a famosa Rua Direita, no centro do bairro cristão da cidade antiga. Nos levaram ao lugar chamado casa de Ananias, um dos mais tradicionais santuários de oração da cristandade. A tradição conta que ali, viveu este que foi o primeiro patriarca de Damasco, responsável pelo batismo e primeiros passos de Paulo de Tarso. Bem na frente da casa estava estampado um lindo cartaz que anunciava nosso encontro de adoração, que tinha acabado no dia anterior. Mas ficamos maravilhados, pois, nem em nossos sonhos mais ousados acerca do ministério, podíamos pensar em ter um dia, nosso nome e foto estampados em um cartaz na Rua Direita, em Damasco, nossa querida Síria.
 
Além de orar, temos que manter como igreja, uma mobilização pela Síria,  para que governos e ONU, reconheçam a importância dessa população cristã e de seu eminente perigo. Assim como faz o Senador Rand Paul, que influencia ao seu governo a buscar soluções pacíficas e não bélicas, devemos nós também fazer no Brasil mostrando às autoridades realidade de nossos irmãos.
 
 
- Asaph Borba
 

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