Embora a maioria dos pastores (87%) acredite que a igreja seja um refúgio seguro para quem sofre violência doméstica, metade das igrejas protestantes não tem um plano específico para atender esse público, segundo um novo estudo realizado pelo instituto de pesquisa LifeWay com cerca mil líderes norte-americanos.
Apesar do desejo de ajudar vítimas da violência doméstica, o estudo mostra que os pastores não sabem por onde começar. Foi constatado que pouco mais da metade das igrejas protestantes (52%) têm estrutura para oferecer ajuda.
Os recursos mais citados foram os contatos de conselheiros profissionais (76%), suporte financeiro (64%), local seguro para as vítimas (61%), contatos de órgãos que prestam assistência legal (53%) e a disponibilidade de alguém que já sofreu violência doméstica para conversar com as vítimas (43%). No entanto, 45% das congregações ainda não contam com um plano específico para atender quem sofre violência doméstica.
A pesquisa também indicou que 47% dos pastores entrevistados não sabiam se algum membro de sua comunidade tinha sido vítima da violência doméstica nos últimos três anos. Apenas 37% disseram conhecer algum caso na igreja local — dentre estes, 68% eram de igrejas maiores, com mais de 250 fiéis, e 20% lideravam comunidades com menos de 50 membros.
Barreiras
De acordo com o estudo, a questão do divórcio é um obstáculo para as igrejas que querem ajudar as vítimas de violência doméstica. Se um membro da igreja comunica que está se divorciando e cita a violência doméstica como causa, os pastores muitas vezes respondem com ceticismo. Três em cada cinco disseram que iriam investigar as denúncias (60%).
Maioria das igrejas não estão preparadas para ajudar vítimas de abuso doméstico. (Foto: Reprodução)
“As igrejas subestimam o dano espiritual, psicológico e emocional causado pelo abuso doméstico”, afirma Julie Owens, consultora do Departamento de Justiça dos Estados Unidos que criou programas nacionais de prevenção da violência para comunidades religiosas.
Owens também faz um alerta para atitudes que possam agravar o problema. “Quando um pastor fala com o suposto agressor, geralmente a reação da pessoa é de negar as acusações e, em seguida, fazer retaliações contra a vítima. Abusadores sabem como manipular pastores. Eles pedem perdão e dizem que querem se reconciliar com seus cônjuges”, explica. Isso reforça a necessidade de os líderes religiosos saberem como analisar cada caso e tomar providências dentro do que compete à igreja fazer.
Para a especialista, garantir a segurança da vítima tem que vir em primeiro lugar. Isso muitas vezes implica buscar recursos externos, como conselheiros especializados, abrigos e a aplicação da lei. “Porém, pastores e igrejas nem sempre estão preparados para lidar com a complexidade das necessidades das vítimas de violência doméstica”, Owens observa.
Um estudo realizado pela LifeWay Research em 2014 mostrou que o tema da violência doméstica é raramente discutido nos templos protestantes. Quatro em cada 10 pastores disseram que nunca ou raramente haviam abordado a questão e outros 22% afirmaram que o assunto era discutido com os membros apenas uma vez por ano.
Julie Owens acredita que, se a questão não for discutida, as vítimas não verão a igreja como local de refúgio.
“Ignorar o debate em locais públicos pode minar os esforços de uma igreja para ajudar as vítimas de violência doméstica. Pode-se ter grandes recursos para ajudar as vítimas, mas se ninguém sabe que eles existem, não farão bem algum”, afirmou Scott McConnell, diretor executivo do LifeWay Research.
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