Porque Deus amou a cidade...

Porque Deus amou a cidade...

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:51

Ele, porém, lhes disse: "É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras ‘cidades’, pois para isso é que fui enviado". E pregava...

Lucas 4.43-44

Em Lausanne 3 foi percebida a importância de destacar as cidades como um dos desafios para a missão. No plenário, mostrou-se a realidade das megacidades. Havia o multiplex "Abraçando a missão de Deus global urbana", e um dos diálogos foi "Missão em grandes cidades da América Latina".

O dia nem havia rompido e um bando de gente já estava atrás de Jesus: as multidões o procuravam. E tendo-o achado, insistiam que não as deixasse. Lucas 4.43 passa a ser então uma resposta de Jesus para essa multidão que tenta privatizar aquele que é público. Olhemos com mais cuidado a resposta de Jesus, que passa pelos temas a seguir.

A importância – “é necessário”

A principal visão que precisamos ter e desenvolver é esta: “Porque Deus amou a cidade...”. Ela é alvo do amor de Deus. Deus amou tanto a cidade que enviou seu único Filho para que ela encontrasse esperança. Jesus compreende o amor do Pai e engaja-se em sua missão nos centros urbanos. Se a multidão vê Jesus como uma oportunidade de isolamento, numa atitude de egoísmo e desprezo para com os que estão de fora, Jesus olha a necessidade dos outros de forma inclusiva. “O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios”, como afirmou Aristóteles. Jesus entende e vê a vida humana por meio da necessidade. A multidão não vê a necessidade do outro -- apenas a dela! Jesus, além de ver, se percebe como o agente de Deus para a cidade.

O agente – “que eu”

Só existe missão (e missionários) porque existem necessidades. Missão é sempre uma resposta à necessidade. Quem age primeiro é Deus. Jesus se coloca como o agente de Deus: “é necessário ‘que eu’”. Existem dois tipos de cristãos: os que não percebem a necessidade dos outros (multidões) e os que a percebem (Jesus). Ou imitamos as multidões ou imitamos Jesus. A igreja só é missionária quando todos se percebem agentes da missão.

O método – “anuncie”

“É necessário que eu ‘anuncie’...” Esse anúncio não pode ser interpretado como sendo apenas palavras. Ao estudar os relatos de Lucas sobre o ministério urbano, ficamos perplexos ao ver Jesus em ação: “Jesus começou a fazer e a ensinar” (At 1.1). Ele é “poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19). Seu anúncio é integral: obra e palavras em Jesus são inseparáveis. A transformação da cidade acontece por meio da manifestação concreta do amor de Deus e do poder transformador do evangelho. O evangelho é Jesus! Ele é a boa notícia em carne e osso, em atitudes e em palavras.

O conteúdo – “o evangelho do reino”

É o evangelho do reino que transforma tanto as pessoas como as cidades. Jesus disse: “Quando entrarem numa ‘cidade’ e forem bem recebidos, comam o que for posto diante de vocês. Curem os doentes que ali houver e digam-lhes: O reino de Deus está próximo de vocês” (Lc 10.8-9). O evangelho do reino não é ‘distração’, mas ‘atração’. Somente ele tem o poder de atrair as pessoas para Deus. Só o evangelho do reino, cujo centro é a cruz, tem o poder de transformar. Infelizmente, existem comunidades que já abriram mão da cruz na pregação do evangelho. Pode até ser evangelho, ou seja, não deixa de ser uma notícia que distrai as pessoas, mas certamente não é o evangelho do reino, que atrai as pessoas para Deus por meio da cruz. Jesus disse de forma muito enfática que este e não outro evangelho é que deve ser pregado: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações” (Mt 24.14).

A inclusividade – “também às outras cidades”

O desejo das multidões é justamente serem exclusivas. A ira de Deus com as pessoas sempre foi esta: enquanto ele busca a humanidade, o ser humano busca a si mesmo. Dois exemplos de inclusividade nos são dados pelo próprio Jesus na sinagoga de Nazaré: a viúva de Sarepta e Naamã, o sírio. Jesus acabara de reafirmar sua identidade missionária, confirmada na unção do Espírito, para servir especialmente aos excluídos e desfavorecidos do seu tempo. Os judeus, assim como as multidões, achavam que eram destinatários exclusivos da missão. Estavam errados e Jesus tratou logo de desenganá-los dessa ilusão. A missão de Deus é para todos. E a raiva tomou conta do coração das pessoas (Lc 4.28-29). Porém, Jesus, em sua vocação missionária, não desiste. Ele “passou por entre eles e retirou-se. Então ele desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e, no sábado, começou a ensinar o povo” (Lc 4.30-31). Por que desistir, se ele sabe exatamente seu propósito de vida?

A finalidade – “pois para isso é que fui enviado”

A expressão “para isso” implica vocação, propósito e senso de destino. Jesus se percebe enviado com esse propósito. A obra não é de Jesus, mas do Pai. Tem uma profunda compreensão da missio Dei. A missão é de Deus, que convoca seus agentes para realizá-la. Assim, Jesus é aquele “que andava de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus” (Lc 8.1). Como resultado, vinha “ter com ele gente de todas as cidades” (Lc 8.4).

Jesus é nosso modelo de missão para a cidade. Seu ministério aconteceu nas cidades e regiões do seu tempo: Galileia (4.41–9.50), Samaria/Judeia (9.51–19.27) e Jerusalém (19.28–24.53). E ele nos convida a andar e visitar as cidades que abençoou com o poder do evangelho. Por onde começar? “Então... regressou para a Galileia” (Lc 4.14). Aceitamos o convite?

Por Jorge Henrique Barros (diretor da Faculdade Teológica Sul Americana e pastor da Igreja Presbiteriana do Caminho, em Londrina, Paraná.) Via Ultimato

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