Depois de quatro anos marcados por incertezas, angústia e medo, a família de Luanny Mendes, de Guará, interior de SP, finalmente tem um motivo especial para celebrar. A menina de 8 anos completou dois anos em remissão de um tumor de Wilms, um tipo raro de câncer que afeta os rins de crianças, além de um tumor no pulmão.
Até agora, a vida de Luanny foi marcada por cirurgias, sessões intensas de quimioterapia e longos períodos de internação. Mas, daqui em diante, ela tem uma nova jornada cheia de possibilidades, descobertas e vida.
Luanny recentemente tocou o sino da cura no Hospital do Câncer de Franca (SP), celebrando de forma definitiva o fim do tratamento.
Luanny tocou o sino duas vezes – símbolo do fim do tratamento e da remissão. (Foto: Arquivo pessoal)
Desde então, ela segue em acompanhamento trimestral, com exames de sangue, tomografias e avaliações cardiológicas para garantir que tudo continue bem.
Para Sandra Mendes, mãe de Luanny, cada nova conquista é motivo de celebração.
“Vê-la sorrindo, brincando, conseguindo fazer as coisinhas dela, sendo criança de novo, é um milagre. Eu olho pra ela hoje e vejo uma força que nem sei explicar. Ela é a minha fortaleza. Todo mundo achava que era eu que era forte, mas quem me manteve de pé foi a Luanny.”
‘Deus me mostrou o impossível’
Desde o início do tratamento, Luanny participa das ações promovidas pelo chef Alex Sabino, voluntário há seis anos em projetos do Hospital do Câncer de Franca. Neste ano, ela marcou presença no evento especial de Dia das Crianças como paciente em remissão – livre da doença e cheia de vida.
A iniciativa surgiu do desejo do chef Alex Sabino de oferecer às crianças em tratamento um dia especial fora do ambiente hospitalar. Com o apoio do Franca Shopping e de empresas parceiras, o projeto proporciona momentos de lazer com sessões de cinema, brinquedos, lanches e entrega de presentes – tudo pensado para levar alegria e leveza a quem enfrenta uma batalha tão difícil.
“Quando comecei, queria apenas cozinhar algo simples e ver um sorriso. Hoje, são mais de 50 crianças participando. Ver a alegria delas é o que me move”.
Sabino perdeu o pai para o câncer e diz que as ações são a forma que encontrou de retribuir.
“Só de dar estes momentos de felicidade para eles, já vale muito para mim. Eu sou de Franca, mas me mudei e passei muitos anos longe daqui. Há alguns anos, quis voltar para cá, queria retomar este contato e poder proporcionar isso a eles, é indescritível. A Luanny participa desde pequena. Este ano foi especial, porque ela veio como uma criança curada e isso me traz muita alegria”.
Dois anos após o fim do tratamento, Sandra afirma que foi a fé que sustentou a família durante os momentos mais difíceis. Para ela, a trajetória de Luanny é uma prova de que o diagnóstico não precisa ser o fim – pode ser o começo de uma história de superação.
“Tiveram dias em que achei que não ia aguentar, que pensei que ia perder minha filha. Mas a fé me sustentou. Deus me mostrou que o impossível pode acontecer. Hoje, quando olho pra Luanny, vejo um milagre andando pela casa”.
O primeiro diagnóstico
A menina recebeu o diagnóstico de tumor de Wilms aos 4 anos de idade. Os primeiros sinais da doença apareceram de forma sutil: febres frequentes, perda de apetite e um discreto inchaço abdominal, que inicialmente não despertaram grandes suspeitas.
Luanny Mendes foi diagnosticada com um tipo raro de câncer no rim aos 4 anos – o tumor de Wilms. (Foto: Arquivo pessoal)
Sandra contou, em entrevista ao g1, que, em poucos dias, viu o volume da barriga da filha aumentar e procurou atendimento médico. Exames de imagem mostraram uma massa de 12 centímetros no rim esquerdo.
“Quando notei o calombo na barriguinha dela fiquei muito assustada. Levei correndo na pediatra achando que fosse uma hérnia. Nunca imaginei que ouviria a palavra câncer. Lembro que estava sentada na cadeira do hospital, meu marido estava com a Luanny no colo. O médico me chamou, olhou nos meus olhos, e disse que havia uma massa no rim dela. Naquela hora, eu senti o chão abrir”.
Sandra contou que ficou sem saber como reagir, e que só pensava “por que com ela? Por que com a minha filha?”
A pediatra Cibele Cristina Castilho, do Hospital do Câncer de Franca, disse que embora raro, o tumor de Wilms é o câncer renal mais comum em crianças e costuma surgir entre os 2 e os 5 anos.
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“Ele se forma a partir de células embrionárias que sofrem mutações durante a formação dos rins e passam a crescer de forma acelerada. O sintoma mais frequente é o aumento do abdômen, percebido, muitas vezes, pelos próprios pais”.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia, o tumor de Wilms ou nefroblastoma pode alcançar até 95% de cura quando identificado precocemente. No caso de Luanny, porém, o diagnóstico só veio quando a doença já estava em estágio avançado, o que exigiu o início imediato de um tratamento intensivo.
Na maioria das vezes, afeta apenas um rim. No caso da Luanny, foi o órgão esquerdo.
O diagnóstico do tumor de Wilms é realizado por meio de exames de imagem, como ultrassonografia e tomografia. O tratamento pode envolver cirurgia, quimioterapia e radioterapia, dependendo do estágio em que a doença é identificada. Mesmo nos casos mais complexos, os índices de cura permanecem elevados.
Por se desenvolver rapidamente e apresentar poucos sintomas nos estágios iniciais, o tumor de Wilms costuma ser identificado apenas quando já há aumento visível do abdômen. Em fases mais avançadas, pode se espalhar para outros órgãos, como os pulmões – o que também ocorreu no caso de Luanny.
Dias de medo e de fé
Poucos dias após o primeiro diagnóstico, Luanny iniciou o tratamento com quimioterapia no Hospital do Câncer de Franca. Após quatro sessões, passou por uma cirurgia para remover completamente o rim afetado. O procedimento foi bem-sucedido e os primeiros resultados do tratamento foram animadores.
Durante 12 meses, a rotina da família foi tomada por uma intensa jornada hospitalar. Entre medicações, quedas de imunidade e os efeitos colaterais do tratamento, todos precisaram reorganizar a vida em torno dos cuidados com Luanny.
“Ela era muito pequena, mas entendia tudo. Foi muito difícil. Foram dias de medo, mas também de muita fé. Eu parei tudo na minha vida pra viver em função dela. Era ver ela passar mal, perder o cabelo, mas continuar sorrindo. E cada sorriso dela me dava força pra continuar”.
Ao concluir o primeiro ciclo de tratamento, Luanny tocou o sino da cura – um gesto simbólico entre pacientes oncológicos que representa o fim da quimioterapia. O momento trouxe à família um profundo alívio e a sensação de que a fase mais difícil havia finalmente ficado para trás.
O segundo diagnóstico
Seis meses após o fim do primeiro tratamento, exames de rotina revelaram novos nódulos no pulmão de Luanny. A notícia interrompeu o breve retorno à normalidade e trouxe de volta a tensão e o medo que a família havia começado a deixar para trás.
Essa nova etapa exigiu um tratamento ainda mais intenso, com sessões de quimioterapia agressiva – conhecidas como protocolo ICE – e internações prolongadas. Diante da gravidade do quadro, os médicos recomendaram o transplante de medula autóloga, realizado no Hospital de Amor, em Barretos (SP).
“Ficamos muitos dias isoladas dentro do hospital. Eu lembro da primeira noite, ela olhou pra mim e disse ‘mamãe, eu tô cansada’. Ela estava exausta, sem forças, e aí ela me perguntou ‘mamãe, se eu quiser ir descansar, virar anjinho, você deixa?’ Foi a conversa mais difícil da minha vida. Eu segurei o choro e disse ‘filha, a mamãe vai te amar em qualquer lugar. Aqui ou no céu, você sempre vai ser minha filha’. Naquela noite, eu ajoelhei e pedi pra Deus não levar minha menina”, contou Sandra.
A medula “pegou” depois de 40 dias de isolamento no Hospital de Amor, em Barretos (SP). (Foto: Arquivo pessoal)
O transplante foi bem-sucedido, marcando um novo capítulo na vida de Luanny. Desde então, ela celebra duas datas muito especiais: o dia 20 de junho, quando nasceu, e o dia 21 de julho, quando a nova medula foi aceita pelo organismo – um momento que se tornou o símbolo do seu renascimento.
Neste ano, Luanny tocou o sino da cura pela segunda vez, encerrando de forma definitiva um ciclo marcado por coragem, superação e esperança.
Para Cibele, casos como o de Luanny são motivo de orgulho.
“O toque do sino representa o encerramento de um ciclo muito difícil, vivido pela criança e pela família. É uma vitória coletiva, da equipe médica e dos pais que nunca desistiram. Hoje ela leva uma vida completamente normal, mas com acompanhamento constante. As quimioterapias podem deixar efeitos tardios, então o seguimento médico é essencial”.
Ela explicou que, na maioria dos casos, o tumor de Wilms afeta apenas um dos rins. É raro encontrar mais de um tumor em um mesmo rim ou a presença da doença em ambos os rins. Nos quadros mais graves, o câncer pode se espalhar para outros órgãos, como os pulmões.
“Como esses tumores crescem depressa e não apresentam sintomas nos estágios iniciais, eles costumam ser grandes quando são diagnosticados e às vezes se espalham para outros órgãos, especialmente para os pulmões”.
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