De onde vem o dinheiro do Estado Islâmico?

Comércio ilegal de petróleo, sequestros, extorsões e até mesmo o tráfico humano estão entre as atividades que têm gerado lucro para a organização terrorista que burla embargos internacionais e já registrou ganhos de 1 milhão a 3 milhões por dia em 2014.

Fonte: Guiame, com informações do Washington PostAtualizado: sábado, 21 de novembro de 2015 às 16:04

Armas, veículos, salários dos empregados, vídeos de propaganda, viagens internacionais - todas estas coisas custam dinheiro. Os recentes ataques terroristas em Paris, que o Estado Islâmico reivindicou como seu próprio trabalho, sugerem que a organização não economiza no financiamento de suas ações. O subsecretário do Departamento do Tesouro e Inteligência Financeira sobre Terrorismo, David Cohen descreveu o Estado Islâmico em outubro passado como "provavelmente a organização terrorista mais bem financiada que temos confrontado", com 'bolsos profundos' que permitiram ao grupo realizar campanhas mortais no Iraque, Síria e outros países.

Mas onde é que o Estado Islâmico consegue todo esse dinheiro? Acontece que os métodos de financiamento do grupo são muito diferentes de outras organizações terroristas proeminentes e muito mais difíceis de serem inibidos pelo Estados Unidos e outros países que tentam combatê-lo. Ao contrário de muitos grupos terroristas, que se financiam principalmente através de doadores ricos, o Estado Islâmico tem usado seu controle sobre um território que é aproximadamente do tamanho do Reino Unido e lar de milhões de pessoas para desenvolver canais de receitas diversificadas que o tornam mais resistente às ofensivas internacionais.

Normalmente, os esforços dos EUA para cortar o financiamento aos terroristas se concentram no controle e cancelamento do fluxo de fundos através do sistema internacional. Desde 11/9, os Estados Unidos e outros países, bem como as organizações internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e as Nações Unidas criaram iniciativas para detectar e parar o fluxo de fundos para os terroristas. Líderes do Grupo dos 20 emitiram um comunicado no último domingo, chamando para uma melhor coordenação, que visa cortar os canais de financiamento a organizações terroristas, incluindo o intercâmbio de informações e congelamento de bens terroristas.

Embora o Departamento do Tesouro diga que estes esforços têm perturbado as redes terroristas e vidas salvas, o Estado Islâmico é diferente. O grupo acaba evitando finanças internacionais, em busca gerar fundos no seu próprio território ou imediatamente ao longo das suas fronteiras porosas.

"Quanto a interromper as atividades que geram receita ao EI, como extorsão e outros crimes locais, reconhecemos que as ferramentas do Tesouro não são particularmente bem adequadas para a tarefa", disse Cohen em outubro.

As estimativas sobre o montante exato que o Estado islâmico ganha com essas atividades tendem a variar muito e oscilam ao longo do tempo, mas o que é certo é que o grupo é muito diversificado - o que significa que, se uma fonte de financiamento é desligado, o grupo pode ligar para outros parceiros com o objetivo de gerar receita. Seus principais métodos de geração de dinheiro parecem ser a venda de petróleo e antiguidades, bem como tributação e extorsão. E os recursos financeiros do grupo têm crescido rapidamente, já que ele conquistou mais territórios. De acordo com estimativas da 'Rand Corporation', a receita total do Estado Islâmico passou de um pouco menos de 1 milhão de dólares por mês no final de 2008 e início de 2009 para talvez 1 milhão a 3 milhões por dia em 2014.

O Estado Islâmico tem outras despesas, além da realização de ataques terroristas e guerras que são travadas na Síria e outros países. O grupo terrorista administra escolas, uma força policial religiosa, um sistema de tribunal islâmico e até mesmo uma autoridade da Defesa do Consumidor. Ele supostamente paga a seus guerrilheiros, cerca de 400 dólares por mês, o que é mais do que o governo iraquiano oferece a muitos de seus funcionários. O Estado Islâmico define e aprova os orçamentos anuais, e ele usa uma figura oficial como chefe financeiro para gerenciar suas contas. O grupo Também é "exigente" ao documentar um retorno sobre o investimento para os seus financiadores. O Estado Islâmico estabeleceu uma espécie de banco central e até mesmo planejou sua própria moeda - embora, na prática, o grupo geralmente use a moeda local, como o dinar iraquiano e a lira turca.

Seu controle de um território extenso, obviamente, dá ao Estado Islâmico uma valiosa fonte de financiamento e flexibilidade. No entanto, algumas autoridades norte-americanas têm argumentado que a posse de territórios também pode ser vista como uma fraqueza para o grupo. Manter um estado de 8 milhões a 10 milhões de pessoas, em guerra ao redor de suas fronteiras e financiar a realização dos ataques internacionais são tarefas custosas e difíceis. Sem fundos adequados para fornecer serviços para a população local, as pessoas que vivem nos territórios dominados pelo Estado Islâmico podem voltar-se contra o grupo, provocando uma reação que pode acabar com sua permanência no poder, segundo algumas autoridades dos EUA. Além disso, os relatórios do território que está sob domínio do grupo pintam o retrato de uma sociedade brutal de duas camadas, em que os terroristas e suas famílias vivem bem e a maioria dos outros cidadãos sofrem. Sob esta pressão, a economia se esforça para funcionar, deixando o Estado Islâmico cada vez mais isento de pagar tributos.

Outros estudiosos têm apontado que um estado sob poder do Estado Islâmico parece bastante pobre, com um orçamento aproximadamente como o do Afeganistão ou da República Democrática do Congo. Mas considerado como uma organização terrorista, o EI parece rico e diversificado.

Confira abaixo, 12 maneiras pelas quais o Estado islâmico gera sua receita:


Petróleo

Os campos de petróleo que têm sido tomados na Síria e no Iraque têm sido uma importante fonte de financiamento para o grupo terrorista. Embora seja relativamente fácil para os Estados Unidos e outros países, impedir as exportações em grande escala, vindas do território dominado pelo Estado islâmico, é muito mais difícil controlar o comércio de petróleo no mercado negro, que supostamente floresce ao longo das fronteiras porosas do território controlado pelo Estado islâmico e países vizinhos.

O grupo terrorista refina petróleo, principalmente em pequenas refinarias móveis, depois transporta por navios e caminhões, passando por fronteiras como a da Turquia, onde os corretores de petróleo e comerciantes compram ou permutam o produto. Como o comércio é ilegal, a venda é feita com um grande desconto que pode flutuar descontroladamente. Contrabandistas supostamente usam os serviços de mensagens móveis, como WhatsApp para coordenar o intercâmbio de produtos. Alguns comerciantes podem até ter feito a venda de petróleo do Estado Islâmico de volta para o regime de Bashar al-Assad, o qual ironicamente está combatendo a organização terrorista na Síria, de acordo com o Boston Globe.

As vendas de petróleo, inicialmente forneceram grande parte das receitas do Estado islâmico, mas estas têm diminuído, desde que os Estados Unidos e outros países lançaram uma ampla campanha de ataques aéreos contra instalações de petróleo e gás do grupo, de acordo com um relatório do 'Congressional Research Service', em abril. Em outubro de 2014, os EUA tinham supostamente destruído cerca de metade da capacidade de refino do grupo. Os Estados Unidos também têm procurado identificar e matar corretores de petróleo, encorajando a Turquia a reprimir o contrabando na fronteira.

Os lucros obtidos pelo Estado Islâmico com as vendas de petróleo e gás também sofreram uma queda, porque muitos dos engenheiros e outros especialistas técnicos necessários para trabalhar com estes produtos fugiram da região ou foram mortos. O grupo terrorista vem se esforçando muito para recrutar pessoas qualificadas, a exemplo de um vídeo publicado pelo líder Estado Islâmico Abu Bakr al Baghdadi em julho de 2014, convocando cientistas, engenheiros, médicos e pessoas com experiência administrativa.

Extorsão
Como o Estado Islâmico controla um território amplo, ele acaba corando diversos impostos das pessoas que ali vivem. Alguns desses impostos são semelhantes aos de um governo normal, enquanto outros se assemelham mais a um tipo de extorsão.

O Estado Islâmico estabelece impostos sobre diversas coisas, incluindo produtos vendidos, serviços / utilidades, como electricidade e água (os quais nem sempre funcionam - considerando que em algumas áreas, a eletricidade só pode ser usada uma hora por dia), empresas de telecomunicações, retiradas de dinheiro de contas bancárias, salários de funcionários, caminhões que entram no território controlado pelo Estado islâmico, postos de controle, entre outros. Assaltos a sítios arqueológicos e comunidades não-muçulmanas em geral também acabam sendo uma fonte de renda. Um relatório da 'Thomson Reuters' estima que apenas este sistema de extorsão e tributação poderia gerar aproximadamente 360 milhões de dólares por ano para a organização terrorista.

As pessoas que vivem nas áreas dominadas pelo EI descrevem uma espécie de sistema de duas camadas, onde os guerrilheiros so grupo terrorista e suas famílias recebem uma variedade de serviços gratuitos, incluindo habitação e cuidados médicos, enquanto outros são cobrados com impostos abusivos.


Seqüestros
Publicado em outubro de 2014, um relatório da ONU, citou estimativas de que o Estado islâmico conseguiu gerar de 35 milhões a 45 milhões de dólares no ano anterior, apenas por meio de seqüestros, com a exigência de pagamentos de resgates.

Os Estados Unidos e o Reino Unido têm tentado limitar esse canal financeiro, tornando ilegal o pagamento de resgates para organizações terroristas. A política pode parecer muito fria para as famílias que são afetadas por sequestro, mas autoridades afirmam que isto desencoraja os terroristas de sequestrar estrangeiros (norte-americanos e britânicos, por exemplo).

O Estado Islâmico também gera uma quantidade significativa de receita por meio de seqüestros / cobrança de resgates em suas próprias comunidades, atos que tendem a não ser denunciados pela imprensa internacional.


Patrocinadores
Apesar de o Estado islâmico não ser financiado majoritariamente por doadores ricos como outras organizações terroristas são, essas contribuições ainda são uma importante fonte de sua receita.

Algumas estimativas apontam que o Estado Islâmico recebeu até 40 milhões de dólares entre 2013 e 2014, doados por empresários, famílias ricas e outros patrocinadores na Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. Muitos desses doadores de elite escolheram financiar o Estado islâmico por causa do medo e da animosidade do grupo com relação ao Irã e ao presidente sírio, Bashar al-Assad. Um relatório da Brookings Institution, em 2013 observou que os doadores no Kuwait foram canalizando centenas de milhões de dólares para vários grupos rebeldes sírios.

Depois então que a então Secretária de Estado, Hillary Clinton e outros membros da comunidade internacional criticaram esses países pelo financiamento de terroristas, a Arábia Saudita criminalizou em 2013, o apoio financeiro ao Estado islâmico, Al-Qaeda e outras organizações terroristas. Os Emirados Árabes Unidos também parecem ter feito progressos na limitação do financiamento ao terrorismo, de acordo com a Brookings. Mas outros canais de financiamento acabam sendo criados através de organizações de caridade não registradas, que canalizam dinheiro para o Estado Islâmico.


Comércio de Antiguidades
Considerando que o Estado Islâmico invade territórios e impõe seu domínio sobre estes, acaba tomando também o controle de museus, coleções particulares e sítios arqueológicos, como no caso do Grande Palácio do rei assírio Ashurnasirpal II (do século 9 aC). Isto deu o grupo terrorista uma oferta extensa de arte preciosas e artefatos históricos. No início deste ano, o grupo teve pelo menos 4.500 locais de interesse cultural sob o seu controle, de acordo com o Grupo de Ação Financeira, sediada em Paris.

Algumas destas antiguidades são destruídas, mas outras são revendidas, muitas vezes passando por mercados da Turquia e da Jordânia, e de lá, indo para países da Europa e outros.

Em novembro de 2014, Matthew Levitt, do Instituto Washington para Política do Oriente Próximo disse a um comitê da Câmara que a venda de antiguidades - tanto aquelas roubadas de coleções e as que foram recém-escavadas - foi a segunda grande fonte de receitas do grupo, só ficando atrás das comércio ilegal de petróleo. Outras estimativas norte-americanas colocam o volume total do comércio de antiguidades em mais de 100 milhões de dólares por ano.


Bancos iraquianos
O Departamento do Tesouro estimou que o Estado islâmico ganhou pelo menos meio bilhão de dólares em dinheiro, aproveitando as sucursais de bancos estatais no Iraque setentrional e ocidental, em 2014.

"Antes de Mosul, os seus recursos somavam 875 milhões de dólares. Depois, com o dinheiro que roubou de bancos e do valor gerado pelo saqueamento de suprimentos que seriam destinados a militares, eles poderiam adicionar mais US $ 1,5 bilhão a este montante", informou um oficial da inteligência dos EUA ao jornal 'The Guardian'.


Vendas de outros bens saqueados

A tomada de territórios pelo Estado Islâmico no Iraque também leva o grupo à aquisição de veículos norte-americanos, armas e munições que podem ser utilizados ou revendidos. O grupo também já teria revendido equipamentos de construção, geradores, cabos elétricos, animais, móveis e outros bens.

Imóveis
De acordo com o site Niqash.org - mantido em parceria com uma organização alemã sem fins lucrativos - o Estado Islâmico vem gerando dinheiro com o aluguel e leilão das propriedades de pessoas que foram assassinadas ou fugiram das áreas ocupadas.

De acordo com uma análise de documentos do Estado Islâmico de Mosul, bens que foram confiscados pelo grupo terrorista podem ser alugados para os moradores locais, tornar-se bases para guerrilheiros ou ser reconstruídos com novas estruturas.


Combatentes estrangeiros
Alguns combatentes estrangeiros que viajam para participar do Estado Islâmico trazem consigo moedas fortes de seus países - embora esta pareça ser uma fonte de financiamento relativamente limitada para a organização terrorista.


Agricultura
O Estado Islâmico agora controla algumas das partes mais férteis do Iraque e da Síria, que produzem uma grande quantidade de trigo e cevada. De acordo com a 'Thomson Reuters', se essas culturas forem vendidas com um desconto de 50% no mercado negro, isto ainda poderia gerar mais de 200 milhões de dólares em receita anual para o grupo terrorista.

Outros produtos agrícolas e terras são simplesmente roubadas de agricultores. Um refugiado sírio, entrevistado pelo 'Washington Post' disse que o Estado Islâmico assumiu 10% da safra de trigo de sua família. Em alguns casos, o trigo é moído em moinhos de farinha de propriedade do Estado, de acordo com relatórios, e posteriormente vendido para a população local e padarias.


Fosfato, cimento e enxofre

A área que Estado islâmico tem dominado é rica em recursos naturais, incluindo fosfato, cimento e enxofre. A 'Thomson Reuters' estima que os recursos de fosfato podem gerar cerca de 50 milhões de dólares por ano para o Estado Islâmico a preços com desconto, enquanto os ácidos sulfúrico e fosfórico podem gerar 300 milhões.


Tráfico de seres humanos
Muitos relatórios têm documentado a prática do Estado Islâmico de vender mulheres e meninas para 'maridos' que as comprem ou para serem escravas sexuais, incluindo muitas mulheres das minorias, cristã, yazidi e Shia-Tukoman.

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