Igrejas aderem às artes marciais para atrair fiéis

Igrejas aderem às artes marciais para atrair fiéis

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:27

O pastor John Renken, 37, conduziu um grupo de rapazes nas orações no salão dos fundos de um teatro, recentemente. "Senhor, nós o agradecemos por esta noite", disse. "Rezamos para ser uma representação de vós."

Uma hora depois, um membro do grupo que tinha abaixado a cabeça durante as orações estava golpeando um adversário, e Renken oferecia conselhos não exatamente religiosos. "Socos duros", ele gritava em um evento de artes marciais chamado Ataque na Jaula. "Acabe com isso! Na cabeça! Na cabeça!"

O rapaz era membro de uma equipe de luta da Xtreme Ministries, igreja pequena nos arredores de Nashville que, além de local de oração, é academia de artes marciais mistas. Renken, que fundou a igreja e a academia, faz as vezes também de treinador da equipe de luta. O lema da academia é: "Onde pés, punhos e fé se encontram".

A igreja de Renken faz parte de um número pequeno, mas crescente de igrejas evangélicas que vêm aderindo às artes marciais mistas -esporte que tem fama de envolver sangue e violência e que combina kickboxing, luta livre e outros estilos de luta-, visando atrair e converter homens jovens, faixa da população cuja participação em igrejas sempre foi baixa.

Os esforços para recrutar novos convertidos nas igrejas, cujos fiéis são em sua maioria brancos, envolvem festas nas quais se assistem a lutas na TV e séries de palestras que empregam o "ultimate fighting", ou vale-tudo, para explicar que Cristo lutou para defender suas crenças. Outras igrejas vão mais longe, promovendo ou participando em eventos de luta ao vivo.

Os pastores dessas igrejas dizem que o objetivo é injetar hombridade em seu trabalho pastoral -e na imagem de Jesus-, na esperança de tornar o cristianismo mais atraente. "Concordamos com a compaixão, o amor e tudo isso", explicou Brandon Beals, 37, pastor que chefia a Igreja Canyon Creek, nos arredores de Seattle. "Mas o que me levou a encontrar Cristo foi Jesus, o lutador."

O esforço para atrair novos fiéis faz parte de uma tentativa maior feita por alguns pastores, que pensam que suas igrejas ficaram femininas demais, promovendo a bondade e a compaixão às expensas da força e da responsabilidade.

"O homem deve ser o líder da casa e da família", disse Ryan Dobson, 39, pastor e fã das artes marciais mistas. "Criamos uma geração de garotinhos."

Pastores como ele dizem que o casamento da fé com a luta visa promover os valores cristãos. Como exemplo, citam versículos como "combata o bom combate da fé" (Timóteo 6:12). Alguns deles avaliam o número de igrejas que aderem às artes marciais mistas em aproximadamente 700, de um total estimado de 115 mil igrejas evangélicas brancas nos EUA.

O uso da luta como metáfora encontrou ressonância entre alguns homens jovens. "Estou lutando para dar uma qualidade de vida melhor à minha família e supri-la de todas as coisas que eu não tive", disse Mike Thompson, 32, ex-membro de gangue e hoje aluno de Renken. "Depois de aceitar Cristo em minha vida, entendi que uma pessoa pode lutar pelo bem."

Mas as artes marciais mistas têm seus críticos, mesmo entre as seitas mais experimentais. "Aquilo que você usa para atrair as pessoas a Cristo é também o que você precisa para fazê-las permanecerem", ponderou Eugene Cho, 39, pastor da congregação evangélica Igreja da Busca, em Seattle. "Eu não vivo por um Jesus que toma cerveja e espanca outros homens."

Já Paul Burress, 35, capelão e treinador de lutadores na Igreja Batista Victory, em Rochester, Nova York, disse que as artes marciais proporcionaram a seus alunos a oportunidade de burilar corpo, alma e espírito. "Ganhando ou perdendo, representamos Jesus", disse. "E geralmente ganhamos."

Numa noite recente em Memphis, Renken, o pastor da Xtreme Ministries, viu 2 de seus 3 lutadores serem derrotados. Um saiu da luta com o tornozelo fraturado.

Ainda outro, Jesse Johnson, 20, foi dominado num golpe de estrangulamento e, depois de sua participação, decidiu não voltar para casa com os outros membros da igreja. Ficou em Memphis, bebendo e farreando com amigos numa rua repleta de bares na cidade.

Postado por: Felipe Pinheiro

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