Etiópia, país de maioria cristã, pode estar no fim da guerra civil

Depois do cessar-fogo, um acordo de paz foi assinado entre o governo etíope e o grupo separatista do Tigré.

Fonte: Guiame, com informações de MNN e Folha de S. PauloAtualizado: terça-feira, 8 de novembro de 2022 às 17:16
Acordo de paz pode colocar fim à guerra civil na Etiópia. (Foto representativa: World Watch Monitor)
Acordo de paz pode colocar fim à guerra civil na Etiópia. (Foto representativa: World Watch Monitor)

Na última quarta-feira (2), o governo da Etiópia e a Frente de Libertação Popular Tigré concordaram em encerrar a guerra civil que já se arrasta por dois anos. As negociações ocorreram na África do Sul.

O pacto foi assinado em Pretória, na província Gauteng, a capital administrativa do país e foi mediado pela União Africana (UA), conforme notícias da Folha de S. Paulo. 

A guerra que devastou a região de Tigré, já matou centenas de milhares de pessoas. Muitos perderam suas casas e um bloqueio cortou a comunicação de grande parte da região — isso atrapalhou os pedidos de socorro. 

Cerca de 5,2 milhões de pessoas estão precisando de ajuda naquela região. As Nações Unidas dizem que o governo etíope usou a fome como arma de guerra.

Restauração da lei e da ordem

O anúncio do acordo de paz foi recebido com certa surpresa pela comunidade internacional, que sabia que as negociações seriam difíceis. 

Porém, como disse o ex-presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, chefe de equipe de mediação da UA: “Ambas as partes do conflito etíope concordaram formalmente com a cessação das hostilidades e com o desarmamento sistemático ordenado, suave e coordenado”.

Obasanjo explica que o acordo inclui “a restauração da lei, da ordem e de serviços, o acesso irrestrito a suprimentos humanitários e a proteção de civis, em especial mulheres, crianças e outros vulneráveis”. 

‘Agora cabe honrar o acordo de paz’

O enviado do governo etíope, Redwan Hussein, que confirmou o cessar-fogo, disse que agora “cabe honrá-lo”. 

O líder das forças separatistas, por sua vez, chamou as concessões feitas de dolorosas, ainda que necessárias para o fim da morte e da destruição em larga escala na região.

“Esse não é o fim do processo de paz. A implementação do acordo assinado hoje é crucial para seu sucesso”, destacou Orbasanjo. 

Manifestações sobre o acordo de paz

Embora a presença do governo da Eritreia e de algumas forças regionais fosse crucial para a decisão de um acordo de paz, nenhum deles participou das negociações. 

A Eritreia é um país vizinho à Etiópia, que faz fronteira com a região do Tigré. As forças eritreias são acusadas de envolvimento num dos cenários mais horríveis, cometendo crimes contra a humanidade através de abusos de guerra por parte dos soldados, como estupros coletivos, assassinatos e saques. 

Nem o regime eritreu e nem as forças regionais se manifestaram sobre o cessar-fogo. As negociações foram elogiadas pelos EUA.

O secretário geral da ONU, António Gutierrez, celebrou o acordo e disse se tratar de um primeiro passo “para trazer algum consolo para os milhões de civis etíopes que sofreram muito durante esse conflito. 

Socorro às vítimas

Segundo relatos locais, os médicos estão recorrendo ao uso de soluções salinas e panos para tratar das feridas dos pacientes, já que faltam suprimentos.  Conforme a ONU, 90% das pessoas no Tigré precisam de ajuda, porém, faltam alimentos, vacinas e ítens como insulina. 

Um profissional de saúde que trabalha no hospital principal da região definiu a situação como “estar de volta à cirurgia do século 18”. A desnutrição afeta entre 16% e 28% das crianças e cerca de 50% das grávidas e lactantes.

Vale ressaltar aqui que, entre as vítimas estão cristãos que são duplamente vulneráveis. Eles já sofrem com as consequências da guerra e ainda precisam lidar com a discriminação diante do extremismo islâmico no país.

Em algumas regiões da Etiópia, os cristãos não têm acesso aos recursos da comunidade, são condenados ao isolamento e discriminados. Além disso, alguns podem ser mortos quando extremistas islâmicos atacam igrejas e casas.

Como o governo tem um relacionamento especial com a Igreja Ortodoxa Etíope, outras denominações — especialmente protestantes evangélicos e pentecostais — são perseguidas pelo Estado.

Os cristãos que mudam de denominação e deixam a Igreja Ortodoxa também estão sujeitos à pressão da família e da comunidade e podem enfrentar maus tratos significativos. As igrejas "clandestinas" também podem ser impedidas de realizar suas reuniões e cultos.  

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