“Jesus não celebrou a Páscoa com ovos e coelhos”, lembra rabino sobre a data

De acordo com os estudiosos Mario Moreno e Matheus Zandona, os cristãos deveriam comemorar a Páscoa com um jantar em família, como na Igreja Primitiva.

Fonte: GuiameAtualizado: quarta-feira, 5 de abril de 2023 às 13:30
Judeus comemoram o Pessach. (Foto representativa: Unsplash/Christopher Paul High)
Judeus comemoram o Pessach. (Foto representativa: Unsplash/Christopher Paul High)

O Pessach, que é a Páscoa judaica, começa nesta quarta-feira (5) e vai até o dia 13 de abril. E quais os pontos de conexão entre a celebração judaica e a cristã? Os rabinos messiânicos Mário Moreno e Matheus Zandona respondem.

De acordo com o rabino Mário Moreno, em entrevista ao Guiame, a “Páscoa” (palavra que vem do hebraico Pessach) significa “passar por cima” ou passagem. 

A Páscoa, no Antigo Testamento, era uma festa de comemoração pela passagem do povo de Israel do Egito à Terra Prometida ou ainda da escravidão para a liberdade.

No Novo Testamento, a Páscoa foi ressignificada através da passagem de Jesus Cristo nesta terra, vindo como o Salvador do mundo. Isso não anula a antiga Páscoa dos judeus, mas passa a ter um novo sentido para aqueles que abraçam Jesus como o Messias. 

Conexão entre Judaísmo e Cristianismo

Desde o Antigo até o Novo Testamento, há uma figura que faz conexão entre as duas religiões: o cordeiro”, lembra o rabino.

“A primeira celebração da Páscoa ocorreu há 3.500 anos, quando cada família hebraica sacrificou um cordeiro e molhou os umbrais das portas com o sangue do animal, para que seus primogênitos não fossem mortos pela décima praga enviada ao Egito”, explicou.

“Já no Novo Testamento, Jesus deu um novo significado à refeição pascal durante a Última Ceia. Ele identificou o pão como sendo seu corpo, que logo seria sacrificado, e o vinho como sendo seu sangue, que seria derramado na cruz. Cristo se tornou o sacrifício do cordeiro pascal”, continuou.

O rabino resume que “o cordeiro é uma figura de redenção desde o pecado original até a redenção de Cristo”.

“Yeshua tinha a necessidade de morrer como um cordeiro para que Ele pudesse trazer redenção para a humanidade, porque sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados”, acrescentou.

E a Páscoa com coelhos e ovos?

De acordo com Moreno, no primeiro século, a igreja primitiva comemorava a Páscoa judaica, pois a maioria de seus membros eram judeus. Evidências de mudanças simbólicas na celebração começam a aparecer na metade do século II.

Depois que a Páscoa foi instituída pela Igreja Católica durante o Concílio de Nicéia, em 325 d.C., o cristianismo apropriou-se de inúmeras tradições de povos pagãos. A festa cristã era realizada na mesma época que os povos germânicos e celtas prestavam culto à deusa germânica Eostern, também chamada de Ostara.

Veja a entrevista completa:

Então, as comemorações acabaram se misturando. Um dos elementos atribuídos por estes povos são os ovos e o coelho, vistos como símbolos de fertilidade.

“A partir disso, nós temos essa conexão — que é maligna — onde se faz ovos e coelhos de chocolate para simbolizar Pessach, que é algo totalmente diferente daquilo que a Páscoa judaica propõe”, disse.

“Em Pessach não temos doces, mas sim ervas amargas para remeter ao cativeiro e tudo o que o povo de Israel passou. O paganismo entra para quebrar essa visão de que o povo de Israel sofreu para sair do cativeiro”, esclareceu o rabino.

Moreno acredita que a interpretação equivocada das igrejas evangélicas sobre a Páscoa bíblica deve-se ao afastamento do teólogo Martinho Lutero dos simbolismos judaicos, que se perpetuou após a Reforma Protestante.

Como os cristãos devem comemorar a Páscoa?

De acordo com o professor Matheus Zandona, judeu messiânico e vice-presidente do Ministério Ensinando de Sião, judeus e não-judeus devem celebrar a Páscoa como um memorial estabelecido por Deus, conforme 1 Coríntios 5.8.

Yeshua não apenas é morto na Páscoa, mas ele simboliza o próprio cordeiro pascal que tira o pecado do mundo e cujo sangue nos liberta, nos resgata da escravidão do pecado e nos sela como Seus filhos”, afirma Zandona.

“Não se pode entender a obra da cruz sem o conhecimento dessa que é a mais simbólica das Festas de Deus. Páscoa fala de nossa libertação para servirmos a Deus”, ele resumiu.

Segundo o livro de Êxodo, a Páscoa deveria ser celebrada com um jantar familiar, onde um cordeiro seria assado e comido por todos: “No jantar também deveria ter pão asmo (ou sem fermento) e ervas amargas”. 

“O pão sem fermento nos ajuda a lembrar que na noite da Páscoa no Egito, comemos às pressas e o pão não teve tempo de fermentar. As ervas amargas nos lembram de como nossa vida era amarga quando éramos escravos de Faraó”, especificou. 

“Os cristãos de hoje deveriam seguir o exemplo dos primeiros cristãos, realizando em suas igrejas e em suas famílias um jantar festivo, para lembrar que Yeshua nos resgatou com mão forte das garras do inimigo e da escravidão do pecado”, acrescentou.

“Ele nos fez nova criatura sem o fermento do pecado. Deveríamos todos celebrar neste dia como o sangue do Messias foi derramado por nós, nos marcando e nos consagrando a Deus”, concluiu. 

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