Com sonho de ler a Bíblia, casal de catadores de lixo é alfabetizado em MT

O casal de catadores de lixo reciclável são conhecidos como ‘Lampião e a Maria Bonita’ em Hollywood, nome do loteamento onde moram na região metropolitana de Cuiabá (MT). Hoje, Edmundo Gonçalves, de 55 anos e Maria Petronília da Silva, de 66 anos, estão realizando um sonho que para muitos parece pequeno: aprender a ler.

A realização está sendo possível através das aulas de alfabetização que recebem em um barracão da cooperativa de catadores de materiais recicláveis, em Várzea Grande.

O apelido do casal vem do tempo em que os dois trabalhavam no lixão. Grande parte da jornada de trabalho era realizada à noite: eles chegavam no local às 16h e voltavam para casa às 6h da manhã no dia seguinte. Para conseguir enxergar em meio à escuridão um lampião sempre estava nos punhos de Edmundo e Maria.

“Esse nome foi um senhor do lixão que colocou na gente. À noite para ver no escuro só com lampião. Daí viramos Lampião e Maria Bonita, e pegou”, conta Edmundo.

Hoje, fora dos lixões, o casal trabalha para uma cooperativa como catadores de lixo reciclável. Mas foi na igreja que o sonho de aprender a ler recebeu incentivo. “Nós vamos na igreja e eles dão os cânticos em um papel, mas a gente não sabe acompanhar na folha. Tá tudo escrito, mas a gente não sabe ler”, disse Maria.

Incentivado pela mulher, Edmundo começou a frequentar as aulas. “Nunca imaginei que ia conseguir estudar. Na verdade eu nem queria, foi minha ‘velha’ que me incentivou a vir para a aula. Agora, até soletrar eu já consigo”, conta o catador.

O maior sonho de Maria é poder ler a Bíblia. “Tenho fé em Deus que eu vou conseguir um dia”, diz, esperançosa. Na cômoda da casa, dois exemplares do livro a esperam ansiosamente.

Para Edmundo, seu grande sonho é poder distinguir o número e as linhas dos ônibus quando precisar ir para algum lugar. “Eu quero aprender a ver os números sem perguntar para ninguém. Às vezes alguém sacaneia a gente e faz pegar ônibus errado”, disse.

Nesta terça-feira, 1º de março, as férias do casal acabaram. Eles retornam ao barracão com lápis e papel na mão para as aulas que duram uma hora e meia.