A presença de missionários evangélicos é disparadamente numerosa nas prisões cariocas, se comparada a outras religiões. Das 100 instituições aprovadas pela Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) para fazer assistência espiritual nos presídios fluminenses em 2015, 81 são igrejas evangélicas — 47 de denominação pentecostal, 20 de missão e 14 de outras origens. Em seguida, existem 8 instituições católicas, 6 espíritas, 3 da denominação Testemunhas de Jeová, uma de origem umbandista e outra judaica. Juntas, elas têm 1.194 voluntários.
Na Penitenciária Esmeraldino Bandeira, por exemplo, oito instituições religiosas se revezam, de segunda a sexta, com diferentes atividades voltadas aos 1.425 detentos. Cada uma tem um horário por semana agendado, com cerca de duas horas de duração. São seis igrejas evangélicas, uma católica e um centro espírita.
A presença de evangélicos no sistema penitenciário é, segundo o pesquisador Clemir Fernandes, incontestavelmente mais numerosa e disseminada. "Esta predominância acompanha uma tendência de crescimento dos evangélicos na sociedade, apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na pesquisa, percebemos que tanto para os detentos quanto para os funcionários das penitenciárias, a presença religiosa tem um efeito apaziguador e calmante em um ambiente muito tenso", ressalta.
Separação de celas
Em muitas cadeiras do Rio de Janeiro, evangélicos tem celas separadas — só no Esmeraldino Bandeira, o espaço tem 76 detentos. Para Teresinha Teixeira de Araújo, assistente social da divisão de planejamento e intercâmbio setorial da Seap, ainda não existe consenso sobre o impacto na rotina prisional.
Segundo a pesquisa do Iser e o entendimento de Luciene Ferreira, membro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), a divisão fere a Lei de Execução Penal, que determina separação por tipos de delito.
"Eu não posso dizer se a divisão é positiva ou negativa. Isso ainda está em pauta. A princípio, pensamos na segregação como algo negativo, mas ela pode ser benéfica para não incomodar detentos não-religiosos com vigílias e cultos nas celas, por exemplo", afirma.
A construção de espaços religiosos voltados a uma determinada religião também é vedada pela resolução 08/2011 do CNPCP. O Iser recomenda que as penitenciárias ofereçam ambientes ecumênicos, sendo um direito assegurado pela Lei de Execução Penal.
Clemir Fernandes constatou durante uma pesquisa que o vínculo dos detentos com as atividades religiosas não se justifica somente pela espiritualidade. "Esta adesão, por vezes, é temporária e não necessariamente ligada à fé. Estas atividades religiosas têm também funções de sociabilidade e afetividade. O preso negocia com o que está disponível ali, naquele ambiente. Encontramos por exemplo, durante a pesquisa, um muçulmano que participava de atividades evangélicas."
Relatos
O missionário Edson Lisboa, de 84 anos, da Igreja Universal do Reino de Deus, define as prisões como “hospitais espirituais". Ele trabalha há 25 anos na Penitenciária Esmeraldino Bandeira. "Eu adoro estar aqui. Faço isso para Jesus, para Deus, é um prazer."
Segundo o detento Ronaldo da Cruz Magalhães, de 49 anos, a Igreja Evangélica Esmeraldino Bandeira existe há 57 anos e recebe líderes da Primeira Igreja Batista de Éden, da Igreja Batista Vieira Fazenda, da Igreja Universal do Reino de Deus, da Primeira Igreja Batista em Parque União, da Igreja Metodista Wesleyana e da Igreja Assembleia de Deus em Bangu. Antes de se envolver com o tráfico de drogas, Ronaldo era pastor e, hoje, coordena os cultos, batismos e louvor como "pastor interno".
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