Missionária de 85 anos é hostilizada por pregar no aeroporto de Brasília

Dona Isaura Lima Lopes foi insultada por um advogado por causa de sua pregação. O vídeo foi registrado pelo cantor sertanejo Higor Moraes.

Fonte: Guiame, com informações do MetrópolesAtualizado: quarta-feira, 30 de dezembro de 2020 às 13:55
Missionária de 85 anos foi insultada por pregar no aeroporto de Brasília. (Foto: Instagram/Higor Moraes)
Missionária de 85 anos foi insultada por pregar no aeroporto de Brasília. (Foto: Instagram/Higor Moraes)

Uma missionária de 85 anos, que tem dedicado seus dias levando o Evangelho a passageiros e funcionários do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, foi humilhada na última sexta-feira (25) por um homem que se identificou falsamente como delegado da Polícia Federal.

Em um vídeo gravado pelo cantor e influenciador digital Higor Moraes, que fazia uma rápida conexão em Brasília para chegar até Goiânia, o advogado e servidor da Caixa Econômica Federal, Edson Pereira da Silva, aparece insultando a dona Isaura Lima Lopes.

Nas imagens, o artista aparece elogiando o trabalho de 25 anos da missionária até que é interrompido pelo falso delegado, que passa a reclamar da pregação no local. “Sou delegado da [Polícia] Federal e sei jogar no lixo ou no hospício”, disse o advogado.

Inconformado com o insulto, Higor Moraes rebateu: “Não, se você é delegado, o problema é seu. Eu acho que você tem que ter respeito”. Em resposta, o advogado disse: “Mas para ficar ouvindo essa merda, não. Nós estamos aqui em um ambiente público”. O artista continuou: “Se é público, ela tem o mesmo direito que você tem”.

Veja o vídeo:

Higor Moraes, de 27 anos, é um cantor sertanejo maranhense radicado em São Paulo. Ele conheceu a missionária Isaura em sua rápida conexão em Brasília e ficou impactado por sua atuação.

“Fiquei apaixonado por ela, pela força dela. Que bonito levar esse trabalho sem receber nada em troca, apenas tocando a fé das pessoas”, disse ele em entrevista à coluna Janela Indiscreta, do Metrópoles.

Dona Isaura é vista por muitos como indigente ou até mesmo portadora de distúrbios mentais. No entanto, o cantor explica que a altura da pregação é pelo problema auditivo da idosa.

“Eu estava conversando com ela, e por estar falando alto, justamente pelo problema de audição dela, acabou chamando a atenção daquele homem, que foi o único a reclamar. Fiquei muito indignado com a reação dele porque, mesmo sendo delegado ou presidente da República, ninguém pode tratar alguém daquela forma, ainda mais uma senhora de mais de 80 anos”, afirmou.

Surda desde os 38 anos, Dona Isaura carrega uma Bíblia e cartazes para pregar a palavra de Deus. Ela costuma falar alto pelo local, com certa dificuldade, usando a escrita para se expressar melhor.

Dona Isaura nasceu no município de Goiana, em Pernambuco, e não tem contato com a família. A mãe morreu quando ainda tinha 11 anos. Depois de 40 anos viajando de cidade em cidade, ela chegou no Distrito Federal em 1992 e começou a frequentar o aeroporto no ano seguinte. “A partir daí, comecei a servir a Deus e costumo dizer que sou guiada por Ele”, disse a idosa ao Metrópoles.

 
Sem ouvir desde os 38 anos, Dona Isaura carrega a Bíblia e cartazes. (Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles)

Repercussão

Por causa da confusão no aeroporto, o cantor acabou perdendo o voo para Goiânia e sendo realocado em outra aeronave por funcionários da Latam, que se solidarizaram com a situação. 

Depois que as imagens foram publicadas no Instagram de Higor Moraes, houve uma grande repercussão. Em nota, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) manifestaram indignação com o episódio.

“Diante da confirmação oficial, por parte da Polícia Federal, de que o cidadão que afrontou a senhora idosa não faz parte dos quadros da carreira, haverá a partir de agora a busca pela sua devida identificação para que responda na justiça pelos danos causados à imagem de todos os membros da categoria”.

A Caixa Econômica Federal informou ter tomado conhecimento da matéria veiculada pelo Metrópoles e esclareceu “que está apurando o ocorrido a fim de avaliar a aplicação de eventuais medidas administrativas” contra o funcionário.

“A Caixa reforça seu compromisso com o respeito, a cordialidade e a inclusão, bem como repudia qualquer tipo de discriminação ou ato de violência, seja ela física ou verbal”, comunicou.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) também se posicionou sobre o caso, afirmando que “não compactua com qualquer ato de discriminação e pune, por meio de seu Tribunal de Ética, quaisquer desvios éticos de seus inscritos”. 

“Com relação ao caso em tela, se instada, seguirá o protocolo”, disse Délio Lins e Silva Jr, presidente da Seccional do Distrito Federal da entidade.

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