Coreia do Norte força mulheres a abortar e mata bebês que sobrevivem em prisão

As informações fazem parte de um relatório de Direitos Humanos elaborado pela ONU, com declarações de sobreviventes das prisões na Coreia do Norte.

Fonte: Guiame, com informações do Live ActionAtualizado: quarta-feira, 12 de agosto de 2020 às 15:15
Boa parte das prisões da Coreia do Norte se transformaram em verdadeiros campos de concentração, que obrigam homens e mulheres a trabalhos pesados. (Foto: Live Action)
Boa parte das prisões da Coreia do Norte se transformaram em verdadeiros campos de concentração, que obrigam homens e mulheres a trabalhos pesados. (Foto: Live Action)

Abortos forçados e infanticídio estão entre as atrocidades e violações de direitos humanos vividas por mulheres que tentaram fugir da Coreia do Norte e acabaram sendo presas por "deserção", de acordo com um relatório da ONU.

Cerca de 100 mulheres compartilharam relatos assombrosos em primeira mão sobre o sofrimento que elas e seus bebês sofreram enquanto estavam em centros de detenção norte-coreanos.

Os pesquisadores descobriram que os abortos eram realizados rotineiramente sem o consentimento das mulheres detidas e, frequentemente, por meio de violência.

Além disso, eles foram informados sobre “o assassinato de bebês recém-nascidos e a morte de mulheres por falta de assistência médica”.

Sem atenção médica

Em um trágico incidente de infanticídio, o bebê de uma mulher foi morto por oficiais que forçaram um parto prematuro. A mãe teria morrido uma semana depois por não ter recebido nenhuma assistência médica. Uma testemunha ocular relatou a violência cometida contra essa mulher.

“Ela foi retirada do centro de detenção e recebeu uma injeção para abortar. Eu a vi dando à luz com os meus próprios olhos... ouvi choro, mas depois o bebê foi colocado de bruços, embrulhado em plástico e retirado da cela por um carcereiro... Não foi dado atendimento médico [à mãe]. Ela morreu depois de uma semana ou mais”, contou.

Deixado para morrer no frio

Em outro incidente, uma mulher disse aos pesquisadores que ela testemunhou um bebê morrendo em temperaturas bem abaixo de zero, depois que as autoridades torturaram sua mãe grávida para induzir o parto prematuro.

Ela disse: “Os guardas colocaram tijolos em suas costas e a forçaram a andar. Ela teve que andar com os tijolos todos os dias durante uma semana ou mais. Ela finalmente deu à luz. O bebê estava vivo quando nasceu. Disseram-me para embrulhar o bebê e colocá-lo para fora. A mãe do bebê teve que trabalhar no dia seguinte”, relatou a fonte.

A testemunha não viu o que aconteceu com o bebê, mas acredita que ele pode ter morrido, devido às condições climáticas bem abaixo de zero durante o rigoroso inverno da Coreia do Norte.

Aborto forçado

Uma mulher revelou como outra detenta foi forçada a fazer um aborto porque seu bebê tinha um pai chinês.

“Não sofri violência, mas havia outra mulher que engravidou na China. Então os guardas sabiam que seu bebê tinha sangue chinês. Isso era um problema, pois as leis locais impediam qualquer mulher norte-coreana desse à luz um bebê mestiço. O médico da prisão disse a ela para fazer um aborto, apesar do fato de que ela queria ficar com o bebê. Ela acabou sendo forçada a fazer um aborto e foi enviada para um kyohwaso [campo de concentração e trabalhos forçados]… ”, disse o relatório.

"Ouvimos mães gritando"

Falando em um evento da ONU em 2017, Ji Hyeon descreveu como foi forçada a fazer um aborto sem medicamentos em uma delegacia de polícia local quando estava grávida de três meses.

“Meu primeiro filho faleceu sem nunca ver o mundo, sem nenhum tempo para me desculpar”, ela disse chorando. “As mulheres grávidas eram forçadas a trabalhos pesados o dia todo. À noite, ouvíamos mães grávidas gritando e bebês, enquanto bebês eram mortos sem nunca poder ver suas mães”.

Ela descreveu como os presidiárias em um centro de detenção morreram de fome com seus cadáveres sendo jogados como alimento aos cães de guarda da cadeia.

Violações sistemáticas

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse: “Esses relatos mostram mais uma vez a natureza sistêmica das violações dos direitos humanos na Coreia do Norte e a necessidade de continuar buscando caminhos para a responsabilização adequada por tais crimes”.

“O Escritório de Direitos Humanos da ONU continuará a reunir evidências desse tipo para apoiar um processo de responsabilização criminal, sempre que possível”, acrescentou.

O relatório conclui com recomendações ao governo da Coreia do Norte, pedindo ao governo que alinhe o sistema de detenção às normas e padrões internacionais.

Uma recomendação afirma que a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) deve "tomar medidas imediatas para acabar com o aborto forçado, bem como a violência destinada a provocar o aborto espontâneo, incluindo através de legislação específica que proíba essas práticas, e conduzir investigações imediatas e imparciais sobre as alegações de tais atos; e garantir o julgamento dos responsáveis ​”.

Líder em intolerância religiosa

As violações de direitos humanos na Coreia do Norte também incluem um verdadeiro massacre aos cristãos no país, tendo o maior índice de intolerância religiosa, segundo a lista atual da Portas Abertas sobre os 50 países onde é mais perigoso para se viver como cristão.

A organização cristã cita como a principal fonte de perseguição a ditadura comunista estabelecida pelo próprio governo do país, que proíbe a prática da fé cristã, colocando-a como um crime que pode ser punido com pena de morte ou torturas em um campo de trabalhos forçados.

Atualmente, estima-se que pelo menos 300 mil cristãos vivam oprimidos pela ditadura comunista da dinastia Kim na Coreia do Norte.

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