Manifestante de Fortaleza fala sobre protesto na capital

“Temos que orar por nosso país, mas também temos que agir”, diz manifestante

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:06
Na última quarta-feira, 19/06, a cidade de Fortaleza (CE) viveu ummisto de sensações e momentos que foram da euforia ao medo.Programada para começar às 10h, a manifestação “Mais Pão, Menos Circo: Copa pra Quem?” fez um trajeto que foi desde o Makro (conhecido mercado atacadista da região) até o estádio Arena Castelão – onde se realizava o jogo Brasil X México.

Apesar das intenções pacíficas da manifestação a passeata teve momentos de tensão e confronto entre manifestantes e a Polícia Militar do Ceará.

Entre as milhares de pessoas que reivindicavam por mais qualidade nas prestações de serviços do governo e pelo fim da corrupção, estava a estudante Larissa Muniz.

Em entrevista exclusiva ao Portal Guiame, a jovem falou sobre os momentos de tensão e orgulho de ter participado de um momento histórico, não somente para o Estado, mas também para o Brasil.

Confira a entrevista na íntegra:

Portal Guiame: Você acompanhou a manifestação. Quais momentos marcantes (positivamente) do protesto você destacaria?

Larissa Muniz: Sim, estive lá desde o inicio da concentração no estacionamento do Makro. É até difícil citar um momento marcante, porque para mim só em presenciar aquela quantidade de gente reunida foi uma das coisas mais lindas que já vi. Mas o momento que mais me marcou foi logo após o ultimo confronto com a policia que tivemos que sair do local, estávamos todos indo embora pela BR 116 quando um pequeno grupo decidiu parar a BR, quando os manifestantes que estavam nos ônibus, taxis e na própria BR indo embora perceberam que a policia estava tentando parar o movimento, todos desceram dos carros, ônibus, inclusive eu e minhas amigas e saíram correndo em meio ao trânsito para apoiar o grupo que resistia. Todos deram as mãos e cantaram o hino. Foi lindo! E esse grupo seguiu caminhando de mãos dadas pela BR 116 até a Aguanambi  mesmo depois de todo o confronto, muitos como eu, haviam inalado gás, outros até feridos, mas mesmo assim continuaram a caminhada.

Foi como ver o nosso país que apesar de tudo que vem ocorrendo, se levantou e está resistindo, mostrando que ainda há esperança. Para mim, foi o momento mais lindo!

Porém, diante de toda violência que sofremos quero registrar meu agradecimento e meus parabéns a Policia Rodoviária Federal que nos tratou sempre muito bem e garantiu que a caminhada prosseguisse com segurança.

Guiame: Houve conflito com a polícia. Você estava longe / perto do foco de confronto? Quem teria “começado” este conflito?

Larissa: Eu estava no ultimo conflito na ultima barreira que os policiais estabeleceram,  realmente havia algumas pessoas que estavam agindo com violência, mas alguns manifestantes conseguiram se comunicar com um dos chefes da tropa de choque e foi dito que se avançássemos pacificamente eles recuariam sem reagir, a informação foi repassada pela multidão e foi o primeiro momento que os ânimos se acalmaram, muitos sentaram no chão para comer e se recuperar já que parecia que estava tudo calmo, infelizmente a PM só esperou que os manifestantes baixassem a guarda e começaram avançar contra os manifestantes, eu estava distante da frente do movimento quando de repente fomos atingidos com uma bomba de gás, eles queriam dispersar o movimento e avançaram ferozmente, foram dezenas de bombas jogadas contra nós, no desespero tentávamos socorrer algumas pessoas com vinagre, muitas meninas desmaiaram por estarem muito próximas dos ataques. Não bastando isso a cavalaria avançou e encurralou um pequeno grupo em uma rua sem saída, foi horrível.

Todos já estavam se retirando assustados com a violência quando um helicóptero da PM começou a jogar bombas de gás, nessa hora muitos homens se revoltaram, alguns até choravam ao verem a situação, pois muitas mulheres estavam passando mal e  não tínhamos tempo nem de socorrer que chegavam mais bombas, foi quando o “quebra-quebra” começou! Não quero justificar nenhum tipo de violência, mas naquela hora era totalmente compreensível a reação deles, o que eu presenciei com aquelas pessoas foi um desrespeito sem limites, o que eu via nos olhos das pessoas era a revolta a humilhação de ser atacado para abrir caminho para os torcedores. Uma cadeirante foi atacada, nós tentávamos ajudar uns aos outros de todas as formas, naquela hora todos eram amigos e sentimos mesmo a revolta de ver as pessoas ali daquela forma.

Guiame: A iniciativa “+ Pão  – Circo” propôs em seus objetivos, protestar contra os gastos excessivos em razão da Copa (Confederações e do Mundo), em favor de mais investimento em serviços essenciais, como saúde e educação. Foram passadas aos manifestantes novas diretrizes para outros protestos?

Larissa: A ideia é continuar com os manifestos e apoiar os que estiverem ocorrendo, na página do grupo já uma mobilização para manifestos de repúdio a violência com que fomos tratados, assim como contra o governo do Estado. Não podemos mais reverter os gastos feitos com a Copa mas continuaremos lutando para que não haja outro desvio do dinheiro que é para a educação, segurança e saúde. A construção do Aquário que custará milhões é outro alvo do manifesto é uma contradição enorme se gastar milhões em um aquário enquanto centenas de pessoas morrem de sede e de fome no interior do Estado. Queremos que as pessoas se atentem para isso, para o que é realmente prioridade no nosso Estado e no nosso país. 

Guiame: Qual a importância que você vê de, não somente como cidadã, mas também como cristã, participar de um manifesto como este? 

Larissa: Estávamos comentando entre amigos que ou o Brasil muda agora ou não será nunca mais, porque nunca sequer imaginávamos que o povo iria ter essa coragem de sair do seu comodismo e despertar para a realidade triste do nosso país. Quando eu vi os primeiros manifestos não acreditei e na mesma hora tive certeza que deveria dar meu apoio mesmo que distante. Como cidadã eu não posso me omitir, fingir que não é comigo enquanto milhares de pessoas estão ali, muitas delas sofrendo com  a violência, para lutar pelo país que também é meu.  Acho que agora ninguém esta interessado se você é negro, branco, gay, hetero, cristão ou ateu,o que eu vi ali não foi um movimento de um grupo e sim de brasileiros, por isso toda ajuda é bem vinda! Fiquei triste por não ver uma participação mais atuante dos cristãos, sendo que  anteriormente os mesmos saíram as ruas exigindo que o direito de liberdade de expressão, garantido pela constituição fosse cumprido, mas na constituição também é garantido o direito a segurança, a educação e a saúde e porque ninguém esta exigindo isso também!? Como cristãos temos que orar por nosso país, mas também temos que agir, nesse momento o Brasil precisa que TODOS se unam em seu favor! Fui criada dentro da Palavra e o que sempre me foi ensinado, foi a agir com justiça e esse principio foi o que mais me influenciou a sair e ajudar, fui com um grupo de amigos e levamos kits de primeiros socorros  e água para ajudarmos. Não é necessário agir com violência, cada um deve ir e fazer aquilo que acredita ser o certo e justo e o mais justo nesse momento é ajudar nossos “irmãos brasileiros” que estão ali na luta, não é preciso estar a frente é só estar lá e mostrar que não é mais um que se omite, que esta de olhos abertos e que dessa vez o Brasil tem voz e ela não vai se calar tão cedo.

Por João Neto
 
Foto: Mayara Honorato

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