
Sempre tive certo problema com o tempo.
Desde muito cedo, sentia o peito doer, como se o passar das horas fossem gigantes pisoteando o coração.
Era como se a cada final de dia, um pouco de mim chegava ao final.
De olhos ardendo, quase fechados pelo sono, aguardava a noite tornar-se manhã e temia aquela rapidez.
A vida vai virando as páginas. Trocando as cenas. Mudando as falas. Tudo obedecendo o tempo.
Nunca quis crescer logo (talvez por isto eu seja pequeno rs). Pelo contrário, vivia minha meninice com a alegria dos satisfeitos.
Enquanto sonhavam com independência, eu queria mais colo.
Fui sempre bobo. Sem desejo de saber tudo, ou responder o que é a vida. Minha resposta é viver.
Obviamente que precisei cumprir as etapas.
Amadurecer. Deixar os brinquedos na caixa de papelão. Conquistar ao invés de pedir.
Mas ainda hoje, quando ouço os passos de um tempo andarilho, sinto um vazio me beliscar.
Não sou mais criança, mas há uma criança em tudo o que sou.
- Thiago Grulha