Rotinas possíveis...

Rotinas possíveis...

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:07

 

casalEles acordavam e já se amavam, o sono restaurador lhes favorecia a começarem dispostos, o olhar de esperança sentiria cansaço apenas no decorrer do dia, não antes. E se prometiam em amor como se fosse no primeiro encontro, repetiam juras e segredavam seus primeiros sentimentos como se nada soubessem um do outro. Era como regar a mesma planta com a mesma porção d’água, fazendo da rotina o alimento estável para o crescimento do amor.
 
Um dia de rotina simples é apenas um dia de rotina, mas um dia sem os pequenos rituais de proteção do amor, é um dia em direção ao precipício do relacionamento. Há que se regar todos os dias.
 
Alimentados de ternura e afeto, dirigiam-se à labuta criativa, tudo valia a pena porque as mãos se dedidavam a deixar fluir os desejos da alma. Seu trabalho era a manufatura de seus sonhos, faziam com amor o que de melhor podiam fazer, para compor o restante de criação que lhes cercava. Não havia preocupação com o que comer, vestir, onde habitar. Haviam aprendido com os pássaros, que apenas cumprem sua vocação sem se questionar quem os protegerá. Aprenderam, inclusive, a melhor maneira de adorar ao Criador, observando a adoração da criação. Entendiam que seu trabalho era adoração e se viam parte de tudo. Daí a coragem e a força na estações de estio. Daí a bravura em buscar sentido, mesmo quando a hostilidade e o despropósito do consumo destrutivo tentavam lhes roubar propósito. Pensavam um no outro, em pessoas queridas, no poder que o Criador tem de transformar a mais simples tarefa na construção de um mundo melhor. Descansavam a alma e trabalhavam.
 
Façam na vida algo que amam e descobrirão que um dia sem dinheiro é apenas um dia sem dinheiro, mas um dia sem ter feito algo que realmente expresse sua alma é um dia perdido.
 
Ao entardecer contemplavam o espetáculo natural e sua alma conversava com o Criador. Era na viração do dia, quando nada mais lhes chamava atenção e eles silenciavam. Seu silêncio era entrega de todas as palavras e ecomções que não davam conta de entender e explicar enquanto os dias iam passando, era a parte de cada um que o outro não conseguia acessar totalmente, evidenciando que mesmo na mais completa comunhão entre os pares, há ainda uma porção de cada um que somente o Criador conhece.
 
O engano da alma é crer que haverá em toda a criação alguém ou alguma realidade capaz de satisfazer uma parte dela que somente se satisfaz no Criador. Daí tratar o que nos cerca com a devoção que somente Deus merece receber. Daí nossa enorme frustração e insatisfação.
 
Um dia com insatisfações é apenas um dia mau, mas um dia sem conexão consciente com o Criador, é um dia de angústia e fantasia adoecida.
 
Antes de adormecer, se amavam, plenos, cansados e ainda desejosos, com o olhar marcado pelas trilhas do dia, mas resgatado pelo espelho que o olhar do outro se tornava. Era o amor da insistência, da dedicação, da consciência de que o melhor do dia há de ser entregue como presente ao outro, para que cada dia seja apenas a trajetória de duas almas que se encontraram e que decidiram se encontrar sempre, como se fosse a primeira vez.
 
Tudo isso porque decidiram oferecer o melhor de si ao que realmente importa, porque administravam a vontade e a preguiça da existência de modo a manter acesa a chama certa, porque souberam que são duas pessoas dispostas que nutrem o amor, porque o amor não é um sentimento involuntário que nos arrebata por si, mas é o resultado de intenções conscientes e amadurecidas, de olhares que decidiram como definir a realidade que os cerca. O amor é o exercício da disposição consciente e do bom olhar pra vida, no final das contas é apenas isso.
 
Todos os dias carregam em si mesmos o potencial de fazer do dia tanto um dia de enfado, distanciamento, tristeza e niilismo; quanto de simplicidade, amor, ternura, significado e satisfação mútua.
 
É a maneira como reagimos ao que o mundo é que faz cada dia ser o que desejamos que seja.
 
 
 
- Alexandre Robles
via Facebook
 

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