Rondônia quer investir no turismo religioso para atrair evangélicos

Rondônia quer investir no turismo religioso para atrair evangélicos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:00

O novo superintendente de turismo do Estado, jornalista Júlio Olivar, se autodefine como um estudioso e um questionador das coisas de Rondônia, diz que o turismo economicamente só perde hoje para a indústria bélica, e  se apresenta como mais um soldado desta causa que, paradoxalmente, tem o menor orçamento entre todas as pastas do Estado.Confira 

Rondonotícias: Para quem ainda não lhe conhece, qual a melhor definição da pessoa de Júlio Olivar?

JÚLIO OLIVAR: Bem, eu me autodefino como um questionador, um estudioso  das coisas de Rondônia, e muitas vezes chego a me indignar diante da fragilidade dos projetos que deveriam estar norteando o Estado para o bem do povo, gerando riqueza, gerando fartura, mas a gente percebe que às vezes se desdenha muito a questão do turismo, que é a área em que passei a atuar esta semana, oficialmente. A gente percebe o quanto este segmento poderia já há muito estar sendo explorado do ponto de vista econômico, e até do ponto de vista da inclusão social, já que existem comunidades ribeirinhas, populações empobrecidas abandonadas à própria sorte, e o turismo poderia estar gerando riqueza, gerando fartura – o turismo hoje só perde, em termos de economia, para a indústria bélica, e o Júlio Olivar seria mais um soldado dessa causa.

Rondonotícias: Qual a sua relação, hoje, com o segmento turismo?

JÚLIO OLIVAR: Bem, eu sou gestor, serei gestor, estou sendo gestor. A minha formação é de jornalista, ou seja, é de quem pesquisa, de quem observa, de quem está no meio dessas pessoas que fazem do turismo um negócio e daqueles que potencialmente poderiam estar explorando adequadamente o turismo. Por exemplo, eu sou do Cone Sul, Portal da Amazônia, ligado diretamente à região do Guaporé, o Vale do Guaporé, onde existe um potencial extremo na área do turismo, sobretudo na região de Cabixi, de Pimenteiras, mas não deixei de observar outras áreas, como a região do Baixo Madeira, a nossa capital, que também carece de mais investimentos, enfim, um observador, que tem capacidade gerencial de formar uma equipe, tanto que  o nosso primeiro passo foi incorporar ao nosso quadro turismólogos, estudiosos da área, pessoas que possam discutir tecnicamente essa questão.

Rondonotícias: O Estado de Rondônia padece muito com o descaso, com a pouca atenção que o Poder Público dá a essa questão do turismo e da cultura. Hoje, se nós abrirmos o leque dos potenciais turísticos do Estado de Rondônia,  onde se localizam esses mananciais de turismo de Rondônia?

JÚLIO OLIVAR: Há uma distinção a ser feita entre o que é atrativo turístico e o que é produto turístico. Atrativos turísticos a gente tem aos montes. É o Forte Príncipe da Beira, a própria Madeira Mamoré, o Baixo Madeira, o Vale do Guaporé, enfim, os museus, o centro histórico de Porto Velho, que precisam ser melhor identificados pela população, os prédios, inclusive os tombados pelo IPHAM,  mas são atrativos, não são produtos. Produtos são as pousadas, as agências de turismo, são os promotores de eventos, que agregam valor a esses atrativos. Os atrativos existem na natureza, ou através do casario, enfim,  mas o que se precisa efetivamente fazer é criar a cultura do turismo no Estado de Rondônia.

Rondonotícias: Então não existe essa cultura?

JÚLIO OLIVAR: Lógico que não. Em absoluto. Hoje, por exemplo, o nosso aeroporto da capital – ele é de direito um aeroporto internacional, mas não é de fato, não tem uma alfândega, não tem vôos regulares internacionais. A gente precisa discutir a coisa macro, essa questão aeroportuária, a questão das nossas entradas e saídas, seja por terra ou fluviais. Se você observar todas as entradas do Estado de Rondônia, vamos pegar desde a de Juína, são mais de 200 Km de estrada de terra, lá por Vilhena, a primeira cena que você vê  no Estado é um posto da Polícia Rodoviária Federal  e um tanto de caminhões atolados lá na SEFIN. Região de Guajará-mirim, problemas, região de Pimenteiras do Oeste, região de Extrema, região  de Humaitá – todas as áreas de entrada são feias, não há um centro que possa servir de referência para comercialização de nossos produtos, um Centro de Informação. Nos nossos pontos turísticos, como por exemplo, as Três Marias, não há uma placa, em português, espanhol e inglês explicando ao turista o que é aquilo. Eu percebo que há pessoas que lotam ônibus e vem lá do interior para conhecer nosso shopping Center, mas não há uma placa de sinalização de trânsito indicando onde fica o shopping.

Rondonotícias: Quer dizer que o shoppping também se transformou uma atração turística?

JÚLIO OLIVAR: Sim. Na verdade não podemos nos ater a elementos que fazem parte da história. Nós temos que tratar também a coisa contemporânea. O turismo de eventos, o turismo religioso, os empreendimentos grandiosos como são a Usina, o shopping.

Rondonotícias: Quais as soluções apontadas?

JÚLIO OLIVAR: Veja só. Hoje você corre o risco de pegar um táxi e o taxista falar mal da capital. Então a gente precisa também ter este cuidado de promover eventos para qualificar a mão de obra, o taxista, o cara da rede hoteleira, o pessoal que lida com gastronomia, o atendente do restaurante, enfim, uma gama de serviços que precisam ser melhorados.

Rondonotícias: Superintendente, como é que o senhor encontrou a pasta?

JÚLIO OLIVAR: Olha, do ponto de vista institucional, eu não tenho o que reclamar. Eu estou aqui acompanhado do Anísio Gorayeb, servidor de carreira do Estado, figura notável, que dentre outras pessoas me encantaram sobremodo, porque não foram pessoas indicadas politicamente – nós recebemos diversos currículos e avaliamos pelo prisma técnico, com a anuência plena do governador Confúcio, que dentro de um prazo de 120 dias pretende transformar a superintendência em secretaria, para que haja autonomia tanto administrativa quanto orçamentária. Então, do ponto de vista institucional, para ser franco, do ponto de vista tecnocrata, a secretaria estava andando, mas faltava uma visão mais proativa, não há nenhum projeto em trâmite – aliás, havia até alguma coisa, alguns disparates, como participar de feira internacional para divulgar Rondônia – mas divulgar o que?  Aí, no material institucional, o slogan era “venha pescar em Rondônia – mas pescar o que? Aonde? Outra coisa. Tem turistas que se deslocam do eixo sul-sudeste para matar pato selvagem, lá na região de Cabixi, ou Pimenteiras do Oeste – caçam com cartucheira, e com um tiro só matam 10 patos e limpam um só, crime ambiental, evidentemente, mas já que a prática existe, porque não instituir? Cobra por cabeça o animal R$100,00, deixa o dinheiro lá, faz com que o morador, o ribeirinho, seja preparado para ser um hospedeiro desse turista do sul e do sudeste. Porque não instituir, porque não legalizar, porque não tratar isto pelo fórum institucional, ao invés de apenas se comportar hipocritamente como “politicamente correto” – são questões prementes que a gente precisa tratar no âmbito técnico, político e econômico.

Rondonotícias: Quais são as suas metas, o que o senhor traçou pra tratar a questão do turismo?

JÚLIO OLIVAR: Nós, durante o seminário “Marco Zero”, que foi  instituído pelo Governo do Estado como sendo um plano de metas apresentado por cada uma das pastas, para que a gente possa se cobrar nesses primeiros cem dias, e voltemos a nos reunir no dia 10 de março, para poder efetivamente tratar daquilo que foi realizado, a prioridade zero da SETUR  foi criar um cenário propício para elevação da superintendência à condição de secretaria de estado – hoje em dia ela é um apêndice da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, e isso traz uma série de problemas, porque não nos dá a autonomia plena que a gente precisa na questão gerencial. Às vezes precisamos  “correr o pires” para miudezas, para poder desenvolver nossos trabalhos – o turismo não pode ser um apêndice, uma coisa à toa, como é hoje. Nós temos o menor orçamento dentre todas as pastas.

Rondonotícias: Qual é este orçamento?

JÚLIO OLIVAR: Cerca de R$ 2 milhões, mais ou menos. Não é quase nada, e sempre que é necessário eles remanejam esses recursos do turismo, porque efetivamente o setor não tem ações concretas que justifiquem mais recursos, também. Mas não vamos ficar fechados lá dentro da SETUR tratando de questões meramente administrativas, afora isto nós vamos tratar com a FIERO, com o SEBRAE, com os empreendedores do segmento do turismo – o turismo na Amazônia, de um modo geral, ele não é somente venda de serviços, é venda de conceito, e nós temos que levantar essas demanda, fazer um amplo diagnóstico, até para poder elencar recursos a serem levantados junto à bancada federal.

Rondonotícias: E o turismo de eventos?

JÚLIO OLIVAR: Hoje em dia o turismo de eventos anda tão incipiente, até amador, eu diria, que empresas como Claro, Oi, Banco do Brasil, estão repondo o dinheiro destinado ao marketing institucional destas empresas por conta da falta de projetos daqueles que promovem eventos. Agora, é evidente que o Estado não vai captar recursos, o Estado age como facilitador, como orientador, trabalha a questão institucional. É preciso profissionalizar, eu preciso diagnosticar, eu preciso de uma ampla consultoria voltada para este setor, enfim, muitas atividades, muito mais no sentido da orientação.

Rondonotícias: Qual o primeiro passo que o senhor pretende dar para mostrar sua marca?

JÚLIO OLIVAR: Agilizar os trabalhos do Museu de Guajará-Mirim, a segunda cidade do Estado de Rondônia, que tem um veio turístico fortíssimo. O museu está abandonado, está às traças, então os recursos são federais, em torno de R$800 mil, há uma contrapartida do governo em torno de R$40 mil, e essa obra já foi inclusive licitada, a ordem de serviço já foi emitida, agora a gente vai cobrar, tanto da empresa que venceu o processo licitatório quanto do órgão de obras, o DEOPS – hoje eu estava tratando com o Anísio Gorayeb para a gente se dirigir ao Departamento e à empresa para que o canteiro de obras seja efetivamente instalado. Vamos conversar com o prefeito de Guajará-Mirim.

Rondonotícias: Superintendente, nesse momento abre-se o site da SETUR e não se vê quase nada, está tudo parado, o calendário não tem nada!

JÚLIO OLIVAR: Mas que calendário? Os órgãos não se falam, não se conversam. Dos cinqüenta e dois municípios há apenas cinco secretarias municipais. Nós temos também que instigar os prefeitos para ter esse  entendimento da necessidade do turismo. Nós temos um empreendimento nascente – nascente não, que já é de certa forma até antigo, a “Fazendinha”, que tem em Ouro Preto, em Médici, e eles pretendem fazer essa Fazendinha de Porto Velho até Vilhena, e fazer disso um circuito, e alguns desses restaurantes, dessas pousadas, estão fora do eixo da BR 364, então o que nós podemos fazer? Conversar com os prefeitos e dizer: olha, estrada vicinal não é papel do Estado, mas vocês fazem isso lá. Nós conversamos com o BASA, conversamos com o empreendedor, para que se aplique recursos, para que se favoreça esses empreendimentos, e leve benefícios, geração de empregos, qualidade vida, movimento em outros segmentos, porque há um efeito dominó também nisso, para favorecer os municípios, e o prefeito então dá também a parte dele – é preciso, portanto, se conversar.

Rondonotícias:O blogueiro e governador Confúcio Moura estabeleceu um prazo de 90 dias para melhorar a questão da saúde e quem não mostrasse a sua marca, a “marca da fera”, não permaneceria. Do jeito que o senhor encontrou essa superintendência,  o senhor acha que vai conseguir?

JÚLIO OLIVAR:Tanto vou que nos primeiros dias agora, nos primeiros quatro dias, já houve algumas mudanças consideráveis – já começamos a mudar algumas coisas, com reuniões de serviço - Já estamos nos reunindo pelo menos uma hora todo dia para fazer avaliação dos trabalhos, uma agenda consistente, vamos começar a fazer essa questão do diagnóstico, já tem algumas agendas com prefeitos do interior – ao invés de fazer visitas ao exterior para divulgar o que não existe, de participar de feira internacional, nós vamos elencar as necessidades de Rondônia, alavancar a questão do turismo doméstico.

Rondonotícias:  Exatamente nesse aspecto, o que se tem que fazer para atrair as pessoas para vir para cá e se sentir bem? Como vai aproveitar estes atrativos turísticos?

JÚLIO OLIVAR: Na verdade, estes atrativos já existem, o que não existe é uma rede, uma difusão em rede desses atrativos. Por exemplo, Minas Gerais tem o circuito histórico, composto de Mariana, São João Del Rey, Ouro preto; tem o circuito das águas, Araxá, Caxambú e tal. Aqui em Rondônia tem este potencial – Vilhena, o melhor clima do Estado de Rondônia. Por que não criar lá uma estância climática? Elevando o município a esse status de estância climática, favoreceria a atração de recursos através da Embratur, da iniciativa privada, do Ministério do Turismo; Circuito das Águas, na região de Cacoal, então a questão é consolidar o que já preexiste. A questão, por exemplo, do cone sul, diz-se que Vilhena pé a capital da fé – tem 146 templos evangélicos e é, em proporção, o maior número de evangélicos do país, segundo dados do IBGE de alguns anos atrás. Por que não fazer um grande evento lá, para trabalhar essa questão do turismo religioso?

Rondonotícias: O que mais poderia ser feito?

JÚLIO OLIVAR: Depende da área de interesse de cada um. Temos, por exemplo, a Rondônia Inca, que atrai turistas, acadêmicos do mundo inteiro, tem livros que são Best Sellers fora do Estado de Rondônia.  O ano passado publicou Mont Hill, jornalista do The Times, um livro que se tornou best seller tanto nos Estados Unidos como no Canadá falando de Rondônia. E isso não é de hoje: em 1938, Levy Strauss esteve aqui e escreveu seu célebre livro “Tristes Trópicos”, falando das nossas riquezas, da nossa arqueologia, da antropologia – isso também é uma forma de atrair turistas. No ano passado, o filme que ganhou, tanto no Festival de Berlim, na categoria longa metragem – documentário, como também no festival de Gramado, e não foi exibido em Rondônia. Há uma displicência, um desdém, uma falta de engajamento, e dentro dessa linhagem transversal que tem que tratar o turismo, temos que envolver outros setores, a educação, o esporte, todas essas vertentes são importantes para desenvolver o turismo.

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