"Papais Noéis" gostam mesmo é de música gospel

"Papais Noéis" gostam mesmo é de música gospel

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:18

Apesar do excesso de memória do iPod ou do MP3, não há espaço para Merry Christmas e Jingle Bells, composições americanas natalinas tradicionais. No Brasil, ao menos, os representantes do "bom velhinho" gostam de tais canções apenas pra “entrar no clima”. Fora dos shoppings, supermercados e lojas, os Papais Noéis tupiniquins se definem na contradição: são conservadores ecléticos.

O gosto musical condiz não apenas com a idade de tais figuras (todos acima dos 60). É pautado também pela vocação religiosa. A reverência ao divino soa quase como um pré-requisito para arrebatar o trono vermelho dos comércios. A maioria dos entrevistados gosta mesmo é de música gospel.

Sem grandes fãs nos templos e igrejas, o funk e o sertanejo ficaram de fora da play list dos dublês de Papai Noel. Roberto Carlos não chega a reinar no gosto deles, mas é citado com certo saudosismo.

“Funk, sertanejo e pagode e todas essas músicas muito gritadas me doem os ouvidos. Quando eu era mais jovem, gostava muito da Elis Regina, do Jair Rodrigues, Wilson Simonal. O Roberto Carlos, antigamente, também passava um bom recado, eu tinha o costume de escutar”, recorda Cláudio Altruda, 70. Em 2011, o personagem natalino vivido por ele completa 21 anos, e há 12 tem trono cativo no shopping Higienópolis, em São Paulo.

Para ele, dentro do local de trabalho, a música natalina ajuda a incorporar o personagem. “Dá um feitiço. É melhor do que ouvir qualquer bobagem ou músicas muito calmas que nos deixam com sono.”

Cláudio tem o hábito de ligar o som assim que entra no carro. Adora música clássica, e vibra com belas vozes de coral, mas usa as vertentes mais animadas, como Rock e MPB, para começar o dia com bastante adrenalina. Funciona, para ele, como um “tapa na cara”.

“Fico ligado, acordado e motivado. Mas sou conservador, gosto do que me dá tranquilidade, relaxamento.”

No rebolation Embora sua preferência musical seja coerente com sua idade, a disposição é similar a de um pré-adolescente. Sem preconceitos tampouco travas, ele confessa que já foi convidado por jovens que passeavam pelo shopping a realizar a coreografia da “Dança do Caranguejo” – um hit do axé reproduzido à exaustão no Carnaval de 2008.

“Tive jogo de cintura, achei melhor entrar na brincadeira para não ter nenhum mal estar com seguranças. Confesso que foi divertido.”

No Natal carioca, tem Papai Noel negro, mas não funkeiro. Aylton Lafayete, 63, é um dos artistas da Escola de Papai Noel Tapume, no Rio de Janeiro. Graças a sua pele morena, ganhou fama como "Papai Noel Obama", apelido criado por ele mesmo, como estratégia de marketing pessoal.

Cantor, ele mais dá canjas do que fala. Revela que fez, em aulas de laboratório, junto com outros candidatos a Papai Noel, uma “releitura brasileira” da música Jingle Bells. “Sou Noel, sou Noel, sou muito fiel. Tenho barba muito branca, faço uma festança”, cantarola um trecho.

Como um multi-artista, ele afirma que não tem nenhum preconceito. Escuta um pouco de tudo, mas se diz amante da música italiana e francesa. Em terras nacionais, recorda-se de boas canções de Roberto Carlos e do extinto grupo Raça Negra.

Alô, alô freguesia

Em Brasília, é um baiano que figura no Shoppings Iguatemi da cidade vestido de Papai Noel. Evangélico, Hélio Turinho, 61, explica que no toca disco de sua casa há pouco espaço para vertentes mais “descoladas”. A play list é feita apenas com música gospel. Tal estilo também o ajuda na preparação do personagem.

“Dentro do shopping eu fico sozinho, faço os dois turnos. A jornada é longa. Pra aguentar o papel de Noel só com música calma e muita meditação”, brinca.

Durante o dia, porém, de janeiro a novembro, é ao som de Ivete Sangalo, Luan Santana e Tati Quebra Barraco que ele trabalha. Hélio tem um carro de som. Dentro do automóvel, quem dita as músicas são os clientes.

“Trabalho ouvindo de tudo. Axé, funk e sertanejo têm mais apelo pra vender, fazer a propaganda dos clientes. Não tem jeito, mas eu escuto numa boa.”

Pavarotti das Hennas No sul do país, o “ho ho ho” é devidamente afinado. Cantor e regente da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Martinho Krebs empresta sua barba branca e voz de tenor ao Natal dos gaúchos.

Pastor da igreja Luterana, teólogo, músico, professor e pós graduado em auditoria contábil e gerenciamento empresarial, ele começou a carreira de Papai Noel em supermercados, em 2002. Um ano depois, apenas, já arrebatava o trono de veludo de um dos maiores shoppings da cidade.

Em seu MP3 há mais de três mil músicas. A grande maioria, clássica e orquestrada. Embora não esconda sua predileção e educação musical sofisticada, também gosta de ouvir Marisa Monte, Beatles e Chitãozinho e Xororó.

Até com o rock ele revela ter uma convivência cordial. Sua filha era vocalista de uma banda que tocava os sucessos americanos dos anos 80, típicos de tal vertente. Para prestigiá-la, marcava presença nos shows. A relação musical entre pai e filha também rendeu uma parceria: juntos, eles gravaram a música “Amigos para sempre”.

Dentre os sons nacionais mais marcantes, acredita que nada se compara ao feito por Raúl Seixas. Para ele, um dos melhores do Brasil. Apesar da educação musical erudita, seu mp3 também pede: “Toca Raúl.”     Com informações do G1

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