O pastor David Riker é atualmente o vice-presidente do Ministério Êxodus Brasil, que teve sua fundação mundial no Canadá em 1976. Riker também fundou seu próprio projeto, o Ministério SER - Sexualidade & Restauração, que iniciou em Belém do Pará e hoje atua em Belo Horizonte. Em entrevista ao Portal Guiame, o pastor comentou o motivo de tantos jovens que têm dificuldade com sua sexualidade abandonarem a igreja.
Ele inicia falando sobre a criação do Ministério SER. “O SER começou em 2005, em Belém do Pará. Na época, tínhamos o objetivo de alcançar profissionais do sexo e travestis na zona noturna de Belém. Essa visão foi mudando com o passar do tempo e a gente identificou dois grandes problemas. Primeiro, que nós como cristãos sabemos muito pouco sobre o assunto, é uma realidade muito distante a homossexualidade, o vício sexual, toda a questão da demanda sexual contemporânea”, disse ele.
“A segunda realidade é que muitos desses profissionais são ou foram cristãos, vieram de igrejas. Quando tentam voltar, eles enfrentam uma briga muito grande. Então nós fizemos dois movimentos, o primeiro foi buscar treinamento nessa área, uma especialização, buscar entender melhor o assunto. E o outro foi nos voltar para igreja para ajudar a levantar uma igreja local que pudesse acolher todos, os que estão fora quanto e os que estão dentro”, respondeu.
“A gente percebeu que existe dentro da igreja, nas famílias tradicionais, pessoas que possuem demandas que a igreja não toca e não aprofunda, sejam ligados aos comportamentos sexuais ou gênero, identidade sexual, violência sexual e assim por diante. A gente começou um processo de capacitação, juntamente com o projeto Exodus Brasil, que é um ministério que já existia, é internacional. Ele tem uma sede no Canadá e a gente chegou a ir ao Canadá para ter treinamento nessa área. Com o passar do tempo, nós focamos na igreja e eu comecei a desenvolver junto com o Exodus. Hoje eu sou vice-presidente do Exodus, foi onde aprendi muita coisa, como relacionar a igreja evangélica e a problemática contemporânea da sexualidade”, disse.
O pastor David conta que o projeto começou com o viés evangelístico, mas que reverbetou em capacitar a Igreja de Cristo para lidar melhor com essa problemática, os desafios contemporâneos da sexualidade. “Várias problemáticas que estão hoje pulando na cultura, dentro e fora da igreja se torna o nosso campo de atuação e de pesquisa. A gente faz isso através de eventos de capacitação, seminários, conferências no Brasil, temos um curso que nós damos que dura 13 dias. A primeira edição em Belo Horizonte vai acontecer em julho deste ano, 16 a 28 de julho”, conta.
“A gente recebe grupo de líderes pastores e cristãos que tem o interesse em ajudar outras pessoas. Elas ficam 13 dias conosco. A escola é o nosso carro-chefe, porque você tem uma imersão no tema e vai lidar com vários preletores de vários ministérios do Brasil que estão atuando hoje, são os mais equilibrados eu diria”, colocou.
Pastor David Riker e sua esposa Brena Riker, criadores do Ministério SER. (Foto: Reprodução/Facebook).
Porque a homossexualidade é tão complicada?
Questionado sobre o motivo de haver tanta dificuldade da igreja em compreender os desafios da sexualidade no cristão, o pastor David respondeu: “Você tem o componente histórico de como historicamente foi encarado o tema. Com muita ignorância, vergonha e medo. Além disso, eu ressaltaria que nós temos a dificuldade de lidar com assuntos complexos e a sexualidade é um assunto mega complexo. Ela envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociais, comportamentais. A origem da minha sexualidade tem a ver sobre como eu nasci, com o meu patrimônio genético. Tem a ver como eu fui criado, na minha interação com o sistema social, principalmente a família, a interação, se houve abuso, se houve omissão, negligência. Ou seja, a minha sexualidade é resultado de como nasci e interagi com esses sistemas e como respondi a tudo que aconteceu comigo. Então, veja a complexidade”, pontua.
“Tudo que é muito complexo a tendência é reduzir a um aspecto. Então, quando alguém diz que a homossexualidade é genético, não é que está totalmente errado. Pode até estar certo em algum aspecto, no entanto isso é uma redução que empobrece a discussão. Quando digo que é um demônio, eu fiz a mesma coisa. O cético talvez está próximo do fanático religioso, no sentido de que ao dizer que o demônio, é um processo redutivo. Nenhuma dessas áreas explica tudo, é preciso de uma convergência, avaliar cada indivíduo com a sua história, com seu contexto. Por isso a igreja, na minha opinião, opta por uma linguagem e abordagem mais reduzida e aí começa a trabalhar com medo e ganância”, ressalta.
O verdadeiro papel da Igreja
“O que a igreja deve oferecer primeiro é o Evangelho. A sua identidade e a sua vida não é baseada no que você sente. Se você quer seguir a Cristo, você não mais se identifica ou escolhe a vida a partir do que tem atração, a partir do que pensa, a partir do que as pessoas lhe dizem. Você passa a viver a partir da fé. E quando eu falo ‘passa a viver’, eu digo que Deus me olha como homossexual? Ele me olha como transexual? Ele dividiu o mundo entre homossexuais e heterossexuais? Não, Deus olha para o homem e vê se ele está em Cristo, ou seja, vivo, ou se ele não está em Cristo, ou seja, morto”, explicou.
“O Evangelho vai dar vida a essa pessoa, independente do problema que ela tenha na sua sexualidade. A pessoa é convidada a uma profunda reflexão, na maneira como ela se identifica em que está baseada a sua identidade. Se você pensa que é homossexual e vai para a igreja para virar hétero, você está pensando errado. Você tem que pensar, ‘eu sou homossexual e vou para igreja para conhecer a Deus e receber vida’. Existe um problema muito maior do que a homossexualidade na pessoa. Qual o problema? É que ela está morta espiritualmente. Então a igreja deve oferecer a vida de Cristo como vida para todo mundo”, finalizou.
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