Adolescentes promovem campanha contra o casamento infantil

Atualmente, cerca de 650 milhões de meninas vivem casadas, em diversas partes do mundo.

Fonte: Guiame, com informações de Eternity NewsAtualizado: segunda-feira, 7 de março de 2022 às 15:31
Lauri, de 13 anos, da República Dominicana, durante sessão de fotos para a campanha contra o casamento infantil. (Foto: Reprodução/Compassion International)
Lauri, de 13 anos, da República Dominicana, durante sessão de fotos para a campanha contra o casamento infantil. (Foto: Reprodução/Compassion International)

Uma campanha apoiada pela instituição internacional de caridade, conhecida por Compassion Australia, aponta para as meninas que correm risco de casamento infantil na próxima década por conta da pandemia por Covid-19.

Os números são assustadores — 10 milhões de  meninas em risco de serem forçadas ao casamento. Atualmente, 650 milhões de meninas já estão casadas em contexto de casamento infantil. Globalmente, 21% das mulheres jovens se casam antes de completar 18 anos.

Dentro dessa porcentagem, os principais países são Bangladesh, Etiópia e Brasil. O contexto pandêmico acelerou esse risco na medida em que as escolas foram fechadas.

“Sabemos que milhões de crianças não voltarão à escola. Toda menina que recebe educação atrasa o casamento e atrasa a geração de filhos”, explica Sidney Muisyo, diretor de programa da Compassion International.

Além disso, ele conta que a pandemia isolou a todos dos serviços sociais, impulsionando a pobreza. “Quando uma família está lutando com as necessidades básicas da vida, como comida, qualquer criança é uma boca a mais para alimentar e se uma menina pode se casar, é uma boca a menos com a qual ela precisa se preocupar”, ele disse. 

Sobre a campanha

Meninas adolescentes de países — onde o casamento infantil é comum — organizaram uma campanha fotográfica para o Dia Internacional da Mulher. 

O objeto é chamar a atenção para as milhões de meninas que são submetidas a casamento forçado. Nas fotos, as quatro meninas que são de Bangladesh, Etiópia, Brasil e República Dominicana, aparecem vestidas de noiva, brincando ou segurando livros.

As cenas buscam mostrar ao mundo que o casamento infantil priva as meninas de sua infância, educação e escolhas futuras. Esse tipo de iniciativa ajuda a acabar com o casamento infantil em alguns países, particularmente nas áreas mais ricas da sociedade. 

Como resultado desse progresso, 25 milhões de casamentos infantis foram evitados na última década. Espera-se o mesmo resultado em países mais pobres também. 

O que impulsiona um casamento infantil?

Embora a pobreza seja um dos principais impulsionadores do casamento infantil, as meninas em países de renda mais alta também estão em risco.

Na Austrália, 92 casos de casamento forçado foram relatados à Polícia Federal Australiana, em 2020. A Compassion Australia observa que o número de casos, muito provavelmente, seja apenas uma pequena fração do número real. 

Na República Dominicana, embora tenha sido proibido, em janeiro de 2021, os casamentos infantis continuam sem registro e sem controle. A taxa de gravidez no país entre meninas de 15 a 19 anos é quase 50% maior do que a média regional da América Latina e do Caribe. 

Na Etiópia 40% das meninas se casam aos 18 anos. Mart tem 14 anos e está determinada a não ser uma delas. “O casamento infantil é tão primitivo. As meninas são muito afetadas e passam por muitas dificuldades”, ela disse. 


Mart, de 13 anos, da Etiópia, em uma sessão de fotos de casamento encenada para protestar contra o casamento infantil. (Foto: Reprodução/Compassion International)

“A sociedade vê as meninas como adultas”

“As pessoas e a sociedade não aceitam as meninas como elas são. Elas as vêem como mulheres, como adultas. Uma menina que se casa jovem deve abandonar a escola, dedicar-se à limpeza da casa e cuidar de uma criança e de um homem que ela não entende. Em vez de seguir em frente, é como se sua vida tivesse congelado”, disse Lauri, uma das meninas da campanha. 

Eu nem sei cozinhar arroz, como vou pensar no casamento? Por favor, meus amigos, há muito o que temos que aprender antes de pensar em casamento. Aproveite esse tempo: leia livros, estude, sonhe, brinque com seus amigos. Seja quem você é primeiro — seja uma garota”, disse a outra menina que se chama Fracieli.

Meninas precisam sonhar

“Quero trabalhar e ganhar minha própria renda. Meu sonho é ser engenheira e sustentar minha família por um tempo antes de me estabelecer”, continuou Fracieli.

Yolane tem 14 anos e mora com a mãe e dois irmãos mais velhos numa zona rural do Nordeste do Brasil. De acordo com a UNICEF, o Brasil tem o quarto maior número de noivas crianças no mundo — mais de 3 milhões de meninas. 

Cerca de 36% das brasileiras se casam antes dos 18 anos. A irmã mais velha de Yolane se casou quando tinha apenas 14 anos. Sua mãe tinha apenas 12 anos.

“Minha avó conta que meu avô a abandonou com quatro filhos, e ela sofreu muito para criá-los enquanto trabalhava no campo. Minha mãe, de 12 anos, era a filha mais velha e era responsável por fazer todas as tarefas domésticas. A vida era dura”, compartilhou. 


Yolane, a brasileira de de 14 anos, durante uma sessão de fotos da campanha. (Foto: Reprodução/Compassion International)

“Um dia meu pai, de 18 anos, foi até a casa deles dizendo que queria levar minha mãe embora para cuidar dela. Ele se apaixonou por ela, queria se casar e disse que pretendia dar-lhe uma vida melhor. Minha avó permitiu. Meu pai conta que, quando chegava do trabalho, minha mãe estava sempre com as amigas, brincando de boneca. E assim começou o casamento deles. Ainda hoje, essa história me dá arrepios”, disse a garota que não pretende seguir os mesmos passos.

“Antes de me casar, quero terminar o ensino médio, fazer faculdade e ter um emprego. Meu maior sonho é construir uma casa de dois andares para minha família, com piscina no quintal”, disse ao contar que a casa em que vive com a família foi construída por eles mesmos, usando barro e madeira.

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