Teólogo destaca as diferenças religiosas entre judeus e muçulmanos

Teólogo destaca as diferenças religiosas entre judeus e muçulmanos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

Na última quarta-feira, dia 21 de janeiro, as tropas israelenses, após negociação com o grupo Hamas, se retiraram da Faixa de Gaza. Em entrevista ao Portal Guiame , o teólogo Carlos Vailatti falou sobre algumas questões de caráter religioso que definem a crença tanto do povo muçulmano quanto do povo judeu. "Para um árabe, Abraão, em suas peregrinações, passou pela Palestina, pela Arábia Saudita e por Meca. Logo, a região onde se situa o atual conflito no Oriente Médio lhes pertence. Por outro lado, os israelenses também entendem que têm o direito de propriedade sobre essa terra, pois ela lhes foi dada por Yahweh (Deus)".

Em virtude de diferenças como essa, Vailatti não acredita que a trégua estabelecida dure por muito tempo. Confira a entrevista:

Portal Guiame:  Conforme relata a Bíblia, Deus concedeu Ismael a Agar, e, embora não fosse o filho da promessa, a sua descendência seria abençoada e se multiplicaria. No decorrer da história, os descendentes de Ismael acabam entrando em conflito com Israel. Como o senhor vê hoje essa rivalidade, tendo em vista palestinos e israelitas terem o mesmo patriarca (Abraão)?

Carlos Vailatti: No que se refere ao conflito entre palestinos e israelenses, deve ser dito que, para o mundo árabe, Ismael, o filho primogênito de Abraão, deu origem aos povos árabes. Aliás, o profeta Mohammad, ou Maomé, teria vindo dessa linhagem. Além disso, a maioria dos muçulmanos acredita que Ismael foi o menino que quase foi oferecido em holocausto no monte Moriá, e não Isaque. Tal crença é baseada numa passagem do Alcorão onde Abraão teria sonhado que sacrificava a Ismael. Já para o mundo judaico-cristão, Isaque é aquele que deu origem aos israelenses, sendo o filho que quase foi sacrificado em holocausto no monte Moriá, em vez de Ismael. Esta "simples" divergência, sem mencionar tantas outras, explica parcialmente o porquê de tanta rivalidade. De um lado temos o Alcorão, do outro, o Tanakh (a Bíblia Hebraica). De um lado temos Ismael, do outro, Isaque. E bem no meio disso tudo sabe o que há? A briga pela posse da terra! Deus havia prometido a Abraão que daria a ele e à sua descendência (Ismael/Isaque) a terra de suas peregrinações (cf. Gn 17.8). Acontece que, para um árabe, Abraão, em suas peregrinações, passou pela Palestina, pela Arábia Saudita e por Meca. Logo, a região onde se situa o atual conflito no Oriente Médio lhes pertence. Por outro lado, os israelenses também entendem que têm o direito de propriedade sobre essa terra, pois ela lhes foi dada por Yahweh. Resumindo, a disputa pela posse da terra iniciada nas páginas da Bíblia e praticada ainda hoje, está longe de acabar. E digo isso porque os árabes sempre reivindicarão o seu direito de posse da terra baseados no Alcorão, assim como os israelenses reclamarão para si o mesmo direito baseados no Tanakh. É claro que nenhum dos dois lados desejará ceder nessa queda de braços. Some-se a isso tudo o fato de que os palestinos ainda não aceitam até hoje a criação do Estado de Israel, ocorrida em 1948 e, além disso, eles ainda desejam reconquistar os territórios ao Norte e ao Sul da Palestina, os quais foram tomados por Israel durante a guerra de 1948-49. Esse conflito ainda vai longe.

Portal Guiame: Muitos protestos despontaram ao redor do mundo a favor dos palestinos da faixa de Gaza, em razão dos ataques israelenses. Como você analisa o comportamento de Israel? O temor pelos ataques do Hamas justifica os bombardeios na Faixa de Gaza?

Carlos Vailatti: Acredito que a preocupação de Israel quanto aos ataques terroristas do Hamas, em si, não justifica todo esse poderio destrutivo exibido por Israel. Acontece que Israel também está se prevenindo contra uma possível ofensiva realizada também pelo Hezbollah, outra facção terrorista palestina. Além disso, Israel também justifica a morte de vários civis palestinos, alegando que muitos mísseis estão sendo lançados de bases terroristas localizadas em bairros palestinos, os quais estariam dando guarida a tais terroristas. A bem da verdade, a população palestina é a que está sofrendo mais. Está sofrendo internamente devido à sua proximidade geográfica com os terroristas do Hamas e externamente devido aos ataques israelenses.

Portal Guiame: Ainda que uma trégua tenha sido estabelecida, você acredita num cessar-fogo de ambos os lados definitivo?

Carlos Vailatti: Bem, ainda que uma trégua tenha sido estabelecida, não acredito que haverá um cessar-fogo mútuo e de caráter definitivo. Esse cessar-fogo pode até durar algum tempo, mas, mais cedo ou mais tarde, outros conflitos virão à tona.

Portal Guiame: Além dos interesses particulares, falta um mediador que possa fazer o diálogo entre o povo muçulmano e o judeu. Você acredita que essa questão facilitaria o surgimento do anticristo e a resolução de uma pseudo-paz?

Carlos Vailatti: Ora, sinceramente não sei dizer se tal processo de paz e se tal mediador poderiam facilitar o ambiente propício para o surgimento do anticristo. Há muita especulação em torno desses assuntos escatológicos e, além do mais, a Bíblia não é clara quanto a esses assuntos que envolvem a pessoa do anticristo. Creio que o melhor que podemos fazer nestes momentos tão turbulentos e críticos é orar pela paz de Jerusalém (Sl 122.6) e pela paz do Oriente Médio como um todo e ter a esperança de que algum dia tais conflitos terão o seu fim.

Carlos Vailatti é mestrando e professor de teologia.

Fonte: Guiame 

 

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