Igreja evangélica brasileira ainda não possui o mesmo prestígio da católica, aponta jornal inglês

Igreja evangélica brasileira ainda não possui o mesmo prestígio da católica, aponta jornal inglês

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:29

Um dos mais conceituados jornais ingleses, o The Guardian, publicou na última terça-feira, dia 29 de setembro, uma matéria sobre o crescimento dos evangélicos no Brasil. A matéria faz uma comparação entre católicos e a nova onda de denominações pentecostais, como a Igreja Bola de Neve, assim como às igrejas evangélicas tradicionais.

"O catolicismo está lutando contra o pentecostalismo antigo bem como com as novas variedades", disse Antonio Flávio Pierucci, especialista da USP em sociologia da religião.  

Para ele, as igrejas evangélicas não possuem o mesmo status que o catolicismo, mesmo que estejam em expansão, como aponta dados do IBGE do ano 2000 (de 5,2 para 15,6% em três décadas).

"É raro encontrar um estudante que seja corajoso o suficiente para dizer que é um novo pentecostal. Há ainda um certo preconceito. Isso não é somente sobre a classe social, mas sobre o status do novo pentecostalismo. Esta religião ainda não tem muito prestígio", afirmou Pierucci

Confira a matéria traduzida do The Guardian:

Conversão evangélica no Brasil

Novas igrejas brasileiras estão crescendo. Mas, apesar de todos os conhecimentos de marketing, elas ainda não têm o status do catolicismo.

Há um provérbio popular no Brasil: Deus é brasileiro, e a terra é abençoada. Ninguém sabe, obviamente, se Deus realmente é brasileiro, mas não há dúvida sobre sua popularidade no país. Nos últimos 10 anos, os brasileiros têm encontrado diferentes formas de se comunicar com Ele.

Shows de rock, eventos de luta e rituais de surfe são algumas das atividades das novas igrejas responsáveis pelo crescimento do número de fieis. Há pouco mais de 20 anos citado como o maior país católico do mundo, o Brasil tem testemunhado uma migração de Roma para a expansão das igrejas evangélicas.    

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a população católica no país em 1970 era de 91,8%. Mas recente pesquisa realizada em 2000, mostoru que o número de católicos caiu para 73%. De 5,2%, o número de evangélicos subiu para 15,6%.

As igrejas evangélicas existem em torno de todo espectro do protestantismo: a partir das antigas igrejas Luterana, Presbiteriana e Batista até as pentecostais como Assembleia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular e até mesmo as que foram criadas no Brasil, como a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça e Renascer em Cristo. 

Segundo Antonio Flávio Pierucci, professor do departamento de sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em sociologia da religião, uma das razões para a mudança dos fieis é o desenvolvimento da liberdade religiosa, um processo que começou no final do século 19. Com o término do Império e advento da República no Brasil, a Igreja Católica Romana perdeu muito do seu poder. O período militar ditatorial (1964-1984) também ajudou a semear as sementes para o boom evangélico.

Mas se a proliferação das igrejas nas grandes cidades brasileiras é uma prova do crescimento evangélico, relatórios reforçam a impressão de que eles estão crescendo. Para Pierucci, "analisar os dados estatísticos mostram que as igrejas evangélicas conservadoras têm crescido também. Isso significa que o catolicismo está lutando contra o pentecostalismo antigo bem como com as novas variedades".

Esse boom evangélico, na realidade, é reflexo da Igreja Universal do Reino de Deus, uma das maiores  igrejas evangélicas do país e também proprietária da TV Record, um dos mais importantes canais de TV do país. Outra evidência da força desses movimentos são os eventos como a Marcha para Jesus, em que cerca de 3 milhões de evangélicos de todo Brasil se reúnem anualmente para caminhar pelas ruas de São Paulo.

Mesmo a política nacional começou a sentir a influência desses novos grupos. Entre 513 membros do parlamento, 40 pertencem a uma a bancada evangélica, um grupo de políticos de diferentes partidos que visa defender os interesses dos evangélicos.

Embora o poder dessa nova religião tenha crescido, o catolicismo não perdeu totalmente o seu status privilegiado. "Desde que o catolicismo abrangeu mais de 90% da população brasileira seria impossível crescer sem converter católicos". Mas é importante salientar que a maioria dos novos evangélicos convertidos são de classes sociais mais baixas, o que significa que o catolicismo ainda é uma religião da elite.  

Entretanto, Pierucci também argumenta que o potencial dos pentecostais para aumentar a sua influência entre a classe média, está intrinsicamente ligado às suas estratégias de crescimento. As novas igrejas pentecostais, em particular, são mais agressivas em atrair novos seguidores e angariar fundos.

A Igreja Bola de Neve, por exemplo, uma congregação focada no mercado de jovens, utiliza como novidade uma prancha de surfe no lugar do altar. Mas para Pierucci, esse tipo de estratégia é auto-destrutiva. "Em pouco tempo, os líderes das igrejas ficarão velhos, carecas e barrigudos. Aí será difícil manter a igreja centrada nos valores da juventude".

Para ele, esta igreja apenas expressa valores da juventude em termos. "Eles sabem que o jovem tem necessidade de um lugar para se reunir.  A ideia de pertencimento é importante: não basta pertencer a Jesus, mas a um Jesus especial, a 'um Jesus da minha igreja'". Mas ele explica que os relatórios que relacionam as igrejas evangélicas às atividades criminais retratan um país que ainda é preconceituoso. "Atualmente, na USP, há uma tolerância de mentalidade. Então, você pode dizer que é católico, judeu, muçulmano, ou mesmo seguidor do Candomblé ou Umbanda (religiões áfro que tem um número grande de adeptos nas universidades). Mas na realidade, é raro encontrar um estudante que seja corajoso o suficiente para dizer que é um novo pentecostal. Há ainda um certo preconceito. Isso não é somente sobre a classe social, mas sobre o status do novo pentecostalismo. Esta religião ainda não tem muito prestígio".

Postado por: Felipe Pinheiro

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