Júnior Gongra é musicista e professor de teclado e piano e, atualmente, toca no ministério de louvor. Hoje ele está com 42 anos, e ao longo desse tempo precisou superar diversas dificuldades – e conseguiu. Ele conta que nasceu com uma deficiência auditiva severa, sendo surdo de um lado e com apenas 40% de audição no outro ouvido.
Júnior aprendeu a tocar com mais técnica na igreja que frequentava, mas seu envolvimento com o ministério aconteceu ao conhecer a moça com que se casaria.
“Agradeço ao pastor Flávio Valvassora e toda igreja por ter recebido nossa família com tanto amor, ao líder do ministério de louvor Diego Perensin por todo apoio e pela oportunidade de juntos louvarmos e servirmos ao nosso Deus”, diz.
“Agradeço a Deus por ter guiado eu e minha família até aqui. Todos os dias experimentamos o milagre da vida e do amor, que nos dá direção, sabedoria e vida abundante!”, declara o músico.
Superações
A história de Júnior é marcada por superações de dificuldades com a questão da surdez, convivência na infância com amigos e financeira. Mas por trás das dificuldades, ele sempre pôde contar com o apoio e incentivo de seus pais.
“Uma das coisas mais marcantes da minha infância, é que aos 12 anos eu ia ao cinema com os amigos e meus irmãos aos lançamentos de Os Trapalhões durante as férias. Não compreendia nada do que se falava”, lembra.
Nos anos 80, em idade escolar, Júnior frequentava uma escola normal, não aquelas indicadas para deficientes auditivos. “Meu pai achava melhor. Na sala de aula, sentava nas primeiras carteiras mas ainda assim não compreendia o que o professor falava quando ele caminhava pelo corredor e eu não podia ler seus lábios e escrevia o que eu achava”, diz Júnior, lembrado que quase foi reprovado nessa época. “Não fosse um trabalho de recuperação valendo 10 que a diretora me deu, comovida pela minha situação”.
Por medo de preconceito, ele conta que evitava usar os aparelhos auditivos da época. Mas sem ele, não conseguia fazer os exercícios dos ditados e nem participar sem graves erros das atividades de "telefone sem fio".
“Eu buscava interagir com os colegas nessa atividade e passava uma palavra qualquer para meu vizinho, movido pelo desespero de sofrer preconceito ou bullying”, relata Júnior.
“Foi bastante difícil e cheio de apuros em conviver com as crianças que não aceitavam meu aparelho auditivo nada discreto na época. Porém, graças a esses desafios, desenvolvi uma maior concentração e atenção e tive uma infância normal”, diz.
Música e Evangelho
Júnior conta que sua história com a música começou na década de 1990 quando foi com seus pais no aniversário de um amigo deles e ouviu, maravilhado, ao som do piano.
“Até hoje, quando ouço um piano bem tocado, não só ouço como ‘vejo’ o som! Aquilo me encantou de tal forma que me fez ter certeza de que eu queria me envolver com música”, conta.
Porém, naquela época a família não tinha condições de ter um teclado, por isso seu primeiro instrumento foi o violão.
“Desde que comecei a aprender música, meus pais sempre me incentivaram muito a tocar na igreja”, conta. “Nós fomos educados sob princípios muito sólidos sobre questões religiosas e espirituais. Por isso, desde cedo, a busca pelo conhecimento e pela Verdade sempre fizeram parte de meus dias. Comecei tocando violão nas missas numa católica. Um tempo depois, fui convidado pra ser organista da Catedral Metropolitana de Campinas, onde fiquei por 10 anos”.
Em 92, a escola onde Júnior estudava começou a oferecer aulas de piano e teclado com um padre que era um dos diretores da escola. “Imediatamente, eu comecei a ter aulas com ele. Aproveitei os formulários contínuos que meu pai usava, para desenhar grandes teclas onde eu treinava no teclado de papel, sem ouvir nada, mas imaginando o som”, lembra.
“Quando você imagina alguma coisa, sua mente não consegue separar o real do imaginário. Seu cérebro não distingue se você está ouvindo ou produzindo aquele som”, explica.
Em meados de 2002 Júnior começou a namorar. “Na época frequentava a igreja dela. Me impressionava a simplicidade e força do Evangelho. Mas o que me atraia mesmo era a música gospel, com toda sua força, arranjos vigorosos e letras impactantes”, diz.
Em setembro do mesmo ano, durante um culto, Júnior decidiu receber a boa nova do evangelho. “De lá pra cá, o Evangelho sempre me impacta e me transforma a cada dia”, testemunha.
‘Tirar música de ouvido’
Assim que ganhou seu primeiro teclado, logo Júnior começou a tirar música de ouvido. “Perguntavam como eu conseguia tirar músicas de ouvido, sem ter ouvido a nota?! Mas, o som do teclado e do piano para mim parecem ter uma forma, talvez por um esforço do cérebro em interpretar aquele som que mexe comigo. De alguma forma aconteceu isso e comecei a estudar música desde então”, conta.
“Nas orquestras e casamentos em que toco, preciso ler as partituras e tocar o que está escrito, sem ouvir, sem errar. Estudo as frequências das notas, ora trazendo do teclado para o piano, e memorizando a frequência dela para tocar corretamente”, explica.
Júnior diz que quando ganhou um novo aparelho auditivo, pode desfrutar de mais clareza nos sons. “Ouvia até o barulho do papel, um pouco a mais até mesmo, o que me fez abandoná-lo após 5 anos de uso e, depois dele, fiquei mais de 20 anos sem usar nenhum aparelho, desde a adolescência”, relata. “Sempre ajustava o som da TV para observar os músicos e cheguei a achar que fazia menor esforço sem o aparelho”.
Ele explica que o processo de audição acontece no cérebro, não no ouvido. “É o cérebro que processa o som. O som tem uma forma e cor, e talvez daqui a 100 anos consigamos compreender essa questão”, avalia.
Atualmente, Júnior fez o implante de um moderno aparelho auditivo, o Dispositivo Cross. “Consigo receber as ondas sonoras no cérebro e ele me auxilia a ter clareza, sinal de distinção e separação dos sons. Fiquei tão impactado que gravei um vídeo falando da paixão pela música que senti após ouvir com o novo aparelho. Passei a ouvir os Bem-te-vis, uma experiência maravilha!”, conta.
“Essa clareza de audição traz uma sensação de leveza e liberdade para mim”, compartilha.
No ano passado, Júnior foi convidado a dar entrevistas sobre sua condição de musicista surdo. “Em abril, um amigo e membro da INCC [Igreja do Nazareno] também, Jorge Luiz Craice, que trabalha na EPTV, compartilhou com alguém de lá minha história e entrei na pauta de uma matéria sobre as atividades online na pandemia, falando das lives musicais que ainda faço”, diz o músico, que pôde contar a muito mais pessoas um pouco de sua história.
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