Psicóloga concorda com Igreja e diz que histeria coletiva surge de vontades recalcadas

Psicóloga concorda com Igreja e diz que histeria coletiva surge de vontades recalcadas

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:24

No início de junho, dezenas de jovens passaram mal em uma escola de Itatira, no interior do Ceará, após uma suposta visão do espírito de um colega morto. Eles entraram em transe e muitos tiveram que ser levados para o hospital.

Segundo o psiquiatra Adalberto Barreto, da Universidade Federal do Ceará, e o padre Hélio Correia de Freitas, que é parapsicólogo e acompanhou o caso no local, os estudantes podem ter sofrido um ataque de histeria coletiva.

A psicóloga Kátia Gandolpho Cunsolo, ouvida pelo G1, confirma que o caso tem características típicas desse tipo de problema. Ela explica que a histeria coletiva é uma espécie de explosão de sentimentos, de vontades reprimidas que é disparada em várias pessoas ao mesmo tempo.

"O material recalcado vem disfarçado sob a forma de um sintoma corpóreo. É uma espécie de teatro corporal", explica Kátia, que se especializou em psicanálise – a corrente da Psicologia que se baseia nos estudos do médico Sigmund Freud.

Os sentimentos recalcados, segundo a psicóloga, ficam guardados no inconsciente porque não foram exprimidos. "Uma ideia que não foi verbalizada, que não foi simbolizada. Um medo, uma tristeza, uma angústia. Esse medo não tem nome e escapa pela via do corpo."

Casos históricos

Várias ocorrências de histeria coletiva foram registradas ao longo da história. Ainda 1518, em Estrasburgo, hoje no território da França, centenas de pessoas começaram a dançar de forma descontrolada. A epidemia, batizada de "Praga da Dança", acabou matando muitos de exaustão.

Outro caso mundialmente conhecido ocorreu em um colégio de freiras no México em 2007. Lá, cerca de 600 alunas começaram a apresentar dificuldades para andar. Depois de muitos exames físicos, a conclusão foi de que as regras rígidas da escola acabaram desencadeando a histeria coletiva.

Segundo Kátia, esses casos são cada vez menos comuns, pois as pessoas já não têm tantos sentimentos reprimidos. "Hoje existe uma possibilidade maior de nomeação dos afetos, e as pessoas têm mais liberdade de expressão."

Problemas espirituais

Para o psicólogo clínico Julio Peres, doutor em neurociências pela USP, é necessário levar em consideração a possibilidade de os jovens do Ceará terem sofrido um problema ligado à sua espiritualidade, e não um transtorno psiquiátrico.

"É possível que tenha havido uma experiência espiritual. O DSM IV [manual de diagnóstico de saúde mental utilizado em vários países do mundo] reconhece a existência de problemas espirituais e religiosos", afirma.

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