O que foi Lausanne III para mim

O que foi Lausanne III para mim

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:08

História inicial:

Não é a toa que se realiza, aproximadamente, a cada 20 anos, o congresso mundial de missões do Movimento Lausanne. Foi algo singular e marcante para os que viveram e para os que ainda vão receber a reverberação de quem esteve lá.

Em 1999 fui para o seminário chamado Faculdade Latino-Americana de Teologia Integral (FLAM) do JV, cujo nome vem do movimento da América Latina germinado pelo pacto de Lausanne de 1974.

Desde lá até então, me apaixonei e tentei viver a Missão Integral dada por nosso Senhor Jesus Cristo. Li os autores que falaram naquele movimento, como John Stott, Rene Padilla e Samuel Escobar, li e estudei os muitos autores brasileiros que desenvolveram o assunto, indo mais longe até do que o próprio pacto. Dou destaque para Ariovaldo Ramos que, por ser diretor da FLAM, ouvi dezenas de aulas fantásticas sobre o assunto.

Em 2006 fui chamado para fazer parte da delegação do Lausanne Jovem, que foi realizado em Kuala Lumpur, Malasia , mas não consegui ir por motivos financeiros.

Quando recebi o convite em 2009 para ir para Lausanne III Cape Town 2010, sabia que não podia perder esta oportunidade, com o apoio de bolsa do Movimento Lausanne e da minha igreja local se tornou possível a minha participação.

A delegação:

Já no aeroporto de Guarulhos percebi o tanto que me identificava com a delegação brasileira que estava indo.  Líderes da minha geração, como Fabricio Cunha e Marcel Steuernagel, e líderes que me influenciaram em uma vida integral em Cristo como Ricardo Barbosa, Ricardo Agreste, Robson Cavalcante, Marcelo Gualberto, Carlinhos Veiga, Durvalina Bezerra, Valdir Steuernagel, entre muitos outros estavam indo.

O congresso:

Chegamos 2 dias antes do início do congresso para nos adaptar e quando começou, no domingo dia 17/10/10, só queria absorver e desfrutar de tamanho privilégio.

Nos primeiros dias tive um baque muito grande, pois descobri que 74 para nós tem uma perspectiva diferente do resto do mundo, e comecei a me abater, pois esperava que o assunto Missão Integral (Holistic Mission) estivesse o tempo todo em pauta da maneira que aprendi. Mas antes que me abatesse, Deus me mostrou que o mote de 74 "toda a igreja levando todo o evangelho para todo o mundo" era isso, pessoas em cada contexto entendendo o evangelho em ênfases diferentes, mas que Cristo era o centro da mensagem.

A organização conseguiu colocar 4.500 participantes em mesas de seis pessoas, com cada congressista de um país diferente. Na minha mesa tinham missionários do México, Chile, Guiné Equatorial, Espanha e Cuba. E a cada palestra os organizadores davam um tempo para orarmos e discutirmos o assunto em espanhol. Foi muito pessoal e enriquecedor poder, mesmo em um congresso gigante, aprender com bate papo sentado ao redor da mesa.

De manhã as exposições de Efésios me surpreendiam mais e mais, expositores como Ruth Padilla, John Piper, Ajith Fernando, Calisto Odede, Vaughan Roberts e Ramez Atallah colocaram de maneira bíblica e contemporânea a mensagem de Deus para nós.

No âmbito teológico vi que o conflito entre um evangelho da salvação da alma e da salvação da vida ainda está dicotômico entre países Norte Americanos/Europeus e Latino Americanos / Africanos / Asiáticos. Mas creio que não deve ser rompida esta tensão para que não diminuamos nenhum do dois, nem o sofrimento eterno defendido por Piper e outros, e nem o sofrimento terreno defendido por Ruth Padilla e dos missionários dos países oprimidos.

Lausanne 3 pôde reafirmar alguns pontos polêmicos, mas que distinguem o Movimento Lausanne de outros: o papel da mulher ao lado do homem na criação e no ministério, distinguindo assim dos movimentos históricos e, a vida simples repudiando a mensagem da teologia da prosperidade dos movimentos contemporâneos.

Os testemunhos ganharam um papel de destaque nesse congresso, pode-se falar do problema de perseguição da igreja em muitos países, da descriminação da mulher e da criança, da pobreza e miséria, dos abusos de países dominadores, tudo testemunhado de uma maneira muito agradável e emocionante.

Os contadores de histórias também foram citados como fundamentais na evangelização mundial, mostrando que eles não precisam de muita estrutura para compartilhar a fé e que antecedem o processo de tradução da bíblia nos lugares não alcançados.

Pude perceber que Lausanne 3 entendeu que mudou o processo de aprendizado desta nova geração. Mesmo estando em um congresso que todos tinham mais de 30 anos e que, no mínimo 50% tinham acima de 50 anos, o Movimento Lausanne mais uma vez está à frente da maioria dos movimentos cristãos.

Todas as reuniões eram bem divididas entre música, palestra, testemunhos, teatro, bate papo em volta da mesa e manifestações culturais como dança, por exemplo. A velha palestra de 50 minutos substituída por palavras de 10, 20 e no máximo 30 minutos. Passávamos horas dentro do salão, mas tudo era muito bem absorvido e, o cansaço por causa da mudança de método era amenizado. A mensagem foi passada em um formato pós-moderno, interativo e construída junto com o protagonismo de cada congressista.

Deus falando comigo:

A minha principal experiência não foi em uma palestra ou nas orações, nas mesas e sim na quarta-feira, andando nos corredores. Como era o meu primeiro congresso internacional, nunca tinha visto tantas pessoas de nacionalidades diferentes em um mesmo local, muito menos com o mesmo propósito.

Além de ser lindo ver as roupas, cores, línguas e culturas diferentes, Deus me mostrou algo que não me contive e tive que parar e chorar pedindo perdão por minhas limitações.

Desculpa a analogia bélica, mas é como se no meu chamado missionário eu tivesse sido convocado para um exército muito bom:

Sabia que a guerra já estava vencida pela qualidade do general, mas neste congresso o general me chamou para dar uma volta e subir uma montanha.No caminho ele falou comigo que eu estava muito preocupado com pequenas coisas da minha tropa, do meu mundinho. Eu não estava entendendo o que ele queria me falar, foi quando cheguei no topo da montanha e olhei para o outro lado, não tinha fim o exército do qual eu fazia parte. Meus olhos não conseguiam enxergar o fim, eu era muito limitado. Ao cair de joelhos na frente do general pedi desculpas por ser limitado, por forçar coisas pequenas, por reduzir o seu exército(igreja) nas minhas falas, por não reparar em boa parte das necessidades do resto do exército. Depois me calei em adoração à sua grandeza!

O que trago na bagagem:

Volto para o Brasil com a visão ampliada, com a motivação renovada e com a certeza de que o Reino de Deus chegou e está entre nós fazendo maravilhas.

Quero passar para os líderes que não puderam ir esta mensagem, de que o Reino de Deus é maior que a nossa visão e que Deus está se movendo por toda a terra.

Quero encorajar os jovens que missões não é uma opção para alguns e sim um modo de vida que Jesus Cristo nos chamou a viver.

Que Deus abençoe esta minha Missão.

Marcos Botelho é pós-graduado em Teologia Urbana, Missionário do Jovens da Verdade, SEPAL. Professor da FLAM - Faculdade Latino Americana de Missões e responsável pelo Terra dos Palhaços Brasil

www.jvnaestrada.co m

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