Sandro Baggio, pastor no Projeto 242, comenta sobre o PL 122

Sandro Baggio, pastor no Projeto 242, comenta sobre o PL 122

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:40

Confira na íntegra o que Sandro Baggio pensa a respeito do PL 122:   Desde que o PLC 122/06 se tornou do conhecimento público, uma grande controvérsia se levantou entre os cristãos em torno do mesmo. De um lado, há aqueles que são totalmente contra e têm manifestado seu posicionamento de forma pública e, às vezes, veemente. Do lado oposto, há os que, defensores dos direitos humanos e contra injustiças sociais, são favoráveis à causa gay e encaram o primeiro grupo como reacionários fundamentalistas e outros termos mais depreciativos. E tem uma parcela silenciosa, possivelmente enxergando os pontos de vista de cada lado, mas não se identificando com nenhum deles, esperando que tudo isso acabe logo e que, para o bem de todos, a “paranóia dos fundamentalistas” se revele como falsa.

  Não sou homofóbico. Qualquer pessoa que me conhece realmente ou já meu ouviu falar sobre a questão da homossexualidade, sabe isso. A única maneira de me rotular de homofóbico seria equiparar homofobia à minha confissão de fé. Neste caso, confesso, acredito que o sexo de acordo com dos propósitos de Deus deva ser praticado entre um homem e uma mulher dentro da aliança do casamento. Qualquer expressão sexual fora disso é pecado, claramente expresso na Bíblia. Isto não quer dizer que tenho todas as respostas para a questão da homossexualidade. O assunto é mais complexo do que apenas dizer que é pecado (e, como já disse, creio que é pecado). Mas quando reduzimos a questão a tão somente dizer que é pecado, temo que estejamos tornando verdade o que uma amiga que conhece de perto a condição homossexual disse: “Nem o Estado nem o Clero os compreende nem tão pouco os ama ou deseja profundamente defendê-los.”

  Todavia, o que tem me deixado cada vez mais incomodado é a postura dos que se auto-denominam cristãos ou seguidores de Jesus no que diz respeito ao PLC 122/06. Parece-me que este é o “assunto proíbido” do momento. Se não for para apoiar, não se fala nada a respeito. Como disse Luiz Felipe Pondé em sua coluna semanal na Folha: Todos têm medo de dizer qualquer coisa que não seja “gay é lindo.”&S232;&S232; Posso estar completamente enganado, mas penso que as razões para isto são as seguintes: Muitos cristãos sinceros não entenderam que o PLC 122/06 não é contra homofobia, mas contra a liberdade de expressão. Não é à toa que tem sido rotulado de “cala-boca” e “lei da mordaça” por seus oponentes. A Senadora Marta deixou isto muito claro ao propor uma emenda que garantiria aos cristãos o direito de expressar suas crenças à respeito da homossexualidade dentro dos templos (mas não fora deles?) O que estão querendo fazer? empurrar os cristãos para uma fé privada dentro dos templos? Isto significa que qualquer registro de audio, vídeo ou em forma escrita de opiniões contrárias a prática da homossexualidade poderia ser usado contra seus autores caso seja divulgado fora templo? O PLC 122/06 é uma tentativa violenta de calar a boca de quem discorda da prática da homossexualidade com ameaças de punições que não existem nem para outros casos de constrangimento sexual. Enfim, os problemas legais com relação ao PLC 122/06 são muitos e é preciso tapar os olhos com as duas mãos para ignorá-los completamente.

  Muitos cristãos pós-modernos adotaram um visão liberal da Bíblia e já não acreditam que a prática da homossexualidade seja pecado. Aliás, não acreditam em nenhum tipo de pecado pessoal, quando muito só no pecado social e talvez institucional. As escolhas humanas são apenas uma questão de escolha, de ética que muda conforme os tempos e costumes dos povos. Qualquer tentativa de identificar um determinado comportamento como sendo pecaminoso é visto como moralismo religioso e logo já começam as acusações de “fundamentalista”. Os problemas desta visão relativista do mundo são muitos e, francamente, não entendo como alguém que diz seguir Jesus pode embarcar num barco tão furado assim. Talvez seja uma tentativa de manter sua “fé crist㔠enquanto busca ser relevante, esquecendo-se do que João disse: a amizade com o mundo (sistema/padrão de pensamento que rege as pessoas que não seguem a Verdade) se torna inimizade para com Deus.

  Há muitos que, mesmo não sendo favoráveis à prática da homossexualidade, preferem ficar em silêncio porque acreditam que se manifestar contra o PLC 122/06 é sujar a causa de Cristo, demonstrando falta de amor a todas as pessoas, independente de seu pecado. Muitos pensam que a melhor maneira de demonstrar amor pelo homossexual é não tocar no assunto, para não dar a falsa impressão de que são contra os homossexuais como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus. Entendo este receio. É realmente muito difícil dizer a uma pessoa que você a ama, mesmo discordando de algo que é precioso para ela. Mas não creio que o silêncio, neste caso, seja a melhor resposta. Pois, como já foi apontado por alguns, se o PLC 122/06 for aprovado como está, poderá aprofundar o risco da homofobia e violência contra homossexuais. Portanto, se alguém realmente acredita que a prática homossexual seja contrária à vontade de Deus, mas deseja demonstrar amor e apoio à pessoa do homossexual, inclusive defendendo sua integridade física e seus direitos como cidadão (e creio que todo seguidor de Jesus deveria fazer isso), creio que seria melhor sair do silêncio para encarar a realidade da ameaça do PLC 122/06.

  Sinceramente, tenho problemas com todas os posicionamentos acima. Condeno o PLC 122/06 como projeto que ameaça a liberdade de expressão do pensamento e por isto tenho me manifestando publicamente contra este projeto de lei. Mas não me sinto confortável com o modo como muitos pregadores se dirigem a esta ameaça. O tom veemente de muitos soa mesmo como homofobia. Isto é um problema para mim e, creio, para o Evangelho de Cristo. Ao mesmo tempo, não acredito no liberalismo teológico. Para mim, liberalismo teológico não é apenas ultrapassado intelectualmente, mas o único fruto que ele traz é morte espiritual. Portanto, ainda que eu não tenha respostas para muitas questões, não estou disposto a sacrificar a verdade bíblica no altar do relativismo pós-moderno. E, conquanto acredito que precisamos tomar todo cuidado para não transformar a Causa de Cristo num embate político/ideológico e não comunicar a mensagem errada à comunidade gay (uma mensagem de ódio e repulsa em vez de amor), creio que o silêncio acerca do PLC 122/06 não é uma opção diante do risco que ele representa. Por isto acredito que precisamos encontrar meios legítimos de nos manifestar antes que seja tarde demais.

Não se engane: o PLC 122/06 não é contra homofobia, é contra a liberdade de expressão.  

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