Nesta segunda-feira (23), a Igreja da Escócia aprovou o casamento gay durante sua Assembleia Geral. A denominação protestante, de orientação reformada e afiliada ao presbiterianismo, sancionou uma nova lei, permitindo que seus ministros celebrem casamentos de pessoas do mesmo sexo.
A mudança também retirou as palavras “marido” e “esposa” da Lei de Reconhecimento de Serviços de Casamento, de 1977. Agora, a legislação afirma que:
"A solenização do casamento na Igreja da Escócia é realizada por um ministro ou diácono ordenado em uma cerimônia religiosa em que, diante de Deus, e na presença do ministro ou diácono e pelo menos duas testemunhas competentes, as partes se comprometem a tomar um ao outro em casamento enquanto ambos viverem, e o ministro ou diácono declara que as partes estão casadas".
O casamento gay na denominação protestante recebeu 274 votos a favor e 136 contra. Segundo o relatório da Assembleia, 29 presbitérios apoiaram a mudança e catorze se opuseram, declarando que "o que está sendo proposto é contrário ao ensino das Escrituras e causaria mais divisão dentro da Igreja da Escócia".
Durante o debate, os defensores do casamento homoafetivo argumentaram que a denominação estava prejudicando os “cristãos LGBT” ao impedir que se casassem na igreja, "tornando as pessoas indesejadas".
O reverendo Scott Rennie, que está em uma relação homossexual e que luta pela aceitação de ministros gays na igreja há 13 anos, afirmou que estava animado com a aprovação da maioria.
“Meu casamento com meu marido, Dave, nutre minha vida e meu ministério e, francamente, não acho que poderia ser um ministro desta igreja sem seu amor e apoio”, ressaltou Rennie.
Outro ministro, Craig Dobney, revelou que mudou de posição, antes contrária ao casamento homoafetivo, após ser rejeitado por sua comunidade local ao se recusar a ordenar um clérigo gay.
“Eu me preocupo que nossas igrejas tenham se tornado irrelevantes para nossas comunidades”, disse.
Decisão antibíblica
Muitos membros da Assembleia Geral se manifestaram contra a aprovação, lembrando que a nova legislação não era bíblica.
O reverendo Phil Gunn, ministro da Igreja Paroquial de Rosskeen, afirmou que a Igreja da Escócia estava "afirmando em alto e bom som que a Bíblia, a Palavra de Deus, não é mais nossa autoridade, que não há problema em escolhermos o que gostamos e ignorar o resto, que não há problema em reescrever as Escrituras para que pareçam boas aos olhos de uma sociedade que já pensa que somos hipócritas".
O reverendo Alistair Cook também protestou contra a medida, declarando que continuará se referindo ao casamento como a união entre um homem e uma mulher. Para ele, a questão não é uma escolha individual dos ministros, mas se trata de um posicionamento da denominação.
“Essa é uma mudança teológica profunda para a igreja”, lamentou ele.
Já o reverendo Ben Thorp chamou atenção para a divisão e tensão que a mudança vai causar na igreja. E lembrou que os ministros e presbitérios que são contrários poderão se tornar alvos de ativistas LGBT.
"Não será o fim da jornada. Isso não vai parar o declínio da igreja. Não nos tornará subitamente mais atraentes para os mais jovens. Continuaremos divididos”, avaliou Ben.
A votação da Assembleia Geral acontece em um contexto de queda no número de casamentos e de membros da instituição.
A Igreja da Escócia é a segunda demonimação protestante no país a aprovar o casamento gay. A primeira foi Igreja Episcopal Escocesa, que é anglicana, que aprovou a união homoafetiva em 2017, contrariando a posição bíblica de sua irmã, a Igreja da Inglaterra.
De acordo com o The Guardian, a Igreja do País Gales indicou que pode seguir o mesmo caminho nos próximos anos. Os Metodistas, Quakers e a Igreja Reformada Unida já realizam cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo.
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