O título desse texto também poderia ser "O dia em que o Mestre me convidou a andar sobre as águas". Foi um dia desses que decidi escrevê-lo, quando me lembrei de quando eu a Patrícia, minha esposa, visitamos Israel pela primeira vez. Foi como se, ao mesmo tempo em que fazia uma viagem espiritual num país distante, também peregrinasse para dentro de mim, revitalizando minha fé, refletindo e orando nos lugares por onde Jesus passou.
A visita mais especial que fiz foi ao Mar da Galiléia. Eu estava com alguns amigos, num barquinho. Na devocional, o texto que nos inspirava naquele dia era o do capítulo 14 do Evangelho de Mateus, que conta sobre o convite de Jesus a Pedro, para que andasse com Ele sobre as águas. O texto fala de fé, de confiança e de cristianismo. Mas, o que o convite feito pelo Mestre pode nos dizer hoje?
Os meninos judeus entravam na escola aos seis anos, aos 10 já haviam decorado a "Torá" – ou Pentateuco –, e aos 14 anos, já tinham memorizado todo o Velho Testamento. A partir daí, os mais destacados iriam seguir um rabino, e os outros voltariam para casa e seguiriam o ofício dos pais.
Os escolhidos para o discipulado eram chamados "Talmidim" (discípulos), e, como descreve Rob Bell em seu livro "Repintando a Igreja", a tradição dizia que "os discípulos deveriam deixar-se cobrir pela poeira das sandálias de seu rabino". Ou seja, precisavam andar tão próximos que, ao final do dia, estivessem cobertos com a poeira levantada pelos pés de seu mestre. O grande desejo desses meninos não era apenas saber o que seus mestres sabiam, mas tornar-se iguais a eles.
Esse é também o modelo de discipulado usado por Jesus. O convite que Ele fazia aos seus seguidores era para que fossem pessoas iguais a Ele. Esse mesmo chamado Ele nos faz hoje, para que, ao andarmos com Ele, sejamos como Ele é. Como diz um grande amigo meu, nosso destino não é o céu, é Jesus. O grande chamado de Jesus é que nos tornemos seres humanos à imagem Dele, iguais a Ele. E isso implica em fazermos o que Ele fazia.
Por isso, no momento em que convidava Pedro a que andasse sobre as águas, Jesus, na verdade, estava dizendo: "Vem Pedro, se você for meu discípulo, você pode ser como Eu sou, você pode andar sobre as águas". Cristo não apenas o convida, mas também o torna capaz de viver como Ele.
Só duas pessoas na História andaram sobre as águas: Jesus e Pedro. E Pedro foi chamado de homem de pequena fé. Mesmo tendo aceitado o convite, houve um momento em que Pedro tirou os olhos de Jesus e começou a afundar. "Senhor, salva-me!", gritou. Jesus estendeu a mão e o levantou. Quando reflito sobre essa passagem, penso que a pequena fé de Pedro não era em Jesus, pois ele clamou ao Senhor por socorro, ele não descreu. Na verdade, ele duvidou dele mesmo, de que seria capaz de fazer o que o Mestre disse que ele faria.
Para mim, isso ensina que fé não é apenas crer em Jesus, mas é também crer no que Ele pode fazer através de nós ou em nós. É crer que podemos andar sobre as águas que Ele nos mandou andar. No trecho bíblico, é como se Ele dissesse a Pedro "Você pode. Não porque há poder ou autoridade em você, mas por causa Daquele que te fortalece!". E é a mesma coisa que Ele estava me dizendo ali no barco. É o que Ele está dizendo a você todos os dias, quando o convida a andar sobre as águas das dificuldades, dos problemas, das lutas.
Nossa fé não é apenas num salvador que nos tira das águas e nos socorre. Nossa fé é no Salvador que nos faz capazes de atravessar tempestades e de andar sobre as águas na força que Ele nos dá. É Cristo vivendo em nós, para andarmos como Ele andou. Para vivermos como Ele viveu e sermos como Ele é.
Enquanto o barco em que eu estava avançava pelo Mar da Galiléia, fiquei imaginando Jesus em pé sobre aquele azul, ao meu lado, me dizendo: "sai do barco e vem andar comigo sobre as águas." Eu e os irmãos começamos a cantar uma música que me lembrou de meus tempos de garoto: "Põe a mão nas mãos do meu Senhor da Galiléia/ Põe a mão nas mãos do meu Senhor que acalma o mar/ Meu Jesus que cuida de mim noite e dia sem cessar...". Em lágrimas, com uma alegria imensa pela presença dEle que invadia meu coração, não conseguia me imaginar andando sobre aquelas águas. "Sou um homem de pequena fé", disse a Jesus, em oração. Se eu creio? Claro que creio! Mas, Mestre, tenha paciência e bondade comigo.
CARLOS BEZERRA JR., pastor, médico e discípulo de Jesus disfarçado de deputado. Autor de lei apontada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como referência mundial no combate ao trabalho escravo. Criador do Programa Mãe Paulistana. Único parlamentar evangélico apontado como o melhor político de São Paulo pela ONG Voto Consciente – que fiscaliza a função pública. Casado com Patrícia Bezerra, pai da Giovanna e da Giulianna.
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