Drauzio Varella critica oposição da igreja ao aborto: ‘Ninguém é dono da palavra de Deus’

Varella criticou qualquer enfoque religioso sobre o tema do aborto e ressaltou que o cerne da discussão não está na moralidade, mas na desigualdade brasileira.

Fonte: Guiame, com informações de Folha de São PauloAtualizado: terça-feira, 2 de fevereiro de 2016 às 18:14
O médico mais conhecido no Brasil, Drauzio Varella, se posiciona contra a visão da igreja em relação ao aborto. (Foto: João Miguel/Globo)
O médico mais conhecido no Brasil, Drauzio Varella, se posiciona contra a visão da igreja em relação ao aborto. (Foto: João Miguel/Globo)

"O aborto já é livre no Brasil. É só ter dinheiro para fazer em condições até razoáveis”. A frase categórica resume o ponto de vista do médico mais conhecido no Brasil, Drauzio Varella, em relação ao aborto.

O tema voltou aos noticiários depois que ativistas tentaram, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), pedir a descriminalização do aborto em casos de microcefalia comprovados na gestação.

Diante disso, em entrevista à BBC Brasil, Varella criticou qualquer enfoque religioso sobre o tema e ressaltou que o cerne da discussão não está na moralidade, mas na desigualdade brasileira.

"Ninguém pode se considerar dono da palavra de Deus, intermediário entre deuses e seres humanos, para dizer o que todos devem fazer. Muitos religiosos pregam que o aborto não é certo. Se não está de acordo, não faça, mas não imponha sua vontade aos outros", disse o médico.

"A mulher rica faz normalmente e nunca acontece nada. Já viu alguma ser presa por isso? Agora, a mulher pobre, a mulher da favela, essa engrossa estatísticas. Essa morre. Proibir o aborto é punir quem não tem dinheiro", disse Varella, fazendo referências a estatísticas da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Segundo a organização, uma brasileira morre a cada dois dias por conta de procedimentos mal feitos e um milhão de abortos clandestinos seriam feitos no país todos os anos.

Por outro lado, a instrutora clínica do Departamento de Medicina da Família na Universidade do Centro Médico do Mississippi (EUA), Freda de Bush, afirma que o perigo não está apenas neste tipo de cirurgia.

"Abortos médicos não são tão seguros como muitos dizem. Eu sei que há mulheres que realmente morreram de infecções e complicações causadas por este procedimento... Mas essa informação não irá a público", disse ela durante uma conferência norte-americana.

Zika e Aborto

Também segundo a OMS, cerca de 25 países já registram casos de zika. Apenas Brasil e Polinésia Francesa, entretanto, têm dados comprovando o aumento de casos de microcefalia em recém-nascidos.

De acordo com Varella, na microcefalia, o diagnóstico definitivo é feito em geral próximo ao 3º trimestre. “Você pega um feto aos sete meses e ele está quase nascendo. Mas é lógico que eu respeito (qualquer decisão)", afirmou.

A psicóloga e militante pró-vida Marisa Lobo alertou que não existem razões suficientes para a aprovação. "É uma ação desesperada, solitária... Os casos de microcefalia nem sempre são confirmados. A aprovação desta ação vai gerar uma procura em massa pelo aborto. O que estão fazendo é a mesma coisa que hitler fez, praticar a Eugenia”, disse com exclusividade ao Guiame.

Varella, ainda, faz críticas duras a quem argumenta contra o aborto a partir de princípios religiosos. "O poder das igrejas católicas e evangélicas é absurdo, mas não está certo a maioria impor sua vontade. Respeitar opiniões das minorias é parte da democracia. Tem que respeitar os outros, o modo dos outros de ver a vida."

A questão é que nenhum argumento científico contraria os princípios pregados pela Bíblia. De acordo com o professor norte-americano Keith Leon Moore, em seu livro “The Developing Human: Clinically Oriented Embryology”, cada um de nós iniciou a sua vida como uma célula chamada zigoto, que é resultado da união do espermatozóide e o oócito.

Em resumo, isso significa que a partir do momento da concepção, do ponto de vista biológico, existe um ser vivo, individualizado e humano.

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