"Fomos espancadas e estupradas continuamente", diz garota que fugiu do Estado Islâmico

"Não é uma vida. Não vivermos uma vida de verdade até que o resto do nosso povo seja liberado pelo 'Daesh", disse Alawsi.

Fonte: Guiame, com informações do Christian TodayAtualizado: quinta-feira, 10 de março de 2016 às 19:10
Mulheres resgatadas da escravidão sexual, sob domínio do Estado Islâmico, em Sinjar (Foto: Rex / Telegraph)
Mulheres resgatadas da escravidão sexual, sob domínio do Estado Islâmico, em Sinjar (Foto: Rex / Telegraph)

Uma adolescente que foi sequestrada pelo Estado Islâmica e usada como uma escrava sexual falou sobre a situação dramática que viveu e a dor que sentiu ao ter que deixar seu filho pequeno - vindo de um estupro - quando ela escapou do cativeiro do grupo terrorista.

Nihad Barakat Shamo Alawsi tinha 15 anos quando foi sequestrada por militantes do Estado islâmico na cidade Yazidi de Sinjar, a noroeste do Iraque, em agosto de 2014.

Ela e 27 membros de sua família estavam entre os aproximadamente 5.000 yazidis sequestrados na época. Ela foi levada para a Síria e depois para o reduto do Estado Islâmico, em Mosul.

"Eles nos estupraram, eles mataram os homens de nossas famílias, tomaram nossos bebês de nós", disse Alawsi, agora com 17 anos, no evento organizado pela Fundação 'AMAR', uma instituição de caridade, sediada no Reino Unido, fornecendo educação e saúde no Oriente Médio.

"A pior coisa foi a tortura em Mosul. Fomos espancadas e estupradas continuamente por duas semanas", disse ela. "As meninas foram retiradas de suas famílias, violadas constantemente e, em seguida, eles foram entregues a 'emires' [autoridades do sistema islâmico]".

A cultura Yazidi é um desdobramento do zoroastrismo, que combina antigas tradições religiosas tanto com o cristianismo e o islamismo. O Estado Islâmico acredita que eles sejam "adoradores do diabo". Dos 5.000 homens e mulheres iáziges capturados em 2014, cerca de 2.000 já foram contrabandeados para fora ou conseguiram escapar e relatam os momentos angustiantes que viveram sob domínio da organização terrorista.

Alawsi disse que um homem que a levou como escrava, mas morreu algumas semanas depois e ela foi vendida a um outro homem que já tinha uma esposa e outras duas escravas sexuais iáziges. Ele a epancou e a estuprou durante um mês e depois disso ela ficou grávida.

"Eu pensei que a criança que eu carregaca comigo já era um membro do 'Daesh' [Estado Islâmico] e se tornaria um criminoso quando crescesse", disse Alawsi, usando um nome árabe pejorativo para se referir ao grupo terrorista.

Alawsi deu à luz um menino, mas três meses depois, ela armou uma fuga, porque o pai do bebê decidiu casá-la com seu primo.

"Eu consegui dar um telefonema para a minha família, com a ajuda de alguém e eu consegui escapar, mas eu tive que deixar o bebê para trás", disse ela.

A maioria dos iáziges - cerca de meio milhão - estão atualmente vivendo como refugiados em campos no norte do Curdistão e no Iraque.

Alawsi agora vive em um dos acampamentos com sua mãe, pai e irmãos e trabalha com a missão 'AMAR', oferecendo-se para ir a Londres e testemunhar a situação de seu povo. Dois de seus irmãos e duas irmãs ainda são mantidos como prisioneiros pelo Estado islâmico.

"Não é uma vida, não viveremos uma vida até que o resto do nosso povo seja liberado pelo 'Daesh", disse Alawsi.

"Peço-lhes para ajudar o meu povo, para salvá-los do 'Daesh', e libertar especialmente as escravas sexuais, os jovens e as crianças que foram sequestrados".


Teologia do estupro
Já em 2015, o Estado Islâmico chocou o mundo ao ter sua 'teologia do estupro' revelada pelo jornal New York Times. Segundo estes 'princípios estabelecidos' pelo grupo terrorista, contextos específicos poderiam justificar - inclusive com base no próprio Corão - que uma mulher seja submetida à escravidão sexual.

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