Noruega implementa nova proibição para pregação em escolas

Recentemente, uma nova lei na Noruega está proibindo a realização de cultos e atividades cristãs nas escolas.

Há anos, instituições de ensino no país levam seus alunos à igreja na época do Natal. No entanto, na última semana, escolas públicas em Trondheim foram surpreendidas com uma carta onde o diretor municipal de educação, Svein Johny Forren, afirmou que ir a um culto na igreja com os estudantes não era mais permitido.

A mudança na Lei de Educação da Noruega ocorreu em agosto passado. Agora, a lei proíbe a pregação do Evangelho em escolas.

A proibição se aplica a todas as disciplinas do ensino primário e secundário. Anteriormente, uma proibição de pregação se aplicava apenas à disciplina KRLE — disciplina obrigatória na escola que ensina sobre o Cristianismo e outras religiões mundiais.

Christian Lomsdalen, presidente da Human-Ethical Association (HEF), afirmou que organizar um culto escolar é uma violação da proibição legal:

“Não há disposições que permitam exceções a essa proibição, nem mesmo para cultos escolares. E a própria Igreja da Noruega disse que um culto escolar é o mesmo que uma pregação”.

Depois de várias escolas decidirem cancelar os cultos que já haviam planejado para o Natal, a Ministra da Educação da Noruega, Kari Nessa Nordtun, esclareceu ao portal Vart Land que os cultos escolares não fazem parte da proibição e, portanto, ainda são permitidos. 

“As escolas têm a oportunidade de oferecer serviços escolares aos alunos que desejam participar”, declarou a ministra.

“A celebração do Natal e as tradições associadas a ela são importantes para muitas pessoas, incluindo muitas que não se consideram cristãs”, acrescentou. 

Nordtun destacou que aprender sobre o Natal “tanto como um feriado cristão como uma herança cultural comum” é importante.

Pregação

Após a repercussão do caso, Kjell Ingolf Ropstad, do Partido Democrata Cristão, criticou a campanha da HEF contra os cultos escolares a chamando de "nada além de desinformação" e pediu que a Igreja se posicione.

Audun Raen, Secretário Geral da Kristne Friskolers Forbund (KFF), contou que o problema com a nova lei é que “ninguém realmente sabe o que é pregação”.

“Toda escola contém pregação. Se você frequentasse uma aula de ciências em uma escola pública, você também ouviria pregação”, disse Raen à CNE.news. 

“Você aprenderá como o mundo se desenvolveu sem Deus. Isso também é um tipo de pregação, embora ninguém a chame assim. Se ensinamos sobre as origens da Terra e incluímos Deus em nossa lição, então, de repente, é pregação. Eu acho que o governo entende mal o que exatamente significa pregação. Você sempre terá isso de alguma forma na educação”, acrescentou.

Apesar da falta de clareza, Raen não vê escolas indo ao tribunal por organizar um culto escolar. Ele acredita que as palavras da ministra de educação oferecem às escolas uma proteção legal, pois “é a interpretação da lei”. 

Além disso, ele observou que os professores na Noruega já são muito cuidadosos para deixar a fé de fora na sala de aula. 

“Até mesmo professores cristãos em escolas públicas mantêm a boca fechada, pois têm medo de dizer algo errado”, compartilhou ele.

Educação cristã no país

De acordo com Raen, as escolas cristãs não precisam se preocupar com as mudanças na Lei da Educação:

“A ideia das escolas particulares é que elas são bem diferentes das escolas públicas. Portanto, as escolas cristãs devem ser cristãs para poderem existir. Portanto, nossas escolas têm a obrigação de ensinar o cristianismo como uma disciplina”.

O portal CNE.news informou que na Noruega, há cerca de 150 escolas cristãs. A maioria delas tem uma filiação à Kristne Friskolers Forbund, a organização que apoia escolas cristãs. 

A educação cristã no país consiste em escolas primárias, escolas secundárias, escolas secundárias superiores e até mesmo escolas vocacionais. No total, há cerca de 16.000 alunos e estudantes que frequentam uma escola cristã.

A educação cristã é permitida no país, e os professores podem orar com seus alunos. As escolas se enquadram na Lei da Escola Privada, que permite que uma escola particular aprovada por motivos religiosos ensine essa religião na instituição.

No entanto, em 2023, uma nova regulamentação foi acrescentada à Lei da Escola Privada que dá aos municípios um papel decisivo na autorização da criação dessas escolas. Quando as autoridades locais se opõem, essa decisão costuma ser respeitada na maioria das vezes.

Conforme Raen, isso dificulta a criação de uma escola cristã no país: “Realmente depende de quão liberais as autoridades locais são”.