Pr. Bruno dos Santos: "Não é o suicídio o que determina se uma pessoa ganha ou não acesso ao céu"

Diagnosticada com câncer, a jovem Brittany Maynard, que se tornou notícia por optar por um suicídio assistido, faleceu nesse final de semana. Em entrevista, o pastor Bruno dos Santos comenta o caso delicado

Fonte: guiame.com.brAtualizado: segunda-feira, 3 de novembro de 2014 às 15:46
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BrittanyDia 1° de novembro foi a data escolhida por Brittany Maynard para morrer. Em janeiro a jovem foi diagnosticada com câncer no cérebro e optou pelo suicídio assistido.

Ela e o marido se mudaram da California para o Estado de Oregon, local em que o suicídio com assistência de médicos é permitido. Maynard recebeu uma receita médica para as drogas que usará para morrer.

"Depois de meses de pesquisas, minha família e eu chegamos a uma conclusão dolorosa: não existe um tratamento que possa salvar minha vida, e os tratamentos que me foram recomendados destruiriam o tempo que me resta", disse ela em um artigo para a CNN.

Neste domingo, 2 de novembro, a ONG 'Compassion & Choices' (rganização, que se dedica a assessorar doentes terminais que desejam uma morte digna) anunciou a morte de Brittany em seu site.

A história da jovem gerou discussão em todo o mundo a respeito da vida e da morte. Enquanto alguns admiraram a coragem da jovem e o privilégio de saber o dia de seu fim, outros se preocupam com a repercussão negativa que a atitude de Brittany pode ter.

"Se você está dizendo que é digno e corajoso que uma paciente com câncer se mate, o que você está dizendo aos pacientes que não se matam?", indaga o jornalista Matt Walsh, na revista The Blaze.

Mas, quando o assunto é pensado à luz da Bíblia, há uma conclusão clara sobre qual deve ser o posicionamento dos cristãos? Em entrevista ao GUIAME, o pastor Bruno dos Santos, da Igreja Apostólica Vida Nova, ponderou sobre o tema delicado que envolve suicídio, eutanásia e aborto. Confira:

GUIAME: O suicídio é pecado em qualquer circunstância? Por quê?
BS: Esta é uma pergunta difícil e não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o suicídio. Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade”. Concebemos em nossos ensinos doutrinários que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que excluiríamos o fato de que ele poderá cometer o pecado do suicídio? A realidade do sacrifício é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por nossos pecados passados, presentes e futuros. Portanto, o mesmo sacrifício que cobre os pecados que permanecerão conosco até o momento de nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio. Paulo afirma em Romanos 8:38 e 39: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
As escrituras afirmam que não é o suicídio o que determina se uma pessoa ganha ou não acesso ao céu. Se um descrente cometer suicídio, ele não fez nada mais do que “acelerar” a sua jornada para a condenação. Entretanto, no fim das contas, a pessoa que cometeu suicídio estará no inferno por ter rejeitado a salvação através de Cristo, não por ter cometido suicídio. Porém, nós cristãos somos chamados a viver nossas vidas para Deus e a decisão de quando morrer pertence somente a Ele.

GUIAME: O suicídio e o aborto podem ser considerados a quebra de um mesmo princípio de autoridade de Deus?
BS: Nas Escrituras Sagradas, a morte não é boa por definição! Não existem estudos, nem temas específicos na Bíblia sobre estes assuntos, mas a Bíblia é clara quando afirma em inúmeros textos que desde a concepção, no ventre, já existe um ser humano, o resto é apenas a continuidade de um processo natural de desenvolvimento. Creio que tanto o suicídio como o aborto são mortes provocadas e que mesmo que estejam debaixo de uma sanção penal ou autorização da lei são contrárias à vontade de Deus, como afirma o livro de Êxodo 23:7 “nem condene a morte o inocente e o justo”.

GUIAME: Quando se trata de uma doença terminal, como no caso da jovem, acredita que o suicídio assistido ou a eutanásia afrontam o poder sobrenatural de Deus?
BS: O Apóstolo Paulo define a morte como o “ultimo inimigo a ser vencido” (1Co15:26) No caso de um cristão, se ele confiou todos os dias de sua vida ao Senhor, como permitir que um médico ou alguém, inclusive ele mesmo, determine o fim de sua existência? Em certo sentido, isso é usurpar a soberania de Deus. É tomar um atalho para um fim que só a Deus pertence. O grande problema ético aqui, é que um paciente em situação terminal não possui faculdades competentes para fazer uma avaliação adequada, pois a oscilação dos sentimentos e o estado depressivo próprio da situação gerará uma percepção alterada sobre a vida e morte. Muitos por causa de dores e cansaço decidem morrer e a não batalhar mais pela vida.

GUIAME: Qual deve ser o posicionamento de um cristão diante de alguém que decide desistir de viver e opta por tirar a própria vida?
BS: Orar e interceder na medida do possível em cada situação. Existem pesquisas indicando que pessoas com maior envolvimento religioso têm menor tendência à prática suicida do que aqueles sem afiliação religiosa. A vida humana é em geral árdua demais, com muitas decepções, sofrimentos, tarefas impossíveis, e para suportá-la, necessitamos tomar certas medidas. Alguns apontam a morte de Sansão (Jz 16. 29-31) como sendo um exemplo de um servo de Deus que se suicidou. Mas a posição de Sansão não pode ser vista como normativa ou como exemplo desta questão. Cabe ao Senhor definir como cada um terminará, mas nós, seus servos, somos e seremos sempre à favor da vida e do bem para todos em toda e qualquer circunstância.

 

por Juliana Simioni
GUIAME.COM.BR

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