"A Jihads surgem em casa", afirma Asaph Borba

"A Jihads surgem em casa", afirma Asaph Borba

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:05
"A Jihads surgem em casa", afirma Asaph BorbaNa última sexta-feira, 30/08, Asaph Borba publicou um texto por meio do site Lagoinha.com (Igreja Batista da Lagoinha), no qual falou sobre conflitos religiosos em seus diversos níveis.
 
Segundo o ministro de louvor e compositor, as guerras religiosas surgem nos contextos e formatos mais inusitados, como dentro das próprias igrejas, por exemplos.
 
"Basta conhecer um pouquinho da natureza humana para entender que campos de extermínio não nascem de uma hora para outra e sim dia após dia dentro dos corações. As Jihads surgem em casa, no trabalho, no trânsito ou até mesmo, na Igreja", destacou.
 
Confira o texto na íntegra, logo abaixo:
 
Intolerância ou Paz?
 
A primeira vez que ouvi falar de campos de concentração, foi na aula de história no Colégio Militar de Porto Alegre em 1973, quando o professor, Coronel Bayard, narrava minuciosamente as atrocidades feitas aos judeus, ciganos e polacos nos campos de extermínio da Alemanha nazista, durante a 2ª Guerra Mundial entre 1940 a 1945. Meus olhos de menino de 13 anos acostumados com a vida bucólica do interior, criado por uma mãe evangélica e um pai pacato, não conseguiam mensurar tamanha barbárie feita por um ser humano a outro. Trens da morte com câmara de gás, fornos para derreter pessoas. Minha imaginação mal conseguia seguir a narrativa e pensar o que era aquilo.
 
Porém, 41 anos depois, ali estavam eles, feitos de ferro fundido. Fornos que tinham um pouco mais do que o tamanho do corpo de um homem. Por trás dos mesmos, as canaletas indicam o caminho para onde a gordura humana corria para depois se transformar em sabão ou outra coisa qualquer. Encontrei essa triste realidade histórica no campo de concentração de Buchenwald, na antiga Alemanha Oriental.
 
Estava ali acompanhado por meu filho André (16), que também já conhecia os fatos, mas, assim como eu, não conseguia mensurar tudo que se passou ali naquele período de cinco anos. Ficamos estarrecidos. Fomos vendo cada um dos blocos, preservados primeiramente pelos comunistas que dominaram o local, depois da guerra, e mais tarde, o campo foi aberto como memorial, após a queda do muro de Berlim. Laboratórios, banhos químicos, local onde os cachorros ficavam, alimentados por carne humana. Nada lembra qualquer ato de humanidade, para onde quer que se olhe, ou se entre, o sentimento é de repulsa. Tudo. Fotos, trens, fornos e câmaras de banho e gás, mostram o quanto a natureza humana pode se degenerar fazendo do próximo a próxima vítima.
 
Poucos meses antes, ao visitar o Museu do Holocausto em Jerusalém, pude ver com maior historicidade o assunto, mas em Buchenwald a coisa era mais real. Nos quartos frios e solitários onde os prisioneiros esperavam a morte, se pode ainda encontrar as flores de plástico deixadas por descendentes, assim como cartas das famílias e inúmeras lembranças dessas pessoas que tiveram como único crime o pertencer a uma dessas minorias, e por isso, mostraram-se inconvenientes ao regime de poder vigente.
 
O local é um memorial que realça o clímax da intolerância humana. Ao ler a história do processo que levou ao holocausto, verifica-se que o mesmo iniciou-se com uma pequena divergência de opinião política e terminou assim, com a morte, passando obviamente por desprezo, humilhação, perseguição, etc.
 
Contudo, o que desejo enfocar com esta narrativa, não é o que nazistas fizeram com judeus, mas sim o que pessoas fazem com outras pessoas. Poucos dias antes de visitar Buchenwald e depois, os memoriais do muro comunista de Berlim, atual capital da Alemanha, estive ainda com meu filho, na cidade de Belém, em Israel. Visitamos a região atrás dos novos muros que separam dois povos e que marcam igualmente a intolerância entre judeus e palestinos. Se olharmos os relatos atuais, vê-se que as atrocidades continuam, como fruto da incapacidade de atitudes positivas que levem a uma negociação de paz.  Agora a história tem os sionistas, outrora perseguidos e seus vizinhos palestinos, como protagonistas desse processo insolúvel de paz. As duas partes mostram a mesma coisa: intolerância. De um lado palestinos impulsionam a Jihad contra  Israel, e do outro, os judeus defendem um etnocentrismo utópico, que impossibilita a assimilação e o convívio com outras raças e crenças que habitam a região. Juntos, fazem desse conflito uma das tristes heranças do século 20.
 
Por isso, o que devo perguntar, ao narrar estes quadros? Como podem os mesmos serem evitados? Basta conhecer um pouquinho da natureza humana para entender que campos de extermínio não nascem de uma hora para outra e sim dia após dia dentro dos corações. As Jihads surgem em casa, no trabalho, no trânsito ou até mesmo, na Igreja. Nós evangélicos, frequentemente nos colocamos como raça pura e queremos expulsar de perto alguns impuros, pecadores, idólatras e infiéis. Olhamos para os extremistas islâmicos, mas no fundo, temos algum tipo de prazer ou alívio quando os vemos derrotados e mortos. Os católicos e protestantes, nas modernas Irlanda e Inglaterra, se engalfinharam por meio século, promovendo insegurança e morte. Ortodoxos e evangélicos lutam pelo poder no Oriente Médio e os xiitas e sunitas fazem o mesmo no meio das diferentes e conturbadas comunidades islâmicas.
 
O profeta Jeremias, por certo, ao ver o comportamento das pessoas dentro da Jerusalém sitiada, escreveu: enganoso é o coração mais do que todas as coisas e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? (Jeremias 17.9). O antídoto está aqui: cuidar do coração, enchendo-o do puro e verdadeiro amor de Deus. Só assim, do nosso interior transbordarão fontes de vida e não de morte. Isto significa que devemos zelar por nosso interior, que são os sentimentos, emoções, intelecto e principalmente a vontade. Por essa razão Jesus declarou que odiar é o mesmo que matar . A intenção vale tanto quanto a ação. E quando entra a cruz. Na transformação e mudança interior, para que as motivações e intenções sejam as mesmas que motivaram a Cristo a perdoar, aceitar, buscar, reconciliar e acima de tudo amar.
 
Só o ensino dos princípios eternos pode fazer esta obra. As leis e sistemas humanos podem impedir que algumas dessas atrocidades voltem a acontecer, mas são paliativas. Somente a mudança feita por Jesus em cada coração é perene, pois transforma de forma definitiva o indivíduo transformando suas motivações. Por isso o quanto mais levarmos a verdade desse amor pelo mundo afora no presente, menos muros e campos de morte veremos no futuro. Jesus disse: “bem aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5.9). Todos querem ter parte nesta filiação divina, mas o Mestre, também chamado de Príncipe da Paz, deixou claro que somente aqueles que têm compromisso com a paz, a reconciliação e o amor é que podem postular-se a tal.
 
Asaph Borba
 
Com informações da Lagoinha.com

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