Ninguém jamais conseguiu me explicar convincentemente o episódio em que Jesus expulsa os comerciantes do templo (João 2:13-17).
Como pode se irritar tanto o Deus que é essencialmente amor? E o que há de tão errado em vender mercadorias no templo? Aliás, alguns comentaristas bíblicos afirmam que a prática era comum, até porque muitos vinham de longe, viajavam por vários dias, e precisavam comprar os itens que ofertariam no santuário.
No entanto, há dois problemas. O primeiro é que o espaço ocupado pelos cambistas, a saber, o pátio do templo, era o local de adoração dos gentios. Ou seja, ali era o ponto máximo onde os não judeus conseguiam chegar para adorar, pois somente aos judeus era concedido o acesso interno. Os povos da Terra tiveram sua adoração comprometida, e isso transtornou o Mestre.
O segundo problema é que, aparentemente, o comércio constrangia a adoração dos menos favorecidos. As pessoas que traziam ofertas simples, trazidas de casa, viam seus esforços depreciados. Somente aquelas hortaliças, aqueles animais e aqueles artigos eram adequados para a adoração, segundo os vendilhões.
Agora sim, a coisa começa a fazer sentido. O Deus que abraça e inclui quer ser adorado não somente por nobres judeus, mas também por pobres e estrangeiros.
É preciso que todos tenham acesso. Minha vida precisa facilitar o acesso das pessoas a Deus, como rampas para cadeirantes. O problema é que, por vezes, minha vida é tão auto-focada que acaba impedindo que pessoas venham a Deus por meu intermédio. E nesse caso, não facilitar já significa dificultar. A omissão já consiste, por si só, em uma ação de bloqueio.
É um raciocínio simples: quem dificultar a adoração a Ele, da parte de quem quer que seja, terá eventualmente a sua banca derrubada. Passionalmente. Agressivamente.
- Mario Freitas