Às vésperas do Reino Unido continuar o debate sobre a legalização da eutanásia na Câmara dos Lordes, o ex-primeiro ministro Gordon Brown alertou que a aprovar o suicídio assitido "minaria a santidade da vida".
Em artigo ao jornal The Times, Brown afirmou que a legalização representaria um risco muito grande para os vulneráveis e prejudicaria a confiança médico-paciente.
"Se a morte se tornasse não apenas uma opção, mas algo próximo a um direito por meio dos processos burocráticos que uma lei do Parlamento impõe, estaríamos, em minha opinião, alterando fundamentalmente a maneira como pensamos sobre a mortalidade", disse Gordon.
“O risco de pressões, por mais sutis e indiretas que sejam, sobre os frágeis e vulneráveis, que podem sentir que sua existência é pesada para os outros, nunca pode ser totalmente excluído. E a inevitável erosão da confiança nas profissões de cuidado — se elas estivessem em posição de acabar com a vida — seria a perda de algo muito precioso”.
O Projeto de Lei da Morte Assistida, apresentado pela Baronesa Molly Christine Meacher, será discutido pela segunda vez na Câmara dos Lordes nesta sexta-feira (22). A proposta quer permitir o suicídio assistido para adultos com doenças terminais com menos de seis meses de vida, sob autorização de dois médicos e um juiz do Tribunal Superior.
Líderes religiosos do Reino Unido também se manifestaram contra a legalização da eutanásia. Numa carta conjunta, o Arcebispo de Canterbury, o chefe da Igreja Católica Romana na Inglaterra e País de Gales e o Rabino Chefe Ephraim Mirvis pediram a valorização da vida como dom de Deus, ao invés da valorização da morte.
“Todas as pessoas de fé, e as sem, podem compartilhar de nossa preocupação de que o bem comum não seja servido por políticas ou ações que colocariam muitas pessoas vulneráveis em posições mais vulneráveis”, diz a carta
"Apelamos a pessoas de qualquer fé ou crença para se juntarem a nós através de nosso elo comum de humanidade no cuidado das pessoas mais vulneráveis em nossa sociedade”.
Mais de 1.700 médicos e enfermeiras do Reino Unido também protestaram contra o projeto de lei, enviando uma carta ao secretário da Saúde, Sajid Javid. No documento, os profissionais declaram que se recusarão a participar de suicídios assistidos se a prática for legalizada.
“A mudança de preservar a vida para tirar a vida é enorme e não deve ser minimizada. Não tiraríamos a vida dos pacientes — mesmo que eles nos pedissem — mas pelo bem de todos nós, e para as gerações futuras, pedimos que a lei permaneça inalterada”, escreveram.
“Como profissionais de saúde, temos o dever legal de cuidar da segurança e do bem-estar de nossos pacientes. Escrevemos com grande preocupação em relação à introdução de um projeto de lei para legalizar o suicídio assistido”.
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