C.S. Lewis era considerado um “solteirão” quando encontrou o amor aos 50 e poucos anos. Na época, Lewis já era um autor consagrado e um cristão convicto.
Foi através de suas obras, que ele e Helen Joy Davidman se conheceram. Joy era uma poetisa e escritora norte-americana, que se destacou por sua inteligência, assim como Lewis.
Ela nasceu em Nova York em uma família judia. Helen se graduou na Hunter College, fez mestrado na Universidade de Columbia e conquistou prêmios literários. Desde a infância, Joy se revelou um prodígio.
“Ela quebrou a escala em um teste de QI na escola primária e, quando jovem, adorava livros e normalmente lia vários volumes a cada semana. Joy manifestou habilidades críticas e analíticas incomuns, além de talento musical”, afirmou Lyle Dorsett, biógrafo de Lewis, em artigo do C.S. Lewis Institute.
Com uma personalidade forte, Joy se desiludiu com o capitalismo durante a Grande Depressão e integrou o Partido Comunista dos EUA e se tornou atéia assim como muitos intelectuais na época.
No partido, ela conheceu o jornalista e romancista William Lindsay Gresham, com quem se casou em agosto de 1942, aos 27 anos, e teve dois filhos, conforme o C.S. Lewis Institute.
Porém, o casamento se tornou conturbado, com William tendo problemas com álcool e casos extraconjugais. A família enfrentou dificuldades financeiras, Joy precisou trabalhar para colocar alimento na mesa, enquanto o marido ficava cada vez mais violento.
Encontro sobrenatural com Jesus
Joy Davidman na juventude. (Foto: Wikipedia).
Em 1946, William passou um longo período fora de casa e Joy se viu sozinha lutando para criar os filhos. Certa noite, ela entrou em um estado de intenso desespero por sua situação e teve um encontro sobrenatural com Deus.
“Pela primeira vez meu orgulho foi forçado a admitir que eu não era, afinal, 'o mestre do meu destino'. Todas as minhas defesas - todas as paredes de arrogância, presunção e amor próprio que eu havia escondido de Deus - caiu momentaneamente - e Deus entrou”, relatou ela, mais tarde.
“Havia uma pessoa comigo naquela sala, diretamente presente à minha consciência - uma pessoa tão real que toda a minha vida anterior era, em comparação, um mero jogo de sombras. E eu mesmo estava mais viva do que nunca; foi como acordar do sono”.
Após o encontro pessoal com o Senhor, Joy começou uma jornada para conhecer mais de Deus. Ela leu livros sobre espiritualidade até encontrar as obras de Lewis. Os livros “O Grande Abismo”, “Milagres” e “Cartas de um diabo a seu aprendiz” levaram a escritora a ler a Bíblia.
Edificada pelas obras de Lewis
Ao ler os Evangelhos, Joy compreendeu que aquela pessoa que a visitou em seu quarto era Jesus. Sedenta por mais de Deus, ela passou a se corresponder por cartas com o biógrafo de Lewis, o cristão Chad Walsh, para discutir as obras do autor.
Com a ajuda dele e sua esposa, Joy cresceu na fé, aceitou Jesus e foi batizada. Chad sugeriu que a nova convertida escrevesse para C.S. Lewis para contar suas impressões sobre seus livros.
Depois de dois anos, a escritora tomou coragem e enviou uma carta para Lewis. Eles se corresponderam durante os dois anos seguintes, ajudando um ao outro na fé e em seus trabalhos intelectuais.
Nesta época, Helen se divorciou de William, após descobrir que mantinha um caso com sua prima. Enfrentando problemas de saúde mental, ela viajou para a Inglaterra para descansar e conheceu Lewis pessoalmente, em agosto de 1952.
Mudança para a Inglaterra
Passaporte de Joy. (Foto: Marion E. Wade Center, Wheaton College).
O apologista e seu irmão Warren construíram uma amizade com Joy. E, no ano seguinte, convidaram ela e os filhos para se mudarem para a Inglaterra e recomeçar sua vida.
Em Londres, a mulher passou a trabalhar como escritora freelancer para sustentar a família. Mas, em 1955, ela passou dificuldades financeiras e foi ajudada por Lewis e seu irmão.
O escritor pagou seu aluguel e uma escola particular para seus filhos. Os irmãos também conseguiram vários trabalhos de edição para ajudar Joy.
Com o tempo e a convivência, a amizade entre os escritores se tornou em amor. “Não existe nenhum mistério quanto ao meu casamento. Conheço a senhora há muito tempo: ninguém pode identificar o momento em que a amizade se transforma em amor”, afirmou C. S. Lewis, posteriormente.
Porém, Helen não tinha esperança que eles conseguissem se casar, já que ela era divorciada, o que era escandaloso para muitos na época.
"Para Jack [Jack era o nome que Lewis pediu aos seus amigos para chamá-lo], a atração foi, a princípio, sem dúvida intelectual. Joy foi a única mulher que ele conheceu que tinha um cérebro que combinava com o seu em flexibilidade, amplitude de interesse e capacidade analítica, e acima tudo com humor e um senso de diversão”, escreveu Warren, em seu diário.
Salva por um amigo apaixonado
Em abril de 1956, o governo britânico se recusou a renovar o seu visto. Clive ficou arrasado com a ideia de ficar longe de Joy.
“Como essa mulher poderia ser enviada de volta para os EUA, onde seus filhos possivelmente seriam abusados por seu pai alcoólatra, que mais de uma vez os machucou fisicamente? Na verdade, CS Lewis não conseguia imaginar viver separado de Joy Davidman. Ele jogou a cautela e as aparências ao vento”, explicou o biógrafo Lyle Dorsett.
Lewis sugeriu a Joy que eles se casassem no civil, em um casamento por conveniência, para que ela e os filhos pudessem permanecer na Inglaterra. Assim, em 23 de abril de 1956, os amigos se casaram no cartório em Oxford e se manteram separados, cada um em sua própria casa.
Lewis pediu para se casar com Joy na Igreja Anglicana, explicando que ela havia se divorciado por infidelidade, porém, a igreja se recusou a dar a bênção ao casal.
Casamento no hospital
A casa de Lewis, chamada de “The Kilns”. (Foto: Wikipedia).
Tudo mudou em março de 1957, quando Helen foi diagnosticada com um câncer de mama e de ossos, em estado terminal. Quando Lewis imaginou a dor de perdê-la, percebeu que estava apaixonado por Joy e não poderia deixar de se casar com ela.
Então, Clives pediu a Peter Bide, um padre anglicano de uma paróquia ao sul de Londres, que possuía o dom de cura, para visitar Joy e orasse por um milagre.
Peter ungiu a mulher com óleo e atendeu seu último desejo, de se casar com Lewis. Ali mesmo, no leito do hospital, Joy e Clives receberam a bênção do matrimônio, em 21 de março de 1957.
Para a surpresa de muitos, a escritora apresentou uma melhora em seu quadro de saúde, recebeu alta e foi para casa de Lewis. No ano seguinte, o casal viajou para o País de Gales e para a Irlanda, em lua de mel.
Um amor real e intenso
Segundo C.S. Lewis, eles viveram um amor real e intenso. O autor revelou que celebram o amor “em cada aspecto dele – grave e alegre, romântico e realista, vez ou outra tão dramático quanto uma tempestade de trovões, poucas outras vezes de modo tão confortável, cômodo e agradável quanto usar chinelos macios. Nenhuma fissura da alma nem do corpo ficou por preencher”.
Após poucos, mais felizes, anos de matrimônio, a saúde de Joy piorou e ela faleceu no dia 13 de julho de 1960, vítima de câncer.
Em carta ao seu amigo de infância, Arthur Greeves, Lewis declarou: “Poderia ter sido pior. Joy partiu de forma mais descomplicada do que muitos que morrem de câncer. Houve um par de horas de dores atrozes em sua última manhã, mas o resto do dia ela passou a maior parte dormindo, embora lúcida sempre que estava consciente. Duas de suas últimas observações foram: ‘Você me fez feliz’ e ‘Estou em paz com Deus’”.
Desolado e tentando digerir a perda da esposa, Lewis escreve uma de suas obras mais sinceras “Anatomia de uma dor”.
De acordo com o biógrafo Lyle Dorsett, apesar do relacionamento ter durado pouco tempo, Joy e Clives impactaram um ao outro.
“Há evidências maciças para mostrar que esses dois peregrinos eram extraordinariamente importantes um para o outro. Da parte de Jack, seus primeiros livros ajudaram Joy a ter fé em Cristo. Suas cartas e seu relacionamento pessoal a ajudaram a amadurecer espiritualmente em Cristo, e ele a ajudou a se desenvolver profissionalmente como escritora”, destacou Lyle.
E continuou: “De sua parte, Joy teve um impacto em Lewis que raramente foi reconhecido. Lewis admitiu que quando ela e os meninos entraram em sua vida, era extremamente difícil para um solteiro idoso ter uma família instantânea em sua casa. Mas o resultado foi que ele e Warren foram forçados a sair de si mesmos e isso era exatamente o que esses solteiros egocêntricos precisavam. Além desses benefícios intangíveis, Joy ajudou Lewis com sua escrita”.
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