As professoras de História da Igreja, Rute Salviano e Carol Bazzo, apresentaram as mulheres que atuaram na Reforma Protestante e contribuíram com o movimento, na série especial do Mês da Reforma no podcast de Rodrigo Bibo.
Discutindo sobre o novo livro da escritora Rute Salviano, “Reformadoras: mulheres que influenciaram a Reforma e ajudaram a mudar a igreja e o mundo”, os teólogos lembraram a importância da participação feminina no movimento, que por muito tempo passou esquecida.
Rodrigo Bibo chamou a atenção para a falta de registro da atuação das mulheres reformadoras na história da Igreja. “É realmente assustador. Eu fiz uma faculdade de teologia e não ouvi falar da participação feminina na Reforma. Que bom que os livros estão aí para nos ajudar a corrigir esse erro”, afirmou.
De acordo com Rute, muitas mulheres participaram do movimento reformador como teólogas, escritoras e apologetas, muitas defendendo a fé protestante com a própria vida e se tornando mártires da Reforma, como Jane Grey. Elas eram cristãs envolvidas no círculo intelectual, esposas de líderes protestantes e membras da nobreza.
“Essas mulheres abraçam a Reforma e começam a escrever e lutar com a pena”, introduziu Rute, falando sobre algumas das mulheres que produziram teologia durante este importante período do cristianismo.
Carol Bazzo ressaltou que a participação das mulheres no movimento é influência da doutrina do sacerdócio de todos os santos, pregada pelos reformadores. “Todos são sacerdotes, incluindo as mulheres”, disse.
Rute Salviano explicou que foi justamente esta a doutrina protestante que mais empolgou as mulheres na época. “Porque elas vão direto a Deus. Elas estão mais libertas, elas se sentem muito bem com a salvação pela fé e pela graça. É muito lindo a atração que a Reforma exerce nessas mulheres”, explicou.
Argula von Grumbach, a best-seller da Reforma
Argula von Grumbach. (Foto: Wikimedia Commons).
A escritora conta que uma das mulheres que produziu teologia na Reforma Protestante foi Argula von Grumbach, uma menina bávara de uma família da nobreza média. A adolescente ganhou uma Bíblia num dialeto alemão, porém os sacerdotes disseram aos seus pais que não era adequado uma menina ler as Escrituras.
Mas, Argula começou a ler a Bíblia e não parou mais, até ficar conhecida como “a Bíblia ambulante da Alemanha”. A menina se interessou pelas doutrinas protestantes e abraçou o movimento e, com coragem e ousadia, passou a escrever panfletos para divulgar as ideias da Reforma, que eram lidos nos mercados públicos.
“Não temos ideia do alcance que a mensagem dele teve. Ela é a best-seller da Reforma Protestante”, ressaltou Rute.
Argula, junto com seu esposo, sofreu muitos tipos de perseguição devido ao seu engajamento na Reforma Protestante.
Maria Dentière, a historiadora da Reforma
Maria Dentière. (Foto: Wikimedia Commons).
Outro importante nome femino na teologia reformada é a ex-freira Maria Dentière, relata Rute Salviano. Dentière foi uma historiadora da Reforma e uma erudita envolvida com o calvinismo. Ela nasceu na Bélgica numa família católica da baixa nobreza e foi destinada à vida religiosa, um destino comum para muitas mulheres naquele contexto.
No convento, Maria começou a estudar a Bíblia e as recentes ideias protestantes na biblioteca e decidiu fugir para ingressar no movimento reformador. Mais tarde, a ex-freira se casa com um pastor, um ex-padre, que também havia abandonado a Igreja Católica para seguir o protestantismo. Juntos, o casal lutou pelo movimento em Genebra.
Dentière era uma mulher cristã à frente de seu tempo e defendeu uma participação maior das mulheres na igreja e na sociedade e o mesmo acesso à educação do que os homens. A reformadora pregava que não existia um Evangelho para homens e um Evangelho diferente para mulheres.
Além de enfrentar perseguição por sua fé protestante, Maria também foi fortemente perseguida pelos próprios irmãos calvinistas, por causa de sua defesa pelos direitos das mulheres.
Apenas em 2002, sua contribuição com a Reforma Protestante foi admitida. Maria Dentière foi considerada uma teóloga reformadora e teve seu nome gravado no Muro dos Reformadores em Genebra.
Olympia Morata, a mulher mais culta da Europa
Olympia Morata. (Foto: Wikimedia Commons).
Salviano também citou a italiana Olympia Morata como uma reformadora. Ainda adolescente, Olympia se tornou uma famosa humanista e erudita, conhecedora do latim e do grego, e foi considerada a mulher mais culta da Europa na época. Por um período de tempo, ela viveu na corte de Ferrara, na Itália.
Embora seu pai fosse um cristão protestante, Morata não queria estudar a Bíblia e apenas a ciência lhe interessava. Mas isso mudou quando seu pai ficou no leito da morte e deu testemunho de sua forte fé em Cristo. Através dessa experiência, a adoelescente se rende ao Evangelho, tem sua vida transformada e passa a produzir teologia protestante.
“Ela descobre que quando Deus deu seus talentos para ela foi para usá-los no Reino dele. É interessante ela descobrindo sua identidade. A Olympia descobre para que ela nasceu e qual o propósito de Deus para sua vida”, relata Rute.
Mais tarde, Morata se casa com um jovem alemão protestante e se muda para a Alemanha. Durante o restante de suas vidas, o casal enfrentou muitas perseguições e doenças. Mesmo sofrendo de uma febre persistente, Olympia continuou trabalhando pela Reforma, traduzindo textos e os Salmos para serem cantados nos cultos. A tradução do saltério foi um importante fator que uniu os protestantes de muitos países.
Ao final do podcast, a escritora Rute Salviano ainda deixou um recado para todas as irmãs em Cristo.
“Que nós, mulheres cristãs, auxiliadas pelo Espírito Santo de Deus, deixemos nosso legado de amor, de fé, de fidelidade a Deus, de compromisso com o Evangelho de Cristo. Nos alegremos a cada dia na certeza de que quando a nossa jornada terrena terminar, nós vamos receber o nosso bem-vindas de nosso Pai Celestial”, incentivou a autora.
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