Alunos da USP discriminam calouros entre "crentes" e "judeus" em mapa ideológico

A lista era um documento de acesso particular do Centro Acadêmico, mas acabou vazando e causando revolta nas redes sociais.

Fonte: Guiame, com informações do EstadãoAtualizado: sexta-feira, 13 de abril de 2018 às 14:07
Alunos da USP participam de protesto
Alunos da USP participam de protesto

Um documento interno com uma planilha elaborada por alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco vazou e acabou causando repúdio no ambiente acadêmico. A revolta foi causada pelo "mapeamento ideológico" contido no documento, que separava os calouros por seus interesses políticos, gostos musicais e até mesmo religião.

Os dados foram obtidos a partir das “páginas curtidas” que cada estudante tem em seu Facebook e seriam usados para mapear novos alunos com interesses políticos semelhantes aos do grupo que hoje ocupa o Centro Acadêmico, a fim de aproximá-los da organização.

Elaborada por integrantes do Coletivo Contraponto, com membros ligados à juventude do Partido dos Trabalhadores (PT), a lista mostra o nome do estudante, uma indicação sobre sua origem (de qual cidade veio e onde estudou), um “mapa de likes” (com uma análise de quais páginas o estudante curte no Facebook para tentar identificar sua orientação política), um link para a página pessoal do calouro na rede social e também a pessoa que seria a “responsável” no centro acadêmico em fazer o contato com o calouro, para tentar atraí-lo para o grupo.

Entre os "apelidos" e rótulos dados aos alunos, estavam “velhão”, “progressista”, “judeu”, "crente", “bolsominion” (apoiador do candidato à presidência Jair Bolsonaro), “maconheiro de esquerda”, “ideologia desconhecida, judia”, “liberal de m****” e até “não tem Facebook, maluca total”.

Após a lista vazar em um grupo dos estudantes, diversos alunos começaram a manifestar repúdio nas redes sociais.

“Rotular as pessoas sistematicamente de acordo com sua crença, gostos pessoais e amizades para futura captação política beira o fascismo”, comentou o estudante Vitor Fuks, que teve seu texto compartilhado até por um docente.

O advogado Renato Stetner, que é ex-presidente do Centro Acadêmico, afirmou que a lista é, de fato, preconceituosa e usa de meios incorretos para alcançar objetivos partidários.

“Há evidentemente uma manifestação de preconceito e de abuso de poder. Estão usando uma instituição que é pública, dos alunos, para atingir fins políticos particulares”, disse o jurista em entrevista ao Estado de S. Paulo

As críticas também continuaram em um grupo fechado de estudantes da Universidade.

“Isso é sintomático de uma política distante da disputa de consciência e pautada na abordagem individual personalista. E isso nunca vai ser uma vergonha pra vocês, mas para o movimento estudantil de esquerda deste lugar que acaba tendo de se ver representado assim”, postou um dos estudantes.

Já o presidente Centro Acadêmico do 11, Luís Fernando Gonçalves, disse ao Estado que o Coletivo Contraponto pede desculpas pelo vazamento, mas ainda assim defendeu o documento.

“Como movimento estudantil, uma das tarefas centrais é de conseguir fazer com que outras pessoas entrem nessa engrenagem. Por meio desse mapa, buscamos identificar em qual espectro ideológico o aluno se identifica mais”, disse.

Luís Fernando ainda reconheceu que parte dos membros do coletivo é ligada ao PT, mas disse que há diferentes correntes na gestão.

Em nota oficial, o diretor da Faculdade de Direito, Floriano de Azevedo Marques Neto, disse que “rejeita veementemente qualquer tipo de preconceito, segregação, intolerância ou classificação desabonadora a membros da comunidade ou em detrimento de quem for”.

Em nota oficial, o Coletivo Contraponto pediu desculpas e admitiu sua 'postura inaceitável'

"Entendemos o constrangimento de ter uma descrição associada ao seu nome em uma tabela a que nem mesmo se tem acesso, bem como repudiamos a presença de termos ofensivos no nosso mapa, e por isso reiteramos, mais uma vez, nossas mais sinceras desculpas", diz o texto do grupo.

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