“A guerra não é só física, mas espiritual”, diz cantora moçambicana sobre ataques no país

Em entrevista ao Guiame, a cantora moçambicana Selma Uamusse falou sobre o panorama do país e sua trajetória na música em Portugal.

Fonte: Guiame, Luana NovaesAtualizado: sexta-feira, 11 de setembro de 2020 às 14:07
Cantora moçambicana Selma Uamusse em entrevista ao Guiame por videoconferência. (Foto: Guiame)
Cantora moçambicana Selma Uamusse em entrevista ao Guiame por videoconferência. (Foto: Guiame)

Nascida em Moçambique e com uma vida construída em Portugal, a cantora Selma Uamusse não deixou de ser uma voz para a África. Em entrevista ao Guiame, ela falou sobre a situação em Cabo Delgado, que têm vivido uma escalada de violência nos últimos anos.

“Na região de Cabo Delgado, o islamismo está muito presente. O que tem acontecido nos últimos anos, principalmente desde 2017 até agora, é que essa região — que já era ocupada por muçulmanos, mas não necessariamente extremistas — tem sido atacada por insurgentes que reivindicam ser parte de um grupo extremista islâmico e têm feito movimentos radicais, como a exterminação de aldeias, incendiando casas, cortando cabeças e degolando pessoas”, disse a cantora.

O ponto crítico é que “essa ocupação está sendo feita de arma na cabeça: ou a pessoa se converte para o Islã e faz parte dessa milícia, ou então é morta”, alerta a cantora. 

Embora o conflito envolva aspectos econômicos, políticos e sociais, Selma acredita que também há uma batalha espiritual em Cabo Delgado. “Há uma guerra que não é apenas física, mas há uma guerra espiritual também”, destaca.

“São ataques muito violentos, são de uma ordem muito desumana. Não passa apenas por um tiro, mas passa por coisas muito violentas, como queimar pessoas vivas, cortar cabeças. É muito doloroso, meu coração se move de compaixão por essas famílias que estão vendo seus pastores [sendo alvejados], porque há um ataque muito grande especialmente às entidades cristãs”, Selma acrescentou.

Música como ferramenta

Desde que passou a ter a música como profissão, Selma usa sua visibilidade na música, especialmente em Portugal, para também transformar a sociedade e abordar temas importantes como este.

Nascida em Maputo, capital moçambicana, Selma não vem de uma família cristã. “Meus avós eram cristãos, mas meus pais fizeram parte de uma geração que viveu o movimento de independência pós-colonial, muito ligado ao comunismo, então não tiveram nenhuma orientação religiosa”, disse ela. 

“Mas aos 12 anos, eu comecei a sentir uma chamada e disse para a minha mãe que Deus estava falando comigo. Ela achou super estranho, porque não tínhamos essa cultura dentro de casa”, lembra Selma. 

Veja a entrevista completa abaixo:

Na época, ela começou a fazer catequese na Igreja Católica e a se interessar pela vida de Jesus. “Mas aos poucos fui me desligando, porque, principalmente no lugar onde eu estava, percebi que as pessoas não praticavam aquilo que era ensinado”, ela conta.

Mas aos 18 anos, um convite mudou a vida de Selma para sempre. Morando em Portugal desde os 14 anos e estudando Engenharia, ela foi convidada para a festa de aniversário de uma prima. A aniversariante também resolveu convidar um evangelista que elas consideravam “maluco” para a reunião.

No final da festa de aniversário, todos foram embora e Carlos ficou. Ele se ofereceu para fazer uma oração pela prima de Selma e começou a cantar um louvor. “Aquilo tocou de imediato no meu coração. Eu também comecei a cantar de forma improvisada e senti o toque de Deus e comecei a chorar”, lembra.

Selma se envolveu em um grupo de ensaios de um coral gospel e seu “coração foi começando a mudar e fui começando a entender que Deus queria falar comigo através da música”.

Os pais de Selma pais viram a transformação em sua vida e também se entregaram a Jesus. Ela continuou estudando Engenharia e atuou na área até 2010, mas passou a encarar a música como profissão desde então. 

“Tudo o que eu faço é de inspiração cristã, mas busco alcançar outras pessoas, principalmente no meio artístico, que é muito afastado do cristianismo”, conta Selma. “Uso a música como ferramenta para tocar o coração das pessoas e fazê-las sentir o Deus que há em mim”.

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