Missionárias da IAP relatam desafios do trabalho de capelania prisional

Missionárias da IAP relatam desafios do trabalho de capelania prisional

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:02

A Igreja Adventista da Promessa possui uma equipe de capelania prisional que realiza, semanalmente, atividades dentro de algumas penitenciárias da cidade de São Paulo.

A equipe existe há 20 anos e hoje é liderado pelo pastor Valter Ferreira Peireira e coordenado pelas missionárias Solange Carvalho de Almeida Oliveira e Leia de Paula Gardargi.

Em entrevista ao GUIA-ME , as duas missionárias contaram detalhes de como o trabalho é desenvolvimento dentro das penitenciárias e dos principais desafios encontrados nessa tarefa. Confira

GUIA-ME: Em quais penitenciárias o trabalho de capelania já está instalado?

Solange: O trabalho já está implantado no presídio feminino de Sant’ana e no Independência que é o CDP Vila Independência com 1900 homens e em Santa’ana 3000 mulheres.

Em Santa’ana nós temos duas igrejas estabelecidas e em Vila Independência nós estamos iniciando.

Leia: e em Sant’ana, no pavilhão três, estamos iniciando mais uma igreja.

GUIA-ME: Alguma vez vocês vivenciaram alguma situação que gerou medo?

Solange: Sim. Em 2002 a nossa equipe já passou por uma rebelião em um presídio de Guarulhos-SP. Passamos uma noite inteirinha em rebelião e foi um momento muito difícil, mas que vimos a glória de Deus porque a equipe tem hora para entrar e hora para sair e nós aproveitamos a oportunidade para ministrar e tirar dúvidas das pessoas sobre doutrinas, mandamentos e fizemos um trabalho para acalmar as pessoas, tinha mulheres grávidas, pessoas com fobias. O Senhor guardou e protegeu a equipe em todo o momento de rebelião.

GUIA-ME: A Igreja Adventista da Promessa tem uma liturgia de culto aos sábados de manhã. Como isso é feito dentro das penitenciárias?

Leia: São todos os sábado e nós mantemos o padrão de como acontece do lado de fora. Iniciamos a escola bíblica às nove horas da manhã e vamos até dez / dez e meia, depois tem o culto com louvor, leitura bíblica, a mensagem, o momento de adoração a Deus, a oração no final, oração pelos enfermos, pelos novos convertidos, pelas pessoas que estão se reconciliando (...) mantemos o mesmo padrão da igreja do lado de fora.

GUIA-ME: Vocês falaram que fazem o louvor, quer dizer que tem toda uma equipe envolvida. Quantas pessoas hoje trabalham com vocês?

Leia: A equipe de capelania hoje tem por volta de 34 pessoas, mas o louvor é feito pelas educandas, pelas internas mesmo. Nosso louvor é solo e quando é grupo de louvor, é feito pela igreja lá de dentro. Elas mesmas tocam, cantam louvores e adoram junto conosco.

GUIA-ME: Todas as músicas tocadas e cantadas por elas foram ensinadas por vocês?

Leia: Aos sábados nós levamos toca - CD e elas ouvem, além disso na nossa equipe temos professores de música e de grupo de louvor que atuam nessa área específica porque temos pessoas com facilidade em ministrar cursos, outras que têm facilidade em pregar, outras que são especialistas em louvor, coreografia e cada um atua conforme o que sabe fazer. Na questão da música, elas são ensaiadas pela pessoa da equipe que tem especialização nisso.

GUIA-ME: Vocês têm o número exato ou aproximado de quantas conversões, batismos no Espírito Santo, batismos nas águas, já foram realizados?

Leia: Acho que esse ano tivemos por volta de 42 pessoas entre conversões e reconciliações e 22 batismos.

Simone, 22 anos, ex-detenta alcançada por Deus através da equipe de capelania da IAP

GUIA-ME: São os testemunhos que fazem com que vocês continuem perseverando nesse trabalho?

Solange: Sem dúvida. O testemunho da Simone [ex-detenta] nos alegrou muito, pois vimos o amor de Deus na vida dela. Ela saiu sábado passado e quando uma pessoa fica reclusa durante três anos, o sonho dela é sair e abraçar a família. A Simone ficou conosco uma semana para poder participar da Assembleia e só depois ir visitar a família. Nisso nós vemos que somos a verdadeira família do sangue de Jesus Cristo. A Simone tinha um problema muito grande de relacionamento com a família e na Assembleia Deus foi na veia e falou que Ele é o verdadeiro Pai. Ver a glória de Deus e a transformação nos dá ânimo para continuar. O caráter dela foi totalmente mudado e ela nos tem como uma família (...) isso é uma injeção de ânimo em toda a equipe.

Leia: A equipe de capelania tem o propósito de salvar almas. Primeiro nós fazemos um projeto e esse projeto tem que ser aprovado pela coordenadoria das prisões e o nosso projeto é de ganhar almas para o Reino de Deus. Na porta do presídio existe uma placa dizendo que lá as pessoas entram para serem reeducadas e recolocadas na sociedade e ela [Simone] nunca passou por uma transformação durante todo o tempo que esteve lá, a única transformação que ela conquistou foi através do evangelho de Cristo. Quando vemos mudança de vida, vemos que nosso trabalho foi concluído.

Nós temos que ir lá dentro e semear a Palavra de Deus com amor e com misericórdia porque nós encontramos pessoas assassinas, traficantes, de baixo nível, os chamados ‘lixos da sociedade’, e a salvação e transformação de vidas é o propósito do nosso trabalho.

GUIA-ME: O foco de vocês são as detentas, mas já aconteceu de algum funcionário (a) da prisão ser tocado pela palavra de Deus?

Solange: Esses dias nós estávamos ministrando o culto na cela especial e de repente chegou uma agente penitenciária. Quando ela se aproxima é pelo horário ou para dar algum lembrete e quando ela se aproximou nós estávamos em círculo orando de mãos dadas e ela segurou nossas mãos, orou conosco, o Senhor falou com ela. Outra vez, no Tatuapé, uma agente penitenciária se envolveu no culto, se emocionou, sentiu a alegria de Deus. Uma diretora em Santana, que cuida de toda a parte burocrática do nosso trabalho, perguntou como faz para estudar da Fatap [Faculdade Teológica Adventista da Promessa]. Deus tem tocado as pessoas desde a diretoria até os agentes penitenciários, através dos testemunhos da equipe.

GUIA-ME: Gente trabalhando para o Reino de Deus nunca é demais. A equipe de vocês é pequena considerando o tamanho que ela pode ter. Como vocês têm trabalhado para incentivar pessoas a ajudarem vocês nessa tarefa?

Leia: No início nós estávamos com as portas abertas para as pessoas irem conosco e trabalhar lá, mas, com o passar do tempo, sentimos a necessidade de qualificação da mão de obra das pessoas que iam. Muita gente tem curiosidade de saber o que o preso fez, quantos anos de cadeia pegou e são coisas que fogem do nosso propósito, que é levar o amor de Cristo e a salvação. Hoje nós preferimos ter uma equipe pequena, mas uma equipe de qualidade com pessoas que vão entrar lá e vão pregar o amor de Deus. Nós pedimos para que as pessoas façam cursos de capelania. Para entrar na equipe de capelania é um processo lento devido a estrutura das pessoas. É lógico que nós queremos uma equipe grande, mas algumas pessoas podem acabar atrapalhando. Nosso foco não é ter uma equipe grande, mas é nosso desejo.

Por Juliana Simioni

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