Um documento interno com uma planilha elaborada por alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco vazou e acabou causando repúdio no ambiente acadêmico. A revolta foi causada pelo "mapeamento ideológico" contido no documento, que separava os calouros por seus interesses políticos, gostos musicais e até mesmo religião.
Os dados foram obtidos a partir das “páginas curtidas” que cada estudante tem em seu Facebook e seriam usados para mapear novos alunos com interesses políticos semelhantes aos do grupo que hoje ocupa o Centro Acadêmico, a fim de aproximá-los da organização.
Elaborada por integrantes do Coletivo Contraponto, com membros ligados à juventude do Partido dos Trabalhadores (PT), a lista mostra o nome do estudante, uma indicação sobre sua origem (de qual cidade veio e onde estudou), um “mapa de likes” (com uma análise de quais páginas o estudante curte no Facebook para tentar identificar sua orientação política), um link para a página pessoal do calouro na rede social e também a pessoa que seria a “responsável” no centro acadêmico em fazer o contato com o calouro, para tentar atraí-lo para o grupo.
Entre os "apelidos" e rótulos dados aos alunos, estavam “velhão”, “progressista”, “judeu”, "crente", “bolsominion” (apoiador do candidato à presidência Jair Bolsonaro), “maconheiro de esquerda”, “ideologia desconhecida, judia”, “liberal de m****” e até “não tem Facebook, maluca total”.
Após a lista vazar em um grupo dos estudantes, diversos alunos começaram a manifestar repúdio nas redes sociais.
“Rotular as pessoas sistematicamente de acordo com sua crença, gostos pessoais e amizades para futura captação política beira o fascismo”, comentou o estudante Vitor Fuks, que teve seu texto compartilhado até por um docente.
O advogado Renato Stetner, que é ex-presidente do Centro Acadêmico, afirmou que a lista é, de fato, preconceituosa e usa de meios incorretos para alcançar objetivos partidários.
“Há evidentemente uma manifestação de preconceito e de abuso de poder. Estão usando uma instituição que é pública, dos alunos, para atingir fins políticos particulares”, disse o jurista em entrevista ao Estado de S. Paulo
As críticas também continuaram em um grupo fechado de estudantes da Universidade.
“Isso é sintomático de uma política distante da disputa de consciência e pautada na abordagem individual personalista. E isso nunca vai ser uma vergonha pra vocês, mas para o movimento estudantil de esquerda deste lugar que acaba tendo de se ver representado assim”, postou um dos estudantes.
Já o presidente Centro Acadêmico do 11, Luís Fernando Gonçalves, disse ao Estado que o Coletivo Contraponto pede desculpas pelo vazamento, mas ainda assim defendeu o documento.
“Como movimento estudantil, uma das tarefas centrais é de conseguir fazer com que outras pessoas entrem nessa engrenagem. Por meio desse mapa, buscamos identificar em qual espectro ideológico o aluno se identifica mais”, disse.
Luís Fernando ainda reconheceu que parte dos membros do coletivo é ligada ao PT, mas disse que há diferentes correntes na gestão.
Em nota oficial, o diretor da Faculdade de Direito, Floriano de Azevedo Marques Neto, disse que “rejeita veementemente qualquer tipo de preconceito, segregação, intolerância ou classificação desabonadora a membros da comunidade ou em detrimento de quem for”.
Em nota oficial, o Coletivo Contraponto pediu desculpas e admitiu sua 'postura inaceitável'
"Entendemos o constrangimento de ter uma descrição associada ao seu nome em uma tabela a que nem mesmo se tem acesso, bem como repudiamos a presença de termos ofensivos no nosso mapa, e por isso reiteramos, mais uma vez, nossas mais sinceras desculpas", diz o texto do grupo.
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