Os salmos de Israel e o louvor dos cristãos

Os salmos de Israel e o louvor dos cristãos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:26

Márcio Redondo

O livro de Salmos é um dos livros mais queridos da Bíblia. Em momentos de sofrimento e dificuldade, os cristãos tendem a buscar conforto e consolo não no Novo Testamento, mas em Salmos. Mas o que torna Salmos assim tão especial? Bem, em minha opinião existem várias razões. Hoje quero me deter em uma delas: o Deus dos Salmos.

Para conhecermos melhor o Deus dos Salmos, precisamos saber algo sobre a religião de Israel e de seus países vizinhos. Os antigos identificavam seus deuses pelo nome. O deus dos moabitas chamava-se Camos; o dos amonitas, Milcom; e, como todos devemos saber, o dos israelitas tinha o nome de Javé. E chegamos ao que nos interessa: dos 150 salmos, 131 mencionam explicitamente Javé.Os salmistas poderiam ter escrito "Deus" ao invés de "Javé", maspreferiram o nome próprio ao nome genérico, pois queriam deixar bem claro de quem é que estavam falando. Não queriam que alguém pensasse que estavam falando de algum outro deus. (Em hebraico não existem letras maiúsculas e minúsculas, então não seria possível fazer a distinção entre “deus” e “Deus”.)

Mas o que dizer dos 19 salmos que não usam o nome Javé para se referir a Deus? Na maioria destes, mesmo sem a palavra "Javé" aparecer, o texto deixa claro que está falando do deus de Israel: osalmista chama Deus de "Altíssimo", outro nome usado pelos israelitas para designar Javé (Salmos 57; 77; 82), fala da saída do Egito e daconquista de Canaã (Sl 44; 66; 77; 114), menciona Israel, Judá e Sião, isto é, Jerusalém (Salmos 51; 53; 60; 65; 76). Apenas em oito salmos não é óbvio, à primeira vista, se o autor bíblico está falando de Javé. Contudo, uma análise cuidadosa mostra que cada um desses oito textos (Sl 42; 45; 49; 52; 61; 62; 63; 67) está falando do Deus de Israel.

O fato é que, quando o povo de Israel cantava os salmos, sabia exatamente que estava cantando a respeito de Javé. E quem quer que ouvisse o povo cantar, mesmo não sendo um israelita, sabia exatamente de que deus os salmos falavam.

Isso me faz pensar nas músicas que cantamos em nossas igrejas. Como vivemos em uma sociedade em que prevalece a crença em um único Deus, estamos acostumados a chamar o deus da Bíblia de simplesmente "Deus",escrevendo a palavra com a inicial maiúscula. Na maioria das letras de nossas músicas, usamos apenas essa palavra, "Deus". Não há problema nenhum aí. Algumas dessas letras são belas, de um conteúdo riquíssimo.

O problema está em algumas outras letras que, de tão superficiais, não deixam claro que estamos cantando do Deus e Pai de nosso senhor Jesus Cristo. São músicas que até os não-cristãos cantariam sem dificuldade, cada um interpretando a letra à sua maneira.

Não é só a Bíblia que ensina que devemos louvar; outras religiões também o fazem. A diferença é que, enquanto as várias religiões dizem a seus fiéis para louvarem cada uma o seu deus, a Bíblia fala para louvarmos o Deus triúno.

Pessoalmente, eu gostaria de ver nossas igrejas cantando mais músicas que não apenas louvem a Deus, mas também apresentem a razão desse louvor. Uma coisa é eu dizer: "Deus, eu te louvo." Qualquer pessoa religiosa pode dizer isso. Outra é declarar: "Deus, eu te louvo porque enviaste Jesus para morrer na cruz em meu lugar!" Ah, isso só os cristãos podem dizer. Precisamos de letras tão ricas e belas quanto as dos salmos. Em outras palavras, nós cristãos precisamos de letras que declarem quem Deus é e também o que ele fez, faz e fará de tão especial; que anunciem Jesus Cristo como único caminho para o homem chegar a Deus; que apresentem a realidade de uma vida dirigida pelo Espírito Santo; que afirmem nossa total incapacidade de chegarmos a Deus por nossos próprios esforços, etc., etc., etc. Emsuma, precisamos de letras que ensinem todo o conselho de Deus.

Márcio Redondo possui graduação em teologia, licenciatura em letras, especialização em tradução e doutorado em história antiga. É batista, tendo atuado como pastor nas cidades de São Paulo e Piracicaba. Hoje exerce as atividades de professor e tradutor, sendo conhecido por seu trabalho de tradução de livros acadêmicos, inclusive Bíblias. Dedica-se a pesquisas nas áreas de arqueologia e história do antigo Oriente Próximo, tendo publicado vários trabalhos a respeito. É pai de Ester e Rute.

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