Hoje, na série “Pergunta-me”, que foi criada especialmente para responder às dúvidas bíblicas dos leitores do Guiame, vamos falar sobre o termo “arrebatamento”, que foi a dúvida da maioria. O arrebatamento da Igreja será antes ou no final da Grande Tribulação? Primeiro vamos entender alguns termos. A palavra “arrebatamento” aparece várias vezes na Bíblia em contextos diferentes.
Mas, o que causa maior polêmica é o arrebatamento citado no livro de Tessalonicenses. “Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.” (1 Tessalonicenses 4.16,17)
A palavra “arrebatamento” utilizada no texto, segundo o linguista e hebraísta Luiz Sayão, no original grego é “harpazo”, traduzida por “arrebatados” na versão Revista e Atualizada. Mas, o termo também pode significar “agarrar, apanhar ou levar”. Na literatura grega, essa palavra chegou a ser usada como “sequestrar ou levar embora”, acrescentou.
Luiz Sayão na 21ª edição da Consciência Cristã. (Foto: Guilherme Santos Fotografias)
“É o único lugar do Novo Testamento em que a palavra arrebatamento, proveniente da Vulgata Latina, é claramente mencionada. Alguns sustentam que esse arrebatamento será secreto, mas Paulo parece descrever que será um acontecimento aberto e público, com ordem em voz alta e sonido de trombetas”, explicou o hebraísta ao Guiame.
Arrebatamento físico e encontro com Jesus
O missionário Fábio Coelho, líder do Ministério Vozes e Trovões e autor de dois livros sobre o fim dos tempos “Princípios da Batalha Espiritual e Não Apagueis o Espírito”, explica que o encontro com o Senhor nas nuvens será um arrebatamento físico. “Vamos subir, literalmente, até encontrar Jesus”, citou.
“Mesmo sendo um corpo glorificado, é um corpo físico. O nosso melhor exemplo de arrebatamento aos céus em forma física é o próprio Jesus. Ele subiu até o Trono, e nós subiremos até as nuvens”, compartilhou com o Guiame.
Ele também falou sobre outros tipos de arrebatamento conforme a Bíblia, como por exemplo, o apóstolo João que teve uma experiência extraordinária e sobrenatural. Um “arrebatamento de espírito” como ele mesmo descreveu. “Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta.” (Apocalipse 1.10).
Paulo viveu algo parecido e também deixou registrado nas Escrituras. O próprio apóstolo disse que foi “arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar” (2 Coríntios 12.4). E também relatou a experiência em outro livro. “E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim.” (Atos 22.17)
Fábio Coelho, líder do Ministério Vozes e Trovões. (Foto: Fábio Coelho)
O escritor explica que os dois textos que falam da experiência do arrebatamento de Paulo, podem ter ocorrido numa mesma ocasião ou em momentos diferentes. Não há como saber. Porém, o que mais importa é a descrição do ocorrido. “Paulo teve uma experiência tão intensa que não soube dizer se foi arrebatado fisicamente ou no espírito até o terceiro céu”, comentou o missionário.
Quando ocorrerá o arrebatamento descrito no livro de Tessalonicenses?
Essa pergunta já reuniu cristãos das mais variadas denominações a fim de promover discussões intermináveis. Não há consenso. Muitos separam os dois eventos — arrebatamento e volta de Jesus. Outros sustentam que se trata de um único momento reservado para o futuro.
A falta de consenso sobre “quando” o arrebatamento acontecerá está em harmonia com a Bíblia, afinal de contas, quando os discípulos perguntaram a Jesus: “Qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos” (Mateus 24.3), Ele respondeu a eles: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mateus 24.36).
Jesus apenas descreveu vários sinais e muitos já “estão se cumprindo”. Desde quando e até quando? Nesse ponto, o teólogo e escritor Hernandes Dias Lopes, faz uma observação interessante — os sinais são progressivos.
“Os sinais sempre estiveram presentes e, na medida em que o tempo avança para o fim, os sinais vão se intensificando. A quantidade de terremotos que acontecem hoje, é muito maior do que nos séculos anteriores. A quantidade de guerras é maior que antes. O esfriamento do amor, o aumento da iniquidade e a apostasia galopante. Tudo isso são evidências de que em breve Jesus voltará”, esclareceu ao Guiame.
Os selos estão se abrindo ao longo dos séculos
O teólogo explica também que os acontecimentos relacionados aos sete selos e aos quatro cavalos [Apocalipse 6-7] estão acontecendo ao longo da história, desde a primeira até a segunda vinda de Cristo. “A história é dinâmica e os sinais estão presentes em todas as fases. Não quer dizer que se aconteceram no passado, não acontecerão mais. À medida que nos encaminhamos para o fim, os sinais vão se intensificando”, reforçou.
Hernandes Dias Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória. (Foto: Hernandes Dias Lopes)
Hernandes deu como exemplo o evento pandêmico pela Covid-19. A pandemia de proporção global foi citada por ele como “diferente das demais”, por vários motivos. “Talvez não seja tão letal quanto as outras que já aconteceram na história da humanidade, mas ela tem mais abrangência. Além disso, trouxe uma grave crise da saúde pública e está ocasionando uma recessão econômica no mundo inteiro”, comentou.
Considerando que os sinais são progressivos, ou seja, que eles estão acontecendo desde a primeira vinda de Cristo e estão se tornando cada vez mais intensos à medida que sua segunda vinda se aproxima — podemos dizer que já estamos vivendo no período da Grande Tribulação?
“Não é possível afirmar isso. Se dissermos que estamos no período da Grande Tribulação, muitos vão tentar marcar uma data para a volta de Cristo e nós não temos o calendário de Deus em nossas mãos. Nós só temos os sinais de alerta, mas sobre esse dia e hora é da economia de Deus, não compete aos homens especular”, enfatizou.
Arrebatamento — antes ou depois da Grande Tribulação?
Esse é o ponto que divide as quatro principais linhas escatológicas de interpretação [pré-milenismo histórico, pré-milenismo dispensacionalista, amilenismo e pós-milenismo]. Hernandes explica que a ideia de um arrebatamento secreto, distinto da segunda vinda, só é defendido pelo pré-milenismo dispensacionalista, que só passou a existir na história da Igreja no começo do século 19, com John Nelson Darby.
Para Hernandes, a palavra “arrebatamento” citada por Paulo no texto de 1 Ts 4.16, não é um evento distinto da segunda vinda de Cristo. “O texto bíblico apresenta oito aspectos da volta de Cristo: Ele voltará pessoalmente, fisicamente, visivelmente, audivelmente, repentinamente, inesperadamente, inescapavelmente e gloriosamente. Depois disso, segue-se à cena do juízo final. Essa é a linha cronológica dos acontecimentos”, defende.
Mas se o arrebatamento acontecer antes da Grande Tribulação, como outros pastores acreditam, então a segunda vinda de Jesus será compreendida em duas etapas: primeiro Ele volta para arrebatar a Igreja e depois volta para reinar. Um dos especialistas que defende esse pensamento é o pastor Lamartine Posella, atualmente um dos mais conhecidos defensores do pré-milenismo e pré-tribulacionismo, autor do livro “Apocalipse — A Maior Profecia do Mundo”, lançado pela Editora Vida.
Lamartine Posella durante o evento “Sinais dos Tempos – Apocalipse”. (Foto: Lamartine Posella)
Em entrevista ao Guiame, ele explicou seu ponto de vista. “Eu acredito que está muito próxima a vinda de Jesus. Há sinais espirituais, como a apostasia — o divórcio da fé. Nunca houve tanta proliferação do ensino de mentiras como nesse tempo. As pessoas estão esfriando e rompendo a aliança com o Senhor e esse esfriamento é outro sinal espiritual”, iniciou.
Ele também citou os escarnecedores, aqueles que ridicularizam os cristãos pela fé na volta de Jesus, citando o texto bíblico de 2 Pedro 3.3-4: “Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: ‘O que houve com a promessa da sua vinda? Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação’”.
Apontando para todos os sinais especificados na Bíblia, Lamartine conclui que a vinda de Jesus está muito próxima e explica sobre as duas etapas do evento, conforme ele acredita. “A primeira etapa se chama arrebatamento para o encontro do Senhor com os crentes, nos ares. A segunda etapa acontecerá ao final da Grande Tribulação, na batalha do Armagedom, quando aparecerá nos céus, descendo num cavalo branco com os seus exércitos”, detalhou.
“A diferença entre o arrebatamento e a segunda vinda é que o arrebatamento será invisível, só os crentes poderão ver Jesus e ouvir a trombeta. A segunda vinda todo olho verá e é comparada com o relâmpago que sai do Oriente para o Ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem. Então, no arrebatamento, antes da tribulação, a Igreja sobe. Na segunda vinda, depois dos dias daquela tribulação Jesus desce com a Igreja. São dois eventos diferentes”, defende Lamartine e vários outros pastores que acreditam no pré-tribulacionismo.
Profecias de Apocalipse na visão pré-tribulacionista
Segundo Lamartine, o livro de Apocalipse aponta para os dois eventos [arrebatamento e segunda vinda de Cristo], falando de duas portas que são abertas no céu. O primeiro texto aponta para o arrebatamento, afirma o pastor.
“Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta aberta no céu. A voz que eu tinha ouvido no princípio, falando comigo como trombeta, disse: ‘Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer depois dessas coisas’". (Apocalipse 4.1)
O outro texto utilizado para defender seu ponto de vista, está apontando para a segunda vinda de Cristo. “Vi o céu aberto e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça”. (Apocalipse 19.11)
O pastor acrescenta também que há vários textos bíblicos que devem ser levados em conta para um entendimento mais aprofundado sobre o tema em questão. Ele recomenda Daniel 9.24-27 [sobre as setenta semanas], 1 Tessalonicenses 5.9 [Deus não nos destinou para a ira], Apocalipse 6.16 [dia da ira de Deus], Apocalipse 3.10 [te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo] e 2 Tessalonicenses 2.7-10 [o que detém o filho da perdição].
“Eu uso o texto de Daniel 9.24-27 para afirmar que a Igreja não passa pela Grande Tribulação (GT). As setenta semanas são destinadas para Daniel e seu povo e começam quando o povo de Israel retorna do exílio babilônico para Jerusalém. A 69ª semana termina com a morte do Messias. E a última semana de anos, que trata da GT, é também para o povo de Israel e não para a Igreja”, explicou.
Até que Jesus volte...
Sabendo que o tema “arrebatamento” tem causado grandes polêmicas entre os cristãos de diferentes denominações e linhas de interpretação escatológica, os entrevistados deixaram claro que respeitam aqueles que pensam diferente deles. Independente da crença sobre como e quando o evento da volta de Cristo vai acontecer, eles se unem na mesma certeza — Jesus vai voltar.
Segundo Luiz Sayão, o arrebatamento, independente da interpretação, é uma realidade e a história não vai ficar sem a interferência final da parte de Deus. “O dia e a hora ninguém sabe, como diz a Bíblia. Não adianta programar o arrebatamento, mas o que devemos fazer é nos preparar espiritualmente diante de Deus”, disse.
Lamartine Posella lembrou que vivemos um tempo difícil de provações e tentações, mas encoraja os cristãos a se manterem firmes na fé. “Eu quero profetizar em nome de Jesus que todo aquele que está fraco, será forte e o que está amarrado, será livre”, orou.
Hernandes Dias Lopes acredita que muitos, nesse momento de pandemia, podem estar refletindo mais sobre a vida e sobre a necessidade de se voltarem mais para Deus. “Podemos e devemos preparar o caminho do Senhor para que Ele se manifeste”, disse.
Fábio Coelho completou que, independente da linha teológica de cada leitor, existe uma mesma esperança para todos. “E, mesmo que haja divergências nos detalhes que nos levam até lá, é o fim que vai nos unir. Existe uma promessa — um dia, ao ressoar da última trombeta, nós seremos arrebatados para a presença de Jesus. É nisso que devemos colocar a nossa fé, esperança e força. Com Ele ‘seremos um’ na eternidade”, concluiu o missionário.
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