Teorias sobre novas dimensões fortalecem a ideia de um Criador

Teorias sobre novas dimensões fortalecem a ideia de um Criador

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:41

A compreensão humana acerca do cosmos começou quando o primeiro homem, Adão, olhou para o céu e reparou que, além do sol e da lua, o firmamento tinha uma infinidade de corpos celestes. Milênios mais tarde, instrumentos óticos rudimentares começaram a ser apontados para o céu, mostrando muito mais do que era possível avistar a olho nu. Primeiro, ampliamos nossa compreensão do universo a partir de um planeta com um céu intrigante acima, para um sistema de corpos celestes ao redor do sol; depois, uma galáxia de estrelas. Agora, sabemos que nossa galáxia, de bilhões de estrelas, é uma diminuta parte do universo que inclui imensas superestruturas que contém milhares de outras galáxias – a “Grande Parede”, como os astrônomos as chamam, estruturas a uma distância inimaginável da Terra, calculada em milhões de anos-luz.

Imaginar tamanha grandeza faz com que a mente mais brilhante torne-se como a de Jó: perplexa. Afligido, com o consentimento divino, pelas mais terríveis situações que podem acometer um ser humano, Jó tentou entender os desígnios divinos e foi duramente questionado pelo Senhor, que o desafiou a compreender o funcionamento das estrelas – uma dimensão, evidentemente, muito além do entendimento. Cientistas e filósofos reconhecem que nossa ideia de universo ainda é pequena para a mente infinita de Deus. “A criação é mais vasta do que pudemos compreender até agora”, diz Gerald Cleaver, professor de física da Universidade Baylor, nos Estados Unidos. “Nós, como seres humanos, passamos por fases, compreendendo que a realidade é bem maior do que antes.”

Cleaver e diversos colegas igualmente brilhantes acreditam que a humanidade precisará ampliar sua visão do universo ainda mais: “A vastidão da realidade nos faz apreciar a vastidão do Criador”, diz Robin Collins, professor de filosofia do Messiah College, na Pensilvânia (EUA). “Entro em contato com isso apenas pensando sobre o próprio universo. É um ícone para mim”.

Cleaver e Collins dizem que podemos estar mais próximos do que nunca de uma questão básica entre Deus e Jó, expressa na pergunta do Criador a seu servo sofredor: “Você conhece as leis dos céus?” (Jó 38:33). Eles trabalham com uma vertente teórica da física chamada teoria das cordas, especificamente Teoria M – a mesma base de pensamento que deu ao astrofísico britânico Stephen Hawking, um dos maiores gênios da atualidade, a ousadia para declarar, em seu último livro The great design (“O grande projeto”), escrito com Leonard Mlodinow, que a filosofia e Deus são desnecessários.

“Para mim, a Teoria M apresenta um Deus cristão com uma habilidade criativa muito maior do que aquela que jamais pudemos imaginar”, conclui Cleaver. Isso porque a teoria das cordas é tão simples como uma explicação lírica e musical. Cada partícula do universo era como uma pequena e unidimensional corda de violino. As diferentes partículas existiam por causa das diversas maneiras pelas quais uma corda poderia vibrar. Físicos dizem que, assim como vibrações diferentes são produzidas nas cordas de um violino, as vibrações destas cordas podem produzir elétrons e assim por diante. É dessa forma, diz a teoria, que o universo funcionava.

ACIMA DOS CÉUS

Naqueles dias, nos anos 1990, os debates sobre as propriedades exatas das cordas criaram cinco teorias competitivas acerca do tema. Edward Witten, da Universidade Princeton, descobriu uma forma de moldá-las juntas, mas o resultado não era mais uma teoria das cordas. Uma nova tese então surgiu, a chamada Teoria M, que ainda permanece um rascunho tanto, que nem mesmo os teóricos chegaram a alguma conclusão sobre o que poderia ser a letra M. Pode significar, por exemplo, “membrana”. Nos antigos tempos de teoria das cordas, muitos estudiosos chegaram a acreditar que o espaço teria dez dimensões: as três direções que podemos ver; uma quarta, o tempo; e seis dimensões espaciais, diminutas, ao nível das partículas – e só podem ser percebidas por essas “cordas”. Pois a Teoria M inclui na lista uma décima primeira dimensão, na qual muitas outras coisas parecem acontecer. Além das cordas unidimensionais, a décima primeira dimensão revelou objetos multidimensionais, em membranas duplicadas (são chamadas de p-branas, na versão resumida).

Imperceptíveis para nós em nossa capacidade tridimensional, p-branas podem ser tão pequenas quanto cordas ou tão grandes quanto o universo. Na realidade, alguns sugeriram que nosso universo é uma grande p-brana dentro de uma realidade muito maior. A metáfora do violino não parece encapsular tudo isso. Mas, se os experimentos se provarem verdadeiros, a Teoria M pode resolver diversos problemas técnicos que têm mantido cientistas encafifados na tentativa de criar uma unificada “Teoria do Tudo”. No momento, a Teoria M é a melhor oportunidade que os estudiosos têm de chegar a um desenho completo do universo (ver abaixo). Alguns teóricos da Teoria M, Cleaver inclusive, pensam que esse conhecimento pode levar além: o universo inteiro – planetas, estrelas, galáxias, a Grande Parede e tudo o mais – seria apenas uma “bolha” no oceano da existência, coberta com muitas outras coisas.

A vastidão e a multiplicidade do universo torna possível, na Teoria M, uma diversidade de possibilidades e realidades – talvez, mais de 10 mil possibilidades. Não podemos nem alcançá-las e apenas algumas destas realidades seriam capazes de hospedar a vida humana. Isso, sem falar que muitos estudiosos creem firmemente que o universo está sendo continuamente criado – e poderá ser destruído quando essas p-branas colidirem umas com as outras.

De acordo com Hawking, tanta vastidão e diversidade elimina a necessidade de Deus. “A Teoria M diz que muitos universos foram criados do nada”, ele escreve em seu último livro. “Sua criação não precisou de intervenções sobrenaturais ou de um deus. Ao invés disso, essa multiplicidade de universos é gerada naturalmente de leis da física”. Mas o filósofo Robin Collins diz que Hawking não pode escapar de Deus tão facilmente: se o universo surgiu das leis da física, quem estabeleceu tais leis? E por que essa multiplicidade do universo funciona da maneira como funciona? Tentar aplicar a ciência para a questão de Deus, diz Collins, “é onde os cientistas estão tropeçando em sua área de competência”.

“Um dos problemas com estes argumentos é o fato de que colocam Deus em uma caixa pequena demais”, diz Cleaver. “São teorias que retratam a Deus como alguém que apenas preenche as lacunas que a ciência não consegue explicar. Como teístas, precisamos perceber o Criador como a fonte primária; assim, as leis fundamentais da física tornam-se secundárias”.

Para o professor, a Teoria M, com sua variedade, momentos ininterruptos e talvez infinitos de novas criações, faz total sentido quando relacionado ao trabalho de um Deus que cria eternamente. “Se Deus é verdadeiramente eterno, infinito e coerente”, Cleaver escreveu em um trabalho de 2006, “devemos esperar que crie eternamente e infinitamente, ou então acreditar que não crie nada de uma vez por todas”. Seria um cientista tropeçando em questões filosóficas? Talvez. Mas Collins expressou pensamentos similares. “Paulo diz no primeiro capítulo da Epístola aos Romanos que a natureza e a criação manifestam os atributos eternos de Deus, seu poder eterno e infinito. Um ser infinitamente criativo pode elaborar mais de um universo; na realidade, muitos deles, e talvez até outros tipos de realidade”.

O LEÃO, O KLINGON E O CARPINTEIRO

Mais uma vez, escritores especulativos de ficção estão à frente dos cientistas. C.S.Lewis incluiu, através de As crônicas de Nárnia, um exemplo clássico de universo amplo na literatura ocidental. Os protagonistas de Os anéirs mágicos (ABU Editora) apresentaram a questão de maneira idílica, através de uma calma floresta através da qual poderiam entrar não apenas na Terra e em Nárnia, mas em inúmeros universos além. No decorrer da história, os heróis enxergam um velho universo destruído e uma nova realidade criada, e encontram o único Senhor de todos eles. Sintomática é a afirmação do poderoso leão Aslam aos jovens Edmundo e Lucia, no fim do livro A viagem do peregrino da alvorada (1952): “Vocês precisam se aproximar do seu mundo agora. E lá, eu tenho outro nome. Vocês precisam aprender a me conhecer por este nome”.

Se Deus criou múltiplos universos, Collins e Cleaver afirmam, provavelmente povoou mais do que apenas um. “Sempre tive problemas em perceber o Deus infinito em quem cremos como o Criador de apenas um foco de vida”, admite Cleaver, “Ao longo de todo o passado e futuro da humanidade, teremos apenas alguns bilhões de humanos interagindo com Deus neste mundo. É um número limitado, que não faz sentido teológico consistente para mim”. Collins fica intrigado com a possibilidade de um Messias com duas, três, ou até um milhão de faces. Desde o Concílio de Calcedônia, em 451, a teologia cristã ortodoxa desenhou uma distinção entre a natureza divina e a natureza humana na pessoa de Jesus Cristo. Não haveria razão, segundo crê Collins, para que a natureza divina de Cristo não pudesse se unir a outras formas de encarnação. “Quem vai redimir os klingons? E sabemos que eles precisam muito de redenção, como descobrimos nos vários episódios da série Star Trek”, diz Robin Collins, fazendo menção ao famoso filme de ficção científica. “Deus, o Filho, sendo infinito como é, poderia tomar a natureza de um klingon – uma natureza humana, como uma versão Klingon de Jesus. Então, a fórmula tradicional, na qual está padronizada a ortodoxia, é bastante compatível com a ideia de um universo plural.”

Se um dia se desvendará ou não a realidade acerca desses universos paralelos, ainda é cedo para saber. Fato é que a ideia de vida em outras dimensões vai colocar diante da Igreja questões teológicas e filosóficas difíceis de serem respondidas. E, segundo observa o próprio Cleaver, neste sentido os católicos estão à frente dos protestantes. Em 2009, o Vaticano convocou astrônomos, biólogos, físicos e outros especialistas para discutir a astrobiologia – o estudo da origem da vida e de sua presença no cosmo. Para um sistema religioso que, no Renascimento, perseguiu Galileu Galilei quando o sábio apregoou que a Terra não era o centro do universo, foi um monumental avanço. “As questões da origem da vida e de se vida existe em outras partes do universo são muito adequadas e merecem consideração séria”, disse na época o padre jesuíta José Gabriel Funes, astrônomo e diretor do Observatório do Vaticano. “As igrejas protestantes deviam estar fazendo o mesmo”, observa Cleaver.

Físicos como ele dedicam tempo na dimensão do que é possível e potencial. Experimentos têm sido feitos em lugares como o Grande Colisor de Partículas europeu para determinar a possível veracidade da Teoria M. Por enquanto, um grande número de cientistas duvida que ela seja algo além de uma coleção de fascinantes e ficcionais equações – e, mesmo que esteja correta, ela não garante a existência de um universo plural. Mas os estudiosos como Colllins e Cleaver lembram que, segundo as Escrituras, Deus pode facilmente sustentar 10 mil universos na palma de sua mão. “A beleza de uma teoria é extremamente importante e sugere que seja um retrato da realidade”, diz Cleaver. E isso não é apenas a fala dele, que é um cristão. É também a argumentação de Cleaver, o físico: “A filosofia da beleza da matemática nos ajudam a escolher qual a teoria que pensamos ser mais correta. Quanto mais unificadora é uma teoria, mais bonita se torna a matemática e maior a possibilidade de ser verdadeira. Este é um conceito universal entre os cientistas”.

Collins argumenta que o universo foi estruturado “para a beleza e a elegância”. Ele relembra Paul Dirac, um famoso físico ateu que, em 1963, disse que é mais importante ter beleza em uma equação do que fazer com que ela caiba em um experimento: “Se é possível enxergar a beleza de um ponto de vista da equação, e se alguém tem um insight destes, tal pessoa está certamente em uma linha de progresso”. “Para mim, isto é mostrar a beleza e a ordem da natureza criativa de Deus”, sintetiza Gerald Cleaver. “É o que permite que tenhamos expectativa na ciência para revelar verdades físicas a nós – como a de que o universo, ou o multiuniverso, não é apenas uma existência do acaso”.

Como um grande violino

Apresentada em 1995 pelo físico americano Edward Witten, a Teoria M é um daqueles enunciados quase incompreensíveis para um leigo. Ela é um desdobramento da teoria das cordas, segundo a qual tudo o que existe, seja massa ou energia, seria formado por espécies de membranas que interagem e se complementam o tempo todo. Algo como as cordas de um gigantesco violino que, dependendo da combinação de notas, geraria infinitas possibilidades sonoras. Basicamente, a Teoria M defende que existem várias outras dimensões além das três conhecidas (altura, largura e comprimento), transcendendo o tempo e a matéria.

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