Sandro Baggio fala sobre artistas que influenciaram sua jornada cristã

Sandro Baggio fala sobre artistas que influenciaram sua jornada cristã

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:37

Com esta postagem iniciarei uma série  semanal nos próximos meses sobre artistas cujas músicas influenciaram bastante minha jornada cristã até aqui. Algumas destas músicas são como porto-seguro para minha alma – um local onde eu posso retornar de quando em quando e lembrar de coisas boas que alimentam minha esperança, minhas convicções e meu senso de vocação e chamado. Alguns destes artistas são brasileiros, outros de outras nacionalidades. A maioria são cristãos confessos, alguns não declaram publicamente sua fé.

Quero começar com o MILAD (sigla para Ministério de Louvor e Adoração), um grupo musical formado na década de 1980 por músicos profissionais que se lançaram num projeto missionário através da arte.

Foi em 1986 que ouvi o MILAD pela primeira vez, numa apresentação ao vivo do seu LP de estréia Água Viva (1985). Confesso que a música não me atraiu tanto. Naquela época,  a única música que me atraia era rock (quando mais pesado, melhor!). Por este motivo, o ritmo andino da primeira música “Todos os Que Procuram” não causou-me boa impressão e quase desisti de ouvir o restante. Ao mesmo tempo, letras sempre foram importantes para mim e as letras apresentadas pelo MILAD eram diferentes das que eu estava acostumado a ouvir nas igrejas (algo que se tornaria ainda mais evidente nos discos Retratos de Vida e Pra Cima Brasil). O que me cativou mesmo naquela noite foi a interpretação de “Pai Nosso” por João Alexandre. Quando o ouvi cantar, soube imediatamente que estava diante de um artista singular.

O MILAD lançou outros discos: Milad 1 (1986), Retratos de Vida (1987), Milad 2 (1988), Pra Cima Brasil (1990) e Milad 3 (1995). Estes discos trouxeram cânticos que foram cantados nas igrejas brasileiras por muito tempo, tais como Não Tenhas Sobre Ti, Água Viva, Conheci um Grande Amigo e Time de Deus.

Uma das canções mais marcantes e, provavelmente, a mais tocada em rádios cristãs que começaram a surgir no cenário brasileiro seria “Brasil”, composição de João Alexandre que se tornou um hino de uma geração de crentes despertando para realidades políticas e sociais do nosso país. O tempo se passou e ainda hoje esta música me comove quando a ouço:

Como será o futuro do nosso país?

Surge a pergunta no olhar e na alma do povo

Cada vez mais cresce a fome nas ruas, nos morros

Cada vez menos dinheiro pra sobreviver

Onde andará a justiça outrora perdida?

Some a resposta na voz e na vez de quem manda

Homens com tanto poder e nenhum coração

Gente que compra e que vende a moral da nação

Brasil olha pra cima

Existe uma chance de ser novamente feliz

Brasil há uma esperança!

Volta teus olhos pra Deus, o Justo Juiz

  Mas foi “Retratos de Vida” lançado em 1987 que se tornou um dos clássicos em minha biblicoteca musical. Ainda hoje, passadas mais de duas décadas, este disco continua uma obra à parte na música cristã brasileira. Primeiro porque se trata de um disco conceitual, usando as ruas e a vida noturna de São Paulo como pano de fundo para sua poesia e melodia. Não me lembro de muitos álbuns conceituais na música cristã brasileira (tirando evidentemente as “cantatas”), portanto, isto já coloca “Retratos de Vida” num patamar destacado. Fora isto, a música é de excelente qualidade e totalmente contextualizada com o cenário apresentado por suas letras e temática. E tinha um rock paulista a la Titãs (Virada Radical) que escutei “até furar o disco”:

Tudo se inicia de maneira displicente

Sigo na rotina de uma vida dependente

Coisas pra queimar, lances pra cheirar

Um mundo colorido, mil mutretas pra inventar

Palavras repetidas dizem tudo novamente

Evidentemente de uma forma diferente

Minas, heroínas, transas coisa e tal

Eu precisava tanto uma virada radical Em “Pobres ricos sem Jesus” o cenário muda para aqueles que dedicam sua existência na busca por riqueza somente para perceberem sua profunda pobreza interior que nenhum dinheiro acumulado e gasto com luxos e prazeres pode preencher: Subiu na vida de avião, comprou até o que não quis

Cumpriu seus sonhos, sua paixão, daria tudo só pra ser feliz

Foi no horizonte procurar a fonte e o brilho do prazer

Na esperança de encontrar melhores dias pra viver

Mas como ser feliz? Onde encontrar a paz?

Coisas que tanto quis e não sentiu jamais

No coração

  A faixa “Meninos de rua” chamava a atenção da Igreja Brasileira para os menores em situação de risco que começavam a crescer em número nas ruas das grandes cidades brasileiras:

Sua rua sua casa, sem carinho, os pés no chão

Olhos fundos, peso raso, nenhum pai, muitos irmãos

Desencontros e trombadas, desesperos, fantasias

Pesadelos quase sonhos, vida pobre às escondidas

De tão pobre a sem-vergonha, de criança a rejeitado

O coitado vagabundo que nem cuida do nariz

Sem escola, só na cola, tem consigo seus heróis

Camburões, faróis, algemas, desta vida que não quis

Sempre cada um na sua, sua rua seus caminhos

A procura de algo novo, bons motivos pra viver…

  “Esquinas Cruéis” retrata a vida das mulheres que vendem seus corpos nas esquinas da cidade. As palavras desta música me vieram à mente muitas vezes ao sair com os missionários do Projeto Toque para ministrar nos prostíbulos no centro da cidade:

De longe se vê sua imagem, sua tatuagem, seu jeito de andar

Olhar de menina, corpo de mulher

pros homens um vício qualquer

Sem eira nem beira, de qualquer maneira

Se esconde entre brincos, colares e anéis

Escrava da sorte, esquinas cruéis

Conhece os normais e os doentes

de tão diferentes parecem iguais

Pois pagam seu preço, desfrutam seu corpo

confundem prazer com amor

No seu dia a dia a mesma agonia

vender pra ganhar pra chorar pra sofrer

Contrariando a vida pra aos poucos morrer

Você tem o preço mais alto e Deus lá do alto um dia já pagou…

  As fotografias da vida urbana apresentadas em “Retratos de Vida” continuam sendo uma triste realidade e desafio tanto para a sociedade como para a Igreja. Como diz a frase na música “Meninos de Rua”: “Pois se Deus assim te ama é preciso a gente crer, que o amor de Deus é justo é há muito o que fazer…” Sem dúvida, há muito mesmo que fazer, sempre no espírito da oração: “Venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade, na terra como no céu.”   Por Sandro Baggio  

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