Rev. Lucas Guimarães: "O que facilitaria o domínio do anticristo não é a guerra, mas a paz"

Rev. Lucas Guimarães: "O que facilitaria o domínio do anticristo não é a guerra, mas a paz"

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

Da Redação

Em entrevista ao Portal Guia-me , o reverendo Lucas Guimarães, formado em história, falou sobre o conflito entre palestinos e israelenses. Guimarães relatou como deverá ser a liderança do presidente Barack Obama em relação ao confronto e disse sobre o cenário que indicaria a vinda do anticristo. "O desejo de encontrar um mediador é um sentimento próprio do espírito que possibilitará o surgimento do anticristo. Essa busca pela mediação de forma a pacificar o mundo! Veja que o coração humano parece destinado a preparação da vinda do anticristo", afirmou.

Portal Guia-me: Além dos interesses particulares, falta um mediador que possa fazer o diálogo entre o povo muçulmano e o judeu. Você acredita que essa questão facilitaria o surgimento do anticristo e a resolução de uma pseudo-paz?

Lucas Guimarães: Creio que você tem razão. Falta sim um mediador que possa fazer o diálogo entre o povo muçulmano e o judeu. E como é difícil mediar séculos de ódio! Como é difícil mediar forças cujos sentimentos são herdados de décadas de conflitos e que, apesar de todo o desenvolvimento cultural e humano, continua dominando os impulsos profundos. Por outro lado, como é difícil mediar os sentimentos religiosos alimentados pela crença em lideranças tidas como escolhidas por Deus para tarefas que envolvem até destruição em massa. Não existem impulsos mais terríveis do que aqueles nascidos dos sentimentos de ódio, de medo e da religiosidade (quando esta envolve crendices, superstição ou fanatismo). Esses sentimentos tornam o ser humano totalmente alienado dos básicos direitos do outro.

Quanto a questão do surgimento do anticristo, eu acho temerário considerarmos esse ou aquele fato (rumor de guerra e a própria guerra) vinculado a possibilidade do aparecimento do anticristo. Os sinais dos tempos são sinais que devem nos levar a refletir sobre a vinda de Cristo. Eles são somente sinais. Uma febre é sinal de que o corpo está padecendo de uma doença, mas a febre, em si, não é a doença. Assim, nenhum sinal dos tempos é o acontecimento fundante da vinda de Cristo. O sinal é indicativo; cada guerra nos avisa que ele virá.

O desejo de encontrar um mediador é um sentimento próprio do espírito que possibilitará o surgimento do Anticristo. Essa busca pela mediação de forma a pacificar o mundo! Veja que o coração humano parece destinado a preparação da vinda do Anticristo. Vemos um sentimento presente no seio da humanidade que procura por uma liderança que unifique e pacifique o mundo tornando-o um todo harmonioso. Facilmente a humanidade seguiria um líder com esse potencial. Um exemplo atual. No fundo todos torcem para que Barack Obama assuma a presidência dos Estados Unidos e use a sua influência para pacificar as questões mundiais (fome, guerras, etc.) e se ele não fizer isto, ficarão decepcionados. O mundo ocidental está preparado para investir numa liderança de influência mundial, desde que ela promova a paz. Logo, o que facilitaria o domínio anticristo não é a guerra, mas a paz.

Portal Guia-me: 1,5 milhão de moradores da Faixa de Gaza sofreram com os ataques israelenses. Você acredita no enfraquecimento do grupo Hamas com essa atitude de Israel?

Lucas Guimarães: O Hamas será forte enquanto a população palestina depositar nesse grupo sua esperança. Que representação a população palestina deseja? O Hamas é um grupo popular que tem liderança sobre uma população (seja por representação, seja pela coerção). A derrota de um grupo popular depende da descaracterização de sua representação popular. Se a população tem o Hamas como representante legítimo de seus anseios, origens e defesa dificilmente perderá sua força histórica. Estamos diante de um grupo que está inserido no meio popular. O Hamas não é somente um grupo extremista, mas é um sistema de governo popular e um partido político religioso.

Portal Guia-me: Muitos protestos despontaram ao redor do mundo a favor dos palestinos da Faixa de Gaza. Como você analisa o comportamento de Israel? O temor pelos ataques do Hamas justifica os bombardeios na faixa de Gaza? Tendo em vista que os estragos de homens-bomba podem ser gigantescos.

Lucas Guimarães: Em primeiro lugar, a opinião pública mundial nem sempre (para não dizer nunca) possui o poder diplomático. O perigo é cair no extremo de tornar o judeu alvo de repúdio. O que devemos repudiar é a guerra em todas as suas formas e meios, seja por quem for praticada. A ofensiva israelense poderia ser totalmente legal e necessária (pois somente quem mora em Israel sabe o que é viver diariamente marcado pela possibilidade de um atentado), mas as vidas inocentes mortas sempre serão um atentado à humanidade. Na lógica da guerra, a morte do civil não é uma possibilidade, mas uma realidade aceita por quem planeja. É possível até dizer que é atentando contra os civis que se força o inimigo a pedir um acordo de paz. A morte de civis causa danos a uma estrutura de poder mais do que a morte de soldados. Não estou dizendo que essa é a estratégia de Israel. Apenas estou mapeando o comportamento bélico.

A repressália do Hamas é certa. Por isso, a ofensiva israelense tenta ser a mais destruidora possível para que o Hamas seja, de certa forma, privado de seu potencial bélico.

Portal Guia-me: Na sua opinião, quais serão os reflexos dessa guerra no mundo? Você acredita que o temor dos Estados Unidos por ataques terroristas irá aumentar?

Lucas Guimarães: O principal reflexo é que a cada foco de guerra o mundo fica mais inseguro. Quanto ao sentimento norte-americano de temor vai depender muito da forma como responderão a esse impasse e como o mundo palestino e muçulmano entenderá a postura americana. Acredito que os americanos, desde os atentados de 11 de setembro, deparam-se com um aumento de temor sempre que se inicia em qualquer lugar do mundo um confronto bélico ou ataque terrorista. Nunca se sabe se algo que acontece em algum país é um evento localizado ou uma célula de algo maior.  

Portal Guia-me: Que tipo de liderança o presidente Barack Obama deverá ter para não somente tentar chegar a um acordo diplomático no conflito atual, mas também para não incentivar ainda mais a atenção por parte de grupos terroristas?

Lucas Guimarães: O grande problema é que o terrorismo usa o terror como propaganda. Obama deve assumir uma postura que fique claro ao palestino que o Ocidente faz uma nítida distinção entre terrorismo e direitos palestinos. Acredito que uma liderança carismática é capaz de mostrar que o terrorismo é uma forma ilegítima de propaganda, como também a busca dos direitos através da força terrorista. Por carismática, quero que entendam uma postura de boa vontade e de aproximação de forma a gerar uma representação que favoreça a busca dos meios pacifistas.

Portal Guia-me: Como você vê a questão dos corredores humanitários? Ao mesmo tempo em que todos os dias Israel realiza um cessar-fogo, todos os dias mais pessoas são vítimas dos ataques israelenses.

Lucas Guimarães: A guerra por si só é desumana. O criminoso ou o bélico encontra-se em meio ao pacifista ou do inocente civil. Em todas as guerras o civil haverá de sofrer, de forma direta ou indireta, as consequencias, imediatas e a longo prazo, desse mal. Ficamos imaginando como algo tão cruel e desumano tem prevalecido na sociedade humana. A tecnologia e a dinâmica das leis não conseguiram extinguir esse antigo mal. Ficamos refletindo sobre como os pilares, sobre as quais a modernidade tentou sua sustentação, tem caducado em suas propostas básicas e como é difícil avançar nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Por incrível que pareça ainda estamos lutando pela liberdade (de imprensa, etc.). E como pensar, então, em igualdade e fraternidade? Falo como a uma sociedade que tem esses princípios como fundantes para os direitos humanos. Os impedimentos ao socorro às vítimas já são parte natural da desumanidade da guerra. Não se pode pedir ao diabo que seja bom, e nem a uma guerra que seja humana! Israel está sob a lógica da guerra e nessa lógica o inimigo é uma nação e não somente um soldado.

Prestar assistência às vítimas é declarar que nem a guerra pode tirar de qualquer que seja o direito de socorrer o outro.

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