Sangue árabe, coração judeu, fé em Jesus - Entrevista apóstolo Fábio Abbud

Sangue árabe, coração judeu, fé em Jesus - Entrevista apóstolo Fábio Abbud

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

Por Adriana Amorim

Neto de árabes, diretor da "Embaixada Cristã em Jerusalém" no Estado de São Paulo, presidente dos ministérios da Igreja evangélica "El Shaddai", também em São Paulo, Fábio Abbud foi o primeiro de sua família a ter um encontro real com Cristo. Vindos da Síria, nação que tem um histórico de conflitos com Israel, seus avós chegaram ao Brasil em função de uma perseguição religiosa aos cristãos da época, que levou à morte um dos irmãos de sua avó paterna. Abbud lembra dela como cristã: "Ela carregava sempre uma Bíblia embaixo do braço". No entanto, ele aponta que esse cristianismo estava mais ligado a tradicionalismo e religiosidade. "No meio da família toda, eu fui o que abraçou a fé de uma forma mais entregue", expressa.

Há 10 anos viajando para Israel, o apóstolo afirma que esta é a resposta à chamada profética que está em Zacarias 14:16 - "E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos, e para celebrarem a festa dos tabernáculos" . Assim como os trabalhos da "Embaixada Cristã em Jerusalém" representam o cumprimento da passagem bíblica de Isaías 43: "1. Mas agora, assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu [...] 6. Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas; trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra" .  A organização, sem fins lucrativos, constituída por mais de 150 nações, tem caráter diplomático e é reconhecida pelo Estado de Israel. Os objetivos principais são o repatriamento do povo judeu e a disseminação do Evangelho de Cristo. Partindo de vários países para morar em Israel, muitas famílias judaicas chegam sem condições para moradia e alimentação. A "Embaixada Cristã em Jerusalém" possui representantes em todos os estados do Brasil e levanta fundos para prestação de serviços de assistência social e financeira, em Israel. Após a acomodação destes judeus, os cristãos começam a inserir os ensinamentos de Jesus.

Sob o olhar histórico e bíblico de um cristão, descendente árabe e conhecedor das causas judaicas, Fábio Abbud falou sobre a ação de Israel diante de conflitos como o da Faixa de Gaza, a atuação da mídia na cobertura dos fatos, e sobre uma paz definitiva entre judeus e muçulmanos.

Guia-me: A Bíblia fala que devemos orar pela paz em Jerusalém. Mas a mesma Palavra nos fala que a paz só virá com o retorno de Jesus. Como o senhor entende a chamada bíblica para esta oração?

Ap. Fábio Abbud: Orar pela paz em Jerusalém significa orar pela sua própria paz. Essa é uma missão dada à igreja, porque ela é um instrumento de Deus na terra para trazer a paz, até que toda profecia se cumpra. É como se o mundo fosse uma bomba e Israel o estopim. Quando a gente está orando pela paz naquele lugar, está orando pela paz em toda a terra, porque se houver um conflito em um nível mais profundo, do que esses conflitos de fronteira... A mídia divulga que está acontecendo uma guerra em Israel, mas na verdade isso são conflitos de fronteira, uma ação de Israel contra o terrorismo, defesa de fronteiras, que o Estado é obrigado a fazer para poupar seu território. Israel não é uma nação que ataca outras nações, ela não tem uma filosofia de guerra, tanto é que o exército de Israel chama-se "Ministério de Defesa de Israel". Ela não ataca ninguém, defende-se. Você nunca ouviu falar e nem vai ouvir que um "judeu-bomba" entrou em uma mesquita muçulmana e a explodiu. Israel não sai de seu território para fazer ações terroristas, de destruição e conquista. A guerra do Líbano começou com o Hezbolah mandando mísseis para o território de Israel, foram milhares de mísseis. Agora, no conflito na Faixa de Gaza a mesma coisa, o Hamas começou a jogar mísseis no território de Israel. Mas Israel precisa se defender, fazer uma represália, para não chegar às últimas conseqüências. O terrorismo não mede conseqüências para invadir um território, como o evento das Torres Gêmeas no ano de 2001, quando terroristas entraram no território da nação americana para fazer uma ação daquela magnitude.

Guia-me: Então, a abordagem não está sendo assertiva?

Ap. Fábio Abbud: O que acontece é o seguinte: todo histórico da nação de Israel é de um povo discriminado, alvo de preconceito, perseguido. Jerusalém é a única cidade do mundo que foi invadida e destruída 19 vezes e novamente reconstruída. Não existe outra cidade com esse histórico, de ser invadida, desejada por outras nações, e resistir, lutar para ser reconstruída. A gente não pode desconsiderar o fato de que Adolf Hitler, sem nenhum motivo mais evidente, coerente, matou seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. Hitler não estava tentando conquistar Israel, foi uma coisa maligna, psicopata, de tentar destruir uma raça, um povo e a gente sabe que isso tem um pano de fundo espiritual. Está escrito, isso é uma profecia bíblica que está se cumprindo. Quando eu falo isso, não estou sendo tendencioso, não estou me colocando ao lado de Israel por ser representante da Embaixada Cristã, porque eu também sou árabe, eu também poderia estar defendendo a causa do povo árabe, do povo palestino, do povo muçulmano. Mas a gente tem que olhar com imparcialidade as razões, o contexto histórico, bíblico, para não ser injusto, e a minha análise é nessa base.

Guia-me: A crítica da imprensa pode estar sendo influenciada pelo antiamericanismo no mundo? Especialmente depois da guerra dos EUA e Iraque?

Ap. Fábio Abbud: Veja bem, uma pessoa da minha família fala assim: "O miado do gato é bonito até que o gato chega no seu telhado". Para as nações e a mídia das nações, é fácil avaliar a causa de Israel, e dizer: "as criancinhas estão morrendo em Gaza". É fácil criticar o governo Bush quando ele faz uma ação no Iraque, em um regime que financiou "homens-bombas". Mas por que as nações têm essa facilidade de se posicionar dessa forma, criticando isso? Porque elas não sofreram ações como a do dia 11 de setembro, elas não vivem o conflito que Israel passa todos os dias. Quando a ONU começou a criticar, mandar sanções e a pedir que o governo Sharon (primeiro-ministro de Israel 2001-2006) parasse com ações militares no Líbano, o governante  disse: "as nações não vivem aqui para saber o que a gente passa, então, a gente não precisa dar satisfação". É um povo em desespero, protegendo a sua própria vida. Eu acho que qualquer um que for aviltado na sua soberania, que for invadido no seu território, terá que se defender. Um ladrão entra na sua casa, você não vai fazer nada? Não vai no mínimo chamar a polícia? Se você tiver uma arma e seus filhos estiverem ameaçados, você não vai tentar se defender e defender a sua família? Então, essa é uma questão real, mas que nós só vemos pela televisão, pelos elementos que a mídia, que já é tendenciosa, apresenta. A gente faz uma avaliação em cima de dados que têm uma tendência. E é lógico que o conceito que fica na cabeça das pessoas é o de que Israel derrama o sangue de crianças inocentes, mas a realidade lá é bem outra.

Guia-me: Organizações de direitos humanos defendem que a atitude de Israel fortalece grupos terroristas como o Hamas. O senhor concorda com essa interpretação?

Ap. Fábio Abbud: Para mim é difícil falar dentro de um contexto político, um contexto estratégico- militar, porque eu, como homem de Deus, tenho a visão bíblica. Então, o que eu vejo? Que tudo vai fortalecer as nações inimigas, porque a Palavra diz que Israel vai terminar cercado pelas nações, não só as árabes, mas outras estarão voltadas contra Israel. E nessa hora, quando Israel encontrar-se em aperto, terá que clamar a Deus e, nesse momento, todos vão conhecer o Messias.

Toda a ação que Israel tiver pode ser um paliativo para se defender, para manter uma paz dentro do território, mas isso sempre vai gerar uma conspiração maior, um fortalecimento maior das relações entre as nações inimigas, porque um dia elas estarão unidas contra Israel.

Guia-me: Em sua opinião, os palestinos concordam com a ação do Hamas?

Ap. Fábio Abbud: Não, a maioria não. Outro dia eu vi na CNN uma mãe de um homem-bomba dizendo: 'Faz anos que nós fazemos isso e nunca trouxe benefício para nós'. Muitos deles já têm percebido que isso é nocivo, ruim para eles mesmos. Mas, de um modo geral, isso está incutido, as crianças já são ensinadas a entender os judeus como inimigos: "nós temos que ser fortes, crescer e ter um exército para nos defender". Um lugar onde falta paz.

Guia-me: Em Gênesis 16: 12, o anjo do Senhor fala sobre Ismael, filho de Abraão e Agar: "Ele será, entre os homens, como um jumento selvagem; a sua mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus irmãos". Sabendo que o conflito entre os descendentes de Isaque e Ismael aconteceria, como o senhor entende a bênção de Deus para Ismael, que dele surgisse uma grande nação?

Ap. Fábio Abbud: O povo árabe não é um povo amaldiçoado por Deus, rejeitado, Jesus também morreu pelos árabes e muitos são cristãos. A gente não pode entender também que todos os muçulmanos são terroristas. Isto seria uma visão injusta, errada.

Eu entendo que só haverá pacificação quando aquele que o Criador enviou a esse mundo para trazer a paz entre as nações seja reconhecido, recebido como senhor de todos os povos, de todas as línguas, de todas as raças. E nessa hora estará comprovado que Deus está acima de todas as religiões. Não é fazer distinção entre judeu e muçulmano, mas saber que Cristo é o único que pode dar paz.

Foto: Getúlio Camargo

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