Milhares de mulheres e meninas que foram resgatadas do grupo terrorista Boko Haram, por soldados militares nigerianos, foram traídas e estupradas. A afirmação vem de um importante relatório da Anistia Internacional.
"Os soldados nos traíram, disseram que deveríamos sair de nossas aldeias. Eles disseram que seria mais seguro e que nos dariam um lugar para ficar. Mas quando chegamos, eles nos traíram", relata o documento de 89 páginas publicado na última quinta-feira (24).
"Eles prenderam nossos maridos e depois nos estupraram", disse Yakura, que fugiu de sua casa em dezembro de 2016. Ela foi uma das mais de 250 pessoas entrevistadas pela Anistia por um período de dois anos.
Algumas das mulheres e crianças disseram ter sido violadas pela Força-Tarefa Conjunta Militar e Civil da Nigéria, enquanto outras estavam famintas e sofreram outras formas de abuso. Sabe-se que pelo menos a metade dessas mulheres são cristãs.
A Anistia disse que as vítimas informaram que os soldados nigerianos "espancaram ilegalmente as mulheres no campo com impunidade, e faziam isso com regularmente. As mulheres sabiam que, se recusassem o sexo, poderiam ser espancadas".
Além disso, as provisões de comida, água e cuidados de saúde nos campos de refugiados eram oferecidas às vezes apenas se as mulheres concordassem com o sexo, o que elas faziam para que suas famílias sobrevivessem.
O grupo de vigilância disse que no campo de Bama, metade de todas as mulheres com menos de 30 anos disseram que foram estupradas ou forçadas a fazer sexo sob circunstâncias que equivaliam a estupro.
As mulheres e meninas também disseram que sofreram tortura e espancamentos severos na prisão de Bama, no quartel de Monguno e no quartel de Giwa. "O objetivo das detenções e espancamentos parecia ter sido extrair informações ou confissões ou punir as mulheres por sua percepção de afiliação com o Boko Haram", relatou a Anistia Internacional.
A Anistia observou que muitas mulheres pareciam ter sido investigadas ou detidas por soldados nos campos sem qualquer "ofensa criminal reconhecível", mas porque foram forçadas a se tornar esposas de militantes do Boko Haram.
"As mulheres foram detidas durante meses ou anos e, no entanto, nunca foram indiciadas ou levadas perante um tribunal. De fato, nenhuma das centenas de mulheres e crianças que foram libertadas do quartel Giwa desde 2014 parece ter sido acusada", acrescentou.
As mulheres que foram entrevistadas disseram que 30 mortes aconteciam todos os dias nos campos devido à fome e outras causas. "Os soldados lhe darão comida, mas à noite eles voltarão por volta das 17h ou 18h e eles lhe dirão para ir com eles", disse uma garota de 20 anos identificada como Ama.
"Um homem [Civil JTF] veio e trouxe comida para mim. Ele voltou à noite, mas eu me escondi. No dia seguinte, ele disse que eu deveria pegar água, então eu fui. Ele fechou a porta da tenda atrás de mim e me estuprou. Ele disse: "Eu te dei essas coisas - se você quiser, temos que ser marido e mulher".
A Anistia pediu ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que convoque os países para abordar os vários abusos que afirma estarem sendo cometidos pelo exército nigeriano em sua guerra contra o Boko Haram.
Cristãos no país, que configuram cerca de metade da população, continuam a sofrer muito nas mãos do Boko Haram e outros extremistas islâmicos. Os que professam o cristianismo acusaram o governo de não proteger os cidadãos. Foi ressaltado em uma conferência cristã na Nigéria que os crentes "se sentem violados e traídos em uma nação pela qual todos continuam a se sacrificar e a orar. Nós nos sentimos abandonados e traídos coletivamente".
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