Se existem mercenários no meio evangélico, é porque existem igrejas miseráveis, de acordo com o pastor Neil Barreto, da Igreja Batista Betânia, no Rio de Janeiro.
Embora sua análise tenha sido feita na Conferência Missão na Íntegra, em 2013, o trecho de sua declaração voltou a ser comentado essa semana nas redes sociais. Durante o debate, Barreto avalia que de forma geral, a Igreja se tornou uma empresa familiar que “vai passando de pai para filho”.
“Virou mercado. Isso é fácil de se ver, a não ser que não se queira. Na igreja de mercado o objetivo é o lucro. Dinheiro não é o meio, é o fim”, comenta o pastor.
Barreto ilustra que na igreja de mercado existem os prestadores de serviços — cantores e pregadores — apontados por ele como as estrelas do business gospel. “Não foi assim sempre. Houve um tempo em que a gente pregava e adorava sem pensar no dinheiro. A gente pregava porque era pregador da palavra e a gente cantava porque era adorador”.
“Hoje não. Quando a gente recebe convite, vem a pergunta: quanto você cobra para pregar? A cultura mudou. É uma realidade, faz parte do pacote”, Barreto comenta.
O pastor afirma que embora as pessoas que fazem parte do mercado gospel não admitam que cobram cachê, as igrejas costumam receber um questionário onde apontam o número de pessoas que irão formar o público e quanto pretendem entregar de oferta.
“Depois que você diz quanto vai dar de oferta, ele diz se vai aceitar seu convite ou não”, revela Barreto. “Por que existe um questionário? ‘Minha agenda vai estar livre ou não dependendo da sua oferta’, ‘porque pode ser que no mesmo dia tenha um questionário com uma oferta maior’”.
“São 7 mil reais para pregar, 60 mil para cantar. É a realidade. O cara chega no evento e se tem menos de mil pessoas, ele não canta. Se o cachê é 60 mil e você pagou 59 mil, ele não canta”, o pastor aponta.
Diante deste cenário, ele afirma que os mercenários gospel foram formados pela igreja. “Que igreja? A igreja miserável. Você pode até não cobrar para pregar, mas você sai do Rio de Janeiro e vai até a divisa do Amazonas, deixando sua família, sua igreja, deixando tudo e o cara não paga nem seu almoço? Te coloca para dormir com os cachorros?”, questiona.
“O mercenário não nasce mercenário. Ele começou bem, com boa intenção e com verdade. Mas é preciso que ele tenha passado por tanta necessidade com a igreja miserável que ele falou: ‘Quer saber? Agora eu vou cobrar’. Pagaram. ‘Dinheiro é sempre bem vindo. Vou aumentar um pouquinho para ver se dá certo’. Deu certo. A igreja miserável gera o mercenário”, destaca Barreto.
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